O primeiro debate entre os presidenciáveis, na Band, teve audiência baixíssima. Foi fragorosamente derrotado pelo jogo entre o Internacional e o São Paulo na semifinal da Taça Libertadores, transmitido pela Globo. Além disso, entre os candidatos no debate, quem se destacou foi alguém que tem traço ou, no máximo, 1% nas pesquisas de intenção de voto. Ora, se pouca gente viu, e se boa parte de quem viu gostou de alguém que está praticamente fora da disputa, quem, de fato, venceu o debate? Quem tinha mais a perder e saiu, por conta dessas duas circunstâncias citadas acima, ilesa de tudo. Ou seja: Dilma Rousseff, a candidata do PT.
Será preciso ser petista de carteirinha, daqueles que já perderam a noção da realidade (e desconfio que alguns assim acabarão aparecendo aqui na seção de comentários) para considerar que Dilma tenha tido uma boa atuação no debate. Nervosa, prolixa, Dilma não conseguiu ter concisão para completar as respostas na maioria das ocasiões. Ela melhorou na segunda metade do debate, quando ficou ainda mais forte a polarização entre ela e José Serra, do PSDB. Sua sorte é que Serra, de forma surpreendente para quem já tem sua tarimba, também estava nervoso. Não conseguiu aproveitar-se do momento em que sua adversária parecia mais tensa. Até de certa forma ajudou Dilma no começo permitindo a ela completar a resposta sobre o que faria em segurança pública, educação e saúde, que tinha deixado inconclusa. Marina Silva, do PV, imprensada pela polarização entre os dois, não conseguiu deixar claras quais são suas diferenças com relação à dupla que lidera as eleições.
Ficou aberto, então, o terreno para Plínio de Arruda Sampaio, do Psol. Ao contrário de Dilma, principalmente, ele não tinha absolutamente nada a perder. Tudo o que viesse para ele, a partir do fato de simplesmente estar sentado ali, já era lucro. Por isso, Plínio estava absolutamente à vontade. E, aí, é óbvio que ganhou. Se antes era desconhecido da grande maioria do eleitorado, e deixou de ser, ganhou. Se antes não aparecia na mídia e depois passou a ser acompanhado nos noticiários até das emissoras concorrentes, ganhou. Se passar de 1% das intenções de voto nas pesquisas para 2%, continuará sendo um candidato sem qualquer chance de vencer, mas terá tido um crescimento de 100% no seu desempenho eleitoral. Ganhará.
Mas o que temos de considerar é que o debate entre os candidatos não é um programa televisivo em si. Ele é parte do contexto que levará alguém a se eleger presidente ou não. E é nesse sentido que, no final, a maior vantagem foi de Dilma. Pouquíssimas pessoas viram que ela estava nervosa e não conseguia completar as respostas. Os que viram testemunharam que seu principal adversário, Serra, não conseguiu aproveitar-se disso de forma substantiva. Quem se aproveitou foi um velhinho simpático com umas ideias estranhas de quem a grande maioria nunca ou muito pouco tinha ouvido falar antes. Visto por poucos, tendo se destacado um candidato que era traço, o efeito do debate da Band nas pesquisas eleitorais provavelmente será nenhum. O que não muda, portanto, beneficia quem está na frente, é claro.
O que ficou então, para Dilma, foi um bom treino, com os adversários em campo, para buscar corrigir seus erros para os debates e aparições posteriores. A assessoria de Dilma comemorou um bocado o resultado do debate. Não porque acharam que ela tenha arrasado. Um pouco pelo raciocínio descrito acima, e um pouco por conta dos bastidores anteriores à rodada da Band. Eles insistiram para treinar melhor Dilma. Insistiram em fazer com ela um treinamento pesado, com saias-justas e armadilhas. Especialmente para treinar a capacidade de concisão, que já haviam identificado como um problema. Dilma resistiu. Autossuficiente, julgava-se preparada. Agora, eles ganharam argumentos para prepará-la melhor para as ocasiões seguintes. Sem que ela tenha tido, de fato, um prejuízo muito grande.
Porque o próximo embate pode não vir a ser tão moleza assim. Se na Band desenrolou-se um debate longo e às vezes chato, onde houve agitação foi na internet e sua redes sociais. Na internet, o debate aconteceu. O próximo encontro entre os presidenciáveis, dia 18 de agosto, será justamente na rede, no debate promovido pelo UOL e pela Folha de S. Paulo. O Congresso em Foco será um dos veículos que irão transmiti-lo ao vivo. Interação, perguntas de internautas, uso de várias mídias. Durante o dia, sem concorrência com clássico de futebol. Não será prudente contar-se com a baixa audiência e com o auxílio de um franco-atirador como aliados. Se o debate da Band foi amistoso de luxo, para testar estratégias e corrigir-se os erros, o próximo tende a ser jogo duro, pra valer.
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