O aumento no preço de matérias-primas e insumos está afetando a indústria de transformação brasileira. Em alguns casos mais graves, mais que aumento há falta mesmo dos materiais, impedindo a produção. Esse é o cenário apontado na Nota Econômica 23, pesquisa realizada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) com os diferentes setores industriais.
Para o consumidor em geral, a consequência dessa situação é que as indústrias repassam o aumento do custo para os seus produtos. Ou simplesmente desaceleram ou mesmo suspendem a produção. O resultado é inflação. Que se reflete na insatisfação do eleitor. E acaba afetando a corrida eleitoral, especialmente o desempenho do governo, a cerca de dois meses das eleições.
A pesquisa mede a percepção da indústria nos meses de abril e junho. A resposta de 22 de 25 segmentos industriais pesquisados é de que a alta ou a falta de insumos e matérias-primas afetou a produção.
No segundo trimestre deste ano, 71,7% das indústrias no setor de Impressão e Reprodução alegaram que a dificuldade com insumos foi o principal problema. No setor de Produtos de Limpeza, Perfumaria e Higiene Pessoal, 70% colocaram a falta ou o alto custo dos insumos em primeiro lugar na lista. Essa dificuldade prejudicou 69,8% das indústrias de Veículos automotores, 68,3% dos Calçados e suas partes, 66% das indústrias de Bebidas, 63,3% de Produtos de borracha e 62,5% dos Farmoquímicos e farmacêuticos.
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A economista da CNI Paula Verlangeiro explica que, aproximadamente, metade da produção industrial é consumida como insumo pela própria indústria. Assim, a falta ou o alto custo de insumos se dissemina por toda a cadeia de produção, seja com aumento de preços ou redução da produção, até chegar ao consumidor.
As causas são, explica Paula Verlangeiro, a crise provocada pela pandemia de covid-19, a guerra entre Rússia e Ucrânia e os severos lockdowns na China, em função também da pandemia. Os dois últimos fatores atrasaram a normalização das cadeias de insumos globais, que ainda não haviam se recuperado totalmente dos choques causados pela covid. Assim, além de dificultarem a recuperação da produção industrial, também contribuíram para pressionar mais os preços e aumentar a inflação global. A expectativa, segundo pesquisa da CNI com empresários, é de normalização apenas em 2023.
“Diante disso, as principais consequências são dificuldades em recuperar – ou manter – a produção, o aumento dos preços de insumos e dos custos nas cadeias de produção, além dos aumentos nos preços dos bens de consumo e a maior pressão sobre a inflação”, explica a economista.
Madeira, fármacos, têxteis e calçados
Na comparação entre o primeiro e o segundo trimestre de 2022, os setores que registraram maiores altas na preocupação com a falta ou alto preço da matéria-prima foram: Madeira (8p.p.), Farmoquímicos e farmacêuticos (7,5 p.p.), Têxteis (6,0 p.p.) e Calçados e suas partes (5,8 p.p.). Para esses setores, há maior dificuldade no rearranjo dos insumos.
No cenário de inflação elevada, o principal remédio do Bando Central é elevar a taxa básica de juros, Selic, com impacto em todas as taxas de juros do país, como as cobradas nos empréstimos, nos financiamentos e em aplicações financeiras. Em menos de um ano e meio, a Selic passou de 2,00% para 13,25%, alta considerada excessiva pelo setor industrial, que pode provocar efeitos negativos sobre a produção, o consumo e o emprego.
Esse aumento explica o fato de a preocupação com a taxa de juros voltar ao topo dos problemas depois de mais de seis anos sendo pouco assinalada pelos empresários industriais. No ranking dos setores, 16 dos 25 setores industriais situam os juros entre os cinco principais problemas enfrentados. Os setores Produtos diversos e Veículos automotores elencaram essa questão na segunda posição do ranking. Os setores de Alimentos, Madeira, Máquinas e equipamentos, Máquina e materiais elétricos, Metalurgia, Têxteis e Vestuário e acessórios consideraram que esse item ocupa o terceiro lugar.
Veja aqui a íntegra da Nota Econômica da CNI: