Chico Sant’Anna*
Nesta campanha eleitoral, o senador Rodrigo Rollemberg partiu de 7% e alcançou 45% dos votos válidos computados no Distrito Federal.
A vitória, em primeiro turno, foi um feito importante. Ele se apresentava como uma força jovem, uma mudança com toques de esquerda, embora sua coligação abrigasse de forma camuflada o conservador PSD de Rosso e Kassab.
O êxito do primeiro turno, contudo, está longe de colocá-lo como franco favorito para a vitória final na sucessão ao governo do Distrito Federal, apesar de seu oponente da chapa do rorizismo/arrudismo, Jofran Frejat, ter alcançado apenas 28% dos votos.
A paisagem eleitoral surgida ao final do primeiro turno não é a melhor que poderia ter se materializado para Rollemberg. Melhor teria sido a vitória, em plano nacional, de Marina Silva e, no plano local, a segunda colocação para Agnelo Queiroz, que acabou em terceiro lugar com 20% dos votos. Se este cenário tivesse ocorrido, Rollemberg, por encarnar o antipetismo, herdaria facilmente os votos de Frejat e não seria obrigado a ter que escolher entre Aécio Neves e Dilma Roussef.
O candidato do PSB precisa agora manter os 45% de votos que conquistou e angariar, pelo menos, mais 6%. Onde encontrar esses 6% é que são elas. O PSDB de Pitiman – quarto lugar, com 68.305 votos, 4,46% -, certamente migrará para Frejat. O ex-secretário de Saúde já está conversando, em plano nacional, com os tucanos federais.
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Grande parte da estrutura que apoiava Agnelo Queiroz está migrando para a chapa Frejat/Arruda. O PEN e o PHS já o fizeram formalmente. O PP de Paulo Octávio e Paulo Maluf, que também era da “Turma de Agnelo”, devem marchar rumo ao ninho dos arrudistas. Quanto ao PMDB de Tadeu Filippelli, a direção partidária deu ordem de marcar passo e esperar um melhor detalhamento do cenário para então se posicionar. Entretanto, é sabido que lideranças e bases do vice-governador já estão se deslocando por gravidade para o campo da direita.
A Rodrigo Rollemberg restaria colher os votos obtidos pelo PT e pelo PSOL. Toninho do Psol foi o quinto colocado, com 34.689 votos. 2,26%. A executiva do partido se reuniu na quarta-feira (8) e emitiu nota oficial informando ser incompatível qualquer diálogo com a candidatura de Frejat, “candidato do grupo político de Roriz e Arruda, responsáveis pela implantação de diversas políticas nefastas e corruptas, de um projeto de DF desigual e em confronto com os direitos humanos. Frejat está associado a um dos maiores ficha-sujas da história recente do país, que utiliza da boa fé do povo para continuar com seus desmandos”.
Mas o rechaço a Frejat não representa apoio ao PSB.
“A candidatura de Rollemberg, deu sinais de que seguirá o mesmo caminho da velha política. O PSB e Rollemberg foram base dos governos Arruda e Agnelo, e tudo indica que comporão um governo mediante indicações fisiológicas dos parlamentares eleitos pelos grupos conservadores da cidade, que controlam a política local em oposição a uma gestão republicana e participativa, e a uma cidade democrática em que se garanta a igualdade social e o respeito à diversidade humana” – diz o documento do Psol.
Por isso, o partido optou por não apoiar “nem a dupla ficha suja Frejat-Arruda, nem a falsa nova política de Rollemberg no segundo turno do DF. Nosso caminho está com as ruas. Seja quem for eleito, continuaremos lutando ao lado da juventude e dos trabalhadores pela construção de uma sociedade mais justa e igualitária”.
Para ganhar as eleições do próximo dia 26 de outubro Rollemberg terá então que atrair os eleitores do PT. Dois Chicos petistas já se pronunciaram: Chico Leite declarou apoio a Rollemberg e Chico Vigilante negou tal ajuda. O PSB nacional, por sua vez, não facilitou essa tarefa. Por ampla maioria de votos de sua direção, fez a opção à direita e apoiará Aécio Neves. A adesão de Rodrigo Rollemberg à candidatura tucana de Aécio pode afastar segmentos progressistas de seu eleitorado. Em Brasília, o PSDB está intimamente ligado a Roriz e Arruda, em especial com Maria Abadia e Pitiman. A posição do PSB deve unificar a postura do PT candango em não apoiar Frejat, nem Rollemberg.
A coordenação de campanha do PSB-DF diz que não irá procurar nenhuma das forças políticas, que elas, se desejarem, que tomem essa iniciativa. Como então, conquistar os votos petistas necessários para obter a maioria dos votos? Tudo parece conspirar contra o senador socialista. Sua única saída será tentar ganhar o eleitorado numa comunicação direta com os cidadãos.
A polarização Aécio e Dilma, contudo, vai tornar esta tarefa muito difícil, e esse cenário favorece o candidato do rorizismo/arrudismo, Jofran Frejat. Se Rollemberg não souber mover as pedras certas, arregimentando forças progressistas em torno de sua candidatura, poderá permitir o retorno do arrudismo ao Buriti, quem sabe até com José Roberto Arruda – expurgado no processo eleitoral pela ação do PSOL – ocupando a secretaria de Governo.
* Chico Sant’Anna é jornalista profissional, documentarista, mora em Brasília desde 1958