Ao menos 31,5% das prefeituras serão administradas por homens e mulheres que se autodeclaram pardos ou pretos. Os dados são do Tribunal Superior Eleitoral, compilados pelo portal Gênero e Número.
Na soma das 25 capitais que tiveram eleições no domingo (15), mulheres e homens pretos ou pardos serão 44% dos vereadores nestas cidades. O levantamento considera a mesma classificação do IBGE, que considera negros tanto os autodeclarados pretos como pardos. Esta é a segunda eleição municipal em que a Justiça eleitoral pediu que os candidatos declarassem sua cor/raça no momento do registro da candidatura.
Distribuição de recursos
Apesar de serem maioria, as candidaturas negras receberam menos recursos dos fundos públicos que as brancas. A plataforma 72 horas mostra que os negros e negras receberam 36,8% do total dos valores repassados pelo fundo especial de financiamento de campanhas, o chamado fundo eleitoral, e pelo fundo partidário. As pessoas autodeclaradas brancas ficaram com 62,5%.
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A Câmara mais negra – e a menos
Palmas, capital do estado do Tocantins, é a cidade com maior quantidade de vereadores negros eleitos. Das 18 cadeiras, apenas uma é ocupada por alguém que se autodeclarou branco. Cuiabá (MT) elegeu 76% de negros para a câmara municipal. Já na capital de população mais negra do país, Salvador (BA), 70% dos vereadores eleitos são negros. Na outra ponta, a capital com a câmara municipal mais branca do Brasil será Florianópolis. Todas as 23 cadeiras serão ocupadas por pessoas brancas.
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Para a historiadora e pesquisadora de relações raciais e de gênero, professora Wânia Sant’Anna, o crescimento da participação negra na política institucional é uma realidade. Esse avanço, acredita ela, fará com que os partidos políticos repensem a forma de encarar a população negra. “Essas pessoas até então não tinham voto. A negritude na política é um legado conquistado, não vamos retroceder ”, ressalta a ativista, uma das titulares da coluna Olhares Negros, do Congresso em Foco.
A professora pontua a necessidade de as candidaturas eleitas estarem voltadas fundamentalmente para a superação de desigualdades etnicorraciais e para o enfrentamento ao racismo. “Ao eleger-se pessoas negras, a representatividade parlamentar quantitativa é importante, porém, o que está realmente em questão é o posicionamento ideológico e estrutural que essas pessoas levam para dentro das câmaras”, afirma.
Tainá de Paula (PT) foi uma das vereadoras mais votadas na cidade do Rio de Janeiro. Arquiteta e urbanista, a jovem discute, dentre outras coisas, monitorar áreas de maior violência para as mulheres, fiscalizar iluminação, acessibilidades, e fomentar a cultura e o emprego. “A gente precisa denunciar a situação dos trabalhadores informais da cidade, da precarização do trabalho e do aumento de acirramento da guarda”, diz
Violência
Dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública demonstram que a cada 100 pessoas assassinadas no Brasil, 75 são negras. Entre 2007 e 2017, o número de homicídios de negros cresceu 33,1% enquanto o de não negros aumentou 3,3%. As mulheres negras morrem mais de forma violenta. Em 2017, 66% das mulheres vítimas de homicídio eram negras. Mulheres negras também sofrem mais com violência sexual. Eram 51% das vítimas de estupro entre 2017 e 2018.
A cientista política Flavia Bozza, colaboradora da Gênero e Número, reforça que, em se tratando de um Estado democrático, nem todas as candidaturas foram pautadas nas ideologias ditas progressistas. Muitas das candidaturas são pessoas de direita, ou centro que, segundo Bozza. “Não se comprometeram em falar ou a pautar as questões trazidas pelo movimento negro.”
Reeleito, Fernando Holiday (Patriota) foi um dos vereadores mais votados da cidade de São Paulo (SP). Vindo de Carapicuíba, ele é um rapaz negro, gay que se posiciona contra políticas afirmativas como as cotas para negros em universidades. Ligado ao MBL, ele também é a favor da reforma da Previdência. Em sua campanha o jovem disse: “O movimento negro vai ter que chorar de pé, pois essa cadeira é minha”.
Flávia Bozza afirma que todo esse movimento é fruto de uma participação maior da negritude em uma política que não era representativa. “Então, com essa eleição, vale a pena entender em que espectro ideológico essas candidaturas estão situadas. A democracia se faz disso”, conclui.
Thaís Rodrigues é repórter do Programa de Diversidade nas Redações realizado pela Énois – Laboratório de Jornalismo, com o apoio do Google News Initiative.
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