Cada um tem sua história pessoal e suas circunstâncias temporais dadas por cada um dos momentos vividos.
Nasci para a vida comunitária, social e política aos 16 anos, lutando por uma educação melhor e liderando a primeira passeata e greve pós-1968 em minha cidade, Juiz de Fora. Jamais suportaria a ausência absoluta de uma política educacional ativa e transformadora.
Aos 19, como coordenador do Diretório Acadêmico (DA) de Economia da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), lutei pela democracia e fui dirigente do Comitê Brasileiro da Anistia, o que me rendeu um processo baseado na Lei de Segurança Nacional. Ainda jovem, virei réu, por crime de opinião, junto com outros parceiros de caminhada. O horror às ditaduras amadurecia cada vez mais.
Naquele mesmo ano, fizemos coleta de dinheiro e alimentos em favor dos metalúrgicos do ABC, então em greve e sem salários. Aos 20 anos, virei presidente do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da UFJF. Reconstruímos a União Nacional dos Estudantes (UNE) e a União Estadual dos Estudantes de Minas Gerais (UEE-MG).
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Aprofundei minha luta pela agenda democrática: anistia ampla geral e irrestrita, Constituinte livre e soberana e eleições diretas para presidente. Me elegi vereador aos 22 anos, em 1982, fruto da militância na frente democrática. Minhas referências na época: Ulysses Guimarães, Teotônio Vilela, Tancredo Neves, Franco Montoro, Mário Covas e FHC.
Coordenei as diretas-já e o comitê por uma Constituinte livre e soberana em Juiz de Fora. Sempre estive em campo alternativo ao PT, embora estivéssemos juntos na luta pela democracia, no movimento estudantil: frente ao colégio eleitoral em 1985; diante do apoio à Constituição de 1988; em relação ao governo de união nacional de Itamar Franco e à defesa do Plano Real. A única vez em que votei em Lula foi no segundo turno de 1989, contra Collor. A história nos deu razão.
PublicidadeComo primeiro presidente municipal do PSDB, em 1989, organizei a festa “Tucano que é tucano vai ao encontro das estrelas” e redigi a resolução municipal de apoio que serviria de base à decisão do PSDB de Minas e do Brasil, já que Pimenta da Veiga e Mario Covas gostaram do texto. Como secretário estadual de planejamento de Minas, chefe de gabinete do Ministério da Comunicações e secretário executivo do Ministério do Meio Ambiente, acompanhei a forte oposição do PT ao PSDB, de 1995 a 2002. O partido via no governo FHC uma suposta “herança maldita”.
Como secretário estadual de saúde de Minas Gerais, cooperei com todas as prefeituras, inclusive as do PT, e com o Ministério da Saúde, já no governo Lula. Mas o embate entre PSDB e PT não foi arquivado e chegou ao ápice na sucessão presidencial do 2014, quando fui um dos coordenadores de nossa campanha no segundo turno. Fui deputado de oposição ao governo Dilma, dentro de um comportamento crítico, firme, respeitoso e cooperativo. Por incrível que pareça para o Brasil atual, isto é possível: divergir, dialogando.
Depois todos sabem a sequência. A partir das jornadas de 2013 seguiram-se a maior recessão da história, crise fiscal aguda, Lava Jato, impeachment de Dilma Rousseff, reformas e crise do governo Temer etc. Vieram o terremoto e a revolta popular contra a “velha política” em 2018 (não existe velha ou nova política, existe boa ou má). Sou fundador do PSDB, um dos primeiros vereadores tucanos do Brasil em 1988, primeiro presidente do PSDB em Juiz Fora, presidente estadual em Minas por quatro anos e secretário-geral nacional em 2017/19. Deputado estadual por quatro anos e federal por oito.
Desde os 16 anos o que me orientou foram o espírito público e os interesses populares e nacionais. Em 2018, liderei um manifesto em favor da unidade do polo do centro democrático, impulsionado por FHC e por Cristovam Buarque. Deu no tsunami político da autodenominada “nova política”.
Em 2022, atuei fortemente pela terceira via, convicto de que a atual polarização, radical e estéril, não seria o melhor caminho. Tropeçamos na travessia. A configuração do segundo turno é uma escolha irrecorrível e soberana do eleitorado brasileiro. É verdade que o PT e Lula cometeram muitos erros. Bolsonaro também. É um cenário de escolha plebiscitária determinado pela sociedade. Corrupção não diferencia os dois polos em disputa. Pesam sobre os dois campos diversas graves denúncias, que merecem apuração do MP, da Polícia Federal e o pronunciamento do Poder Judiciário. A criminalização e a judicialização da política não são positivas para a solução das grandes questões nacionais. Política é política, crime é crime, são esferas diferentes. Nem o enfraquecimento das instituições republicanas e democráticas, o que seria o primeiro passo para inaceitáveis retrocessos autoritários. Erros na política econômica são muitos, de todos os lados.
Minha vida pública e minha militância política, nos últimos 46 anos, foram orientadas pela defesa da liberdade e da democracia; pelo combate às desigualdades através de políticas públicas sociais ativas, seja na transferência de renda, na educação ou na saúde pública; pela defesa do desenvolvimento sustentável que concilie crescimento com preservação do meio ambiente; e, pela defesa dos direitos humanos contra todas as discriminações raciais, étnicas, sexuais e sociais. Fui secretário estadual de Saúde e não esqueço que o Brasil tem 2,7% da população global e 10,5% das mortes no mundo por covid graças à péssima gestão da pandemia.
Leitor de obras contemporâneas como Por que as nações fracassam (de Daron Acemoglu e James A. Robinson), Como as democracias morrem (Steven Levitsky e Daniel Ziblatt) e Os engenheiros do caos (Giuliano da Empoli), sei bem os riscos que estamos correndo.
Diante das angustiantes interrogações que se colocam no horizonte brasileiro, coerente com a minha história pessoal e com minhas convicções ligadas à social-democracia contemporânea, vou votar em LULA no segundo turno, certo de que precisamos retomar o diálogo nacional no âmbito do Congresso Nacional e da sociedade brasileira, para superarmos este esgarçamento radical do tecido social brasileiro, dividido ao meio, e construirmos os consensos progressivos necessários para avançar.
Me perdoem os amigos que são movidos por um antipetismo compreensível, mas às vezes irracional. Espero que Lula e o PT consigam fazer a leitura correta do quadro político e social de 2022, realizar uma saudável autocrítica sobre os erros do passado e superar o seu tradicional exclusivismo político. Mas não tenho dúvidas que a melhor alternativa em defesa da liberdade, da democracia, do meio ambiente, da educação de qualidade, do SUS como conquista civilizatória, da cultura de paz e dos direitos humanos, é votar LULA, 13, no próximo dia 30 de outubro.
O populismo autoritário, as ameaças de retrocesso político e institucional, a ausência de políticas públicas essenciais e o falso liberalismo bastardo não oferecem a perspectiva que o Brasil precisa e merece.
Lula e Alckmin, diante de um Congresso plural, fragmentado e diverso e das angústias presentes no seio da sociedade, saberão, com suas histórias e experiências pessoais, liderar o grande diálogo nacional para pacificar o país, unir forças e gerar o ambiente necessário para a retomada do desenvolvimento inclusivo e sustentável.
Por tudo isso, no segundo turno, votarei em LULA.
Simples assim! Ou não tão simples para alguns.
O momento não permite omissões. Nunca me omiti. Em 2026, uma nova geração de lideranças virá, e para pavimentar o caminho, precisamos agora de uma ponte para o futuro. E essa ponte agora é o voto em Lula.
Abraço fraterno e respeitoso em todos e todas que concordam ou não com a minha visão! O Brasil é maior que todos nós e a vida não acaba em 2022!
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