Marivaldo Pereira *
Neste dia 8 de março, vamos para as ruas do Brasil e do mundo inteiro para lutar contra a violência de gênero, a discriminação e a intolerância cometidas, diariamente, contra as mulheres em todo o planeta.
Provavelmente, a maioria das mulheres ucranianas não participará desses atos que acontecem em escala global. Estarão recolhidas nos bunkers — abrigos antibombas — protegendo a si mesmas e aos seus familiares dos mísseis e dos tanques russos que ocuparam o país do leste europeu. Outras tantas estarão tentando fugir de sua nação, de ônibus, de trem, ou mesmo a pé, muitas vezes com crianças no colo, para sobreviverem, como refugiadas, em outros países. Deixarão para trás seus lares, seus sonhos, sua história.
Solidários ao drama humanitário enfrentado pelas ucranianas e ucranianos que fogem do horror da guerra, muitos brasileiros que vivem em outros países da Europa criaram campanhas de doação e estão atravessando a fronteira com a Ucrânia para levar água, remédios e alimentos e para oferecer carona aos que, no auge do desespero, tentam escapar da morte eminente.
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Nas vésperas do 8 de março, o deputado estadual Arthur do Val — o “Mamãe Falei” —, candidato de Sérgio Moro ao governo de São Paulo, também esteve na Ucrânia, mas não foi em missão de paz. Para ampliar seus likes nas redes sociais, ocupou seu tempo tirando fotos, sorrindo, ao lado dos coquetéis molotov que os moradores de Kiev preparam para se defender dos invasores. Insensível ao sofrimento e ao drama que atinge a população daquele país, o parlamentar do Podemos (SP) publicou mensagens misóginas em grupos de WhatsApp do Movimento Brasil Livre.
Arthur do Val mentiu para seus eleitores quando disse que estava na capital ucraniana para combater os russos. Protótipo de uma escória política fascista cuja fala autoritária e machista legitima e naturaliza a violência contra a mulher — discurso sexista este, aliás, compartilhado por Putin —, o deputado paulista atravessou o oceano Atlântico para se aproveitar do sofrimento de um povo e angariar likes.
PublicidadeAliado de Moro, o deputado construiu sua carreira enaltecendo e reafirmando o individualismo, o elitismo, o racismo, a misoginia e o machismo, ideias que são a espinha dorsal do movimento político ao qual pertence e que estão fortemente presentes nos áudios que vieram a público.
Arthur do Val não viajou à Ucrânia para se solidarizar com a população vitimada pela guerra. Suas falas comprovam sua indiferença com o sofrimento do povo ucraniano e mostraram ao mundo o tipo de postura com a qual as mulheres do nosso país têm que lidar cotidianamente.
A objetificação do corpo feminino é responsável por milhares de casos de violência contra a mulher e de feminicídios em nosso país, vitimando, principalmente, mulheres negras. A defesa da superioridade em razão da raça e da classe social são traços marcantes da elite brasileira e são responsáveis pela banalização da violência contra a mulher, que, no Brasil, tem como alvo principal a mulher negra, responsável por chefiar a maioria das famílias em nosso país.
Não é mera coincidência o fato de a extrema direita, da qual o parlamentar faz parte, ser contrária à adoção de medidas que enfrentem este problema, sobretudo aquelas que permitiriam sua abordagem no ambiente escolar.
Que o assombro da sociedade com as falas de Arthur do Val sirva para sua cassação e para exigirmos a adoção de políticas públicas para que posturas como a dele deixem de ser naturalizadas.
A sociedade espera que a Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo cumpra seu dever institucional e casse o mandato de Arthur do Val por, no exercício do mandato, deixar de lado os interesses da população que deveria representar para aproveitar-se da situação de extrema fragilidade de um país para subjugar e explorar suas mulheres, a pretexto de realizar uma ação humanitária.
A conduta do deputado não apenas afrontou o decoro da ALESP, mas também envergonhou a população brasileira, solidária ao sofrimento do povo ucraniano.
A sociedade espera e deve cobrar a punição do deputado, em respeito à luta das mulheres, ao decoro da casa e à retomada de parâmetros mínimos de valores civilizatórios que perdemos com a ascensão da extrema direita.
* Marivaldo Pereira é advogado e presidente do Psol-DF.
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