A Polícia Federal (PF) afirmou, nesta sexta-feira (6), não ter encontrado indícios que comprovem o crime contra indígenas na comunidade de Aracaçá, localizada na Terra Indígena Yanomami, em Roraima.
“Posso assegurar que a investigação segue para que esse fato não ocorreu”, afirmou o delegado Daniel Ramos, responsável pelo caso. A apuração ainda não está concluída, pois a PF aguarda o laudo das cinzas coletadas de uma cabana queimada.
No dia 25 de abril, o presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Ye’kwana (Condisi-YY), Júnior Hekurari Yanomami, fez a denúncia do crime nas redes sociais. Segundo o relato, uma criança yanomami teria sido estuprada e morta por garimpeiros ilegais; enquanto outra teria caído no rio Uraricoera durante o ataque à comunidade.
Juntamente com uma equipe do Condisi-YY, agentes do Ministério Público Federal, da Funai e da Polícia Federal se deslocaram até a comunidade no dia 27. Segundo informações divulgadas, a equipe não encontrou os indígenas, e uma das cabanas do local estava queimada.
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“Após extensas diligências e levantamentos de informações com indígenas da comunidade, não foram encontrados indícios da prática dos crimes de homicídio e estupro ou de óbito por afogamento”, afirmou a PF por meio de nota publicada no dia 28.
Cadê os Yanomamis?
Nas redes sociais, usuários começaram a questionar o paradeiro dos Yanomamis e cobraram atitudes das autoridades responsáveis. Na abertura da sessão do Supremo Tribunal Federal (STF) dessa quinta-feira (5), a ministra Cármen Lúcia se manifestou sobre o ocorrido.
“Não é possível calar ou se omitir diante do descalabro de desumanidades criminosamente impostas às mulheres brasileiras, dentre as quais mais ainda as indígenas, que estão sendo mortas pela ferocidade desumana e incontida de alguns”, afirmou a ministra.
Segundo o jornal Folha de São Paulo, Hekurari informou à Polícia Federal, nessa quinta, que alguns yanomamis haviam sido encontrados. De acordo com o líder indígena, membros da comunidade se mudaram para outros locais na terra indígena e parte reside na comunidade Palimiú.
Nesta sexta-feira (6), Dário Kopenawa Yanomami, vice-presidente da Hutukara Associação Yanomami (HAY), publicou no Twitter uma nota sobre a repercussão do caso e o histórico de violência que a comunidade Aracaçá sofreu devido ao avanço do garimpo ilegal.
“Nos últimos dias, a Hutukara vem tentando reconstruir os eventos denunciados pelos Yanomamis e, embora não tenha reunido informações suficientes para esclarecer a ocorrência ou não do crime denunciado, recolheu informações que revelam um grave histórico de tragédias associadas ao garimpo na comunidade”, destaca a nota.
Segundo a nota, na tradição cultural Yanomami, o corpo e os pertences dos mortos são incinerados, o que dificultaria a localização dos restos mortais da possível vítima de assassinato.
“Precisamos impedir a tragédia humanitária que está se passando com o Yanomami. Queremos ver nossas famílias novamente saudáveis e em segurança. Isso só será possível com a desintrusão do garimpo ilegal da Terra Indígena Yanomami e sua proteção permanente contra novas invasões”, complementa a nota.
Confira a íntegra da nota:
Hutukara Associação Yanomami está divulgando uma NATA PÚBLICA DA ARACAÇÁ!@funaioficial @STF_oficial @DireitosH @jairbolsonaro @GeneralMourao @JoeniaWapichana #goragarimpo pic.twitter.com/Nw4vluprYE
— Dário Kopenawa Yanomami (@Dario_Kopenawa) May 6, 2022