Desde menino queria ser guerreiro. Mesmo sem condições físicas enfrentava garotos maiores mesmo que em grupos. Ficava todo machucado, mas gritava, jogava pedras, paus, garrafas até que algum adulto interferisse e acabasse com a briga. Não se dava por vencido.
Adulto, entrou para a academia militar. Formou-se em educação física e logo virou instrutor da sua turma. Formado, escolheu ser paraquedista e soldado da selva. Não era líder nem o melhor, mas era o mais resistente e resiliente.
Ousado e prepotente, não foi longe na carreira. Do lado de fora, entrou para a política, conseguindo ser eleito. Foi vereador, deputado federal e presidente da República. Quase ninguém o conhecia. Ficou famoso quando, em campanha, surgiu nos aeroportos carregado por seguidores, até que foi atingido por uma facada. Sobreviveu e adotou Deus como seu único protetor.
Seu agressor foi preso como doente mental e internado por tempo indeterminado.
No seu governo tornou-se figura considerada fora da normalidade. Uns o chamavam de doido, outros de irresponsável e homofóbico.
Titular da Presidência, enfrentava todo mundo sempre com discurso religioso e messiânico.
O povo gostou! Não fazia acordo espúrios até que chegou a pandemia. Falou tantas asneiras que o mundo inteiro o achava um falastrão.
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Determinou a conclusão de obras de outros dirigentes que inaugurava como se ele tivesse feito tudo. A partir daí sua vida se tornou um inferno, como se o seu Deus tivesse o abandonado; ele nunca o abandonou.
Próximo às eleições esculhambava qualquer um que achasse seu inimigo. Dizia achar a função de presidente uma droga, mas fez coisas que nenhum outro presidente tenha feito. Pilotava jet-ski, comia pastel na rua, deixava sua segurança desesperada, aglomerava o povo e saía em motociatas pelo país inteiro. Rezava, falava palavrão, insinuava homofobia e ria sem parar. Gostava de ser presidente, esta é a verdade.
No primeiro turno ficou em primeiro lugar; no segundo foi derrotado fragorosamente pelo seu adversário, possuidor de imensa folha corrida apagada num passe de mágica.
Durante seu governo afirmava que só sairia do palácio morto; como não morrera no atentado que sofreu na campanha que o elegeu.
Durante os dias que faltavam para passar a faixa presidencial ao vencedor, ficava acordado deitado nos jardins do palácio suplicando aos céus por solução. Voltou às ruas sem seguranças, comeu pastel com caldo de cana, conversou com seus eleitores reafirmando que era um enviado do seu deus e que só sairia da presidência morto.
Não recebendo nenhuma mensagem de esperança, decidiu cumprir um desejo que não conseguira realizar por força das normas de segurança: saltar de paraquedas.
Só, foi para Boituva, interior de São Paulo e famosa por suas escolas de paraquedismo e voos de balões. Chegou calmamente, sendo recebido por instrutores que, seus eleitores, o abraçaram afetuosamente. Pediu para rever as instruções do salto. Um dos presentes sugeriu que ele pulasse com um instrutor. Deu sua risada estridente, respondendo que era PQD e Selva. Ninguém retrucou., afinal, ainda era o presidente.
No avião, equipado, sentou-se aguardando a sua vez. O pessoal foi saltando. Ele era o penúltimo, atrás dele saltaria o campeão mundial de salto livre.
Saltou, abriu os braços e controlou com maestria a queda. O campeão ficou por perto. Os dois, lado a lado até o momento de abrir os paraquedas. O Campeão seguiu o protocolo, acionou o paraquedas, subiu um pouco e ficou olhando o presidente flanar entra as nuvens. Em terra, todos aguardavam o acionamento do paraquedas verde e amarelo.
O presidente, ao invés de descer, subiu, subiu, até sumir entre as nuvens que ficaram cinzas até que nuvens negras e pesadas desabaram em violenta tempestade.
Em terra, as pessoas atônitas esperavam o reaparecimento do presidente. Não reapareceu e para sempre ficou a lenda como a de Don Sebastião, Rei de Portugal, que desapareceu em campo de batalha e não encontraram seu corpo. Seus súditos do Alto de Santa Catarina, em Lisboa, “ficavam a ver navios”.
No caso de Messias, em todas as partes onde havia saltos se tornou ponto de espera do presidente desaparecido. A multidão, diariamente, ficava a olhar o paraquedas, esperando o presidente.
Houve uma grande crise política, as eleições foram anuladas pela Suprema Corte e, o eleito, se homiziou em Caracas, Venezuela.
O texto é mera ficção e não se refere a nenhum personagem atual.
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