O PT passou o segundo turno sendo atacado por ter apoiado, inclusive materialmente, a ditadura venezuelana. A contra-argumentação é de que eleições minimamente livres confirmam a soberania popular, fiadora suficiente da democracia. Com a vitória de Bolsonaro, a não ser que existam sinais claros e inequívocos de autoritarismo, se o PT passar a chamar injustificadamente o governo eleito de “ditadura”, vai confirmar que a pregação eleitoral do partido era somente retórica de campanha.
Do mesmo modo, a não ser que tentativas flagrantes de golpe contra a ordem constitucional se verifiquem, se o governo começar a tratar a oposição como subversiva, articulando a diminuição das vozes divergentes, assim como é a prática do governo dos nossos vizinhos, saberemos que o apreço pela democracia – que, pelo insistente exemplo contrário, a campanha vencedora afirmou prezar – não passou de conversa mole para conquistar votos para o PSL de Bolsonaro.
Em suma, se não tivermos importantes sinais de que há tentativas de ruptura da ordem democrática, PT e Bolsonaro fariam bem se parassem com os discursos vazios e tratassem de produzir uma política mais responsável, com um pouco mais de dignidade e espírito público. Essa reprodução de discursos extremados sobre qualquer tema polêmico, explorados sempre de modo a gerar apoio eleitoral fácil e pouco refletido, deveria causar constrangimento, pois todos são publicamente contra as notícias falsas. E a exploração tendenciosa, quase desvirtuante, de notícias verdadeiras?
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O vale-tudo é quase um mantra nessas horas, pois, como dizem, guerra é guerra. As campanhas usaram toda a sorte de mentiras e chantagens para estimular artificialmente comportamentos baseados em ódios e medos, que influenciassem a decisão do eleitor a seu favor. Depois da ressaca moral, está na hora de o PT e o PSL articularem suas posições como oposição e situação, segundo regras republicanas de convivência. A resposta indignada que as urnas deram aos últimos anos da vida pública brasileira deve ser levada a sério.
Para falar a verdade, quase ninguém aguenta mais os políticos e partidos de sempre. E isso também vale para aqueles que apenas aparentemente “chegaram agora”. Houve renovação real, sim. Apareceu gente jovem – não apenas na idade – que pode fazer a diferença. O compromisso agora, entretanto, precisa ser com a cidadania. É hora de trabalhar para que problemas que afligem a todos os brasileiros sejam equacionados.
Eleitoralmente, não há mal em estrategistas políticos já pensarem em 2022. No entanto, está mais que na hora de situação e oposição pensarem no país. Em nome do Brasil, trabalhem, pois essa campanha acabou!
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