Quando criou o PSD, o ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab teve coragem de dizer com todas as letras que seu partido não seria “nem de esquerda, nem de direita nem de centro”. Num momento em que a disputa política brasileira já apontava para a grande polarização que se verificou, e que acabou levando à vitória da direita em 2018 com Jair Bolsonaro, Kassab dizia que estava criando um partido que não tinha no cerne das suas preocupações a questão ideológica. Ele apontava, portanto, claramente para a hipótese de a sua legenda poder transitar por qualquer via, de acordo com a sua conveniência.
Assim, não é algo que deva exatamente surpreender ver que nesses momentos preliminares da corrida eleitoral de 2022, o PSD de Gilberto Kassab consegue estar de alguma forma em todas as posições possíveis ao mesmo tempo.
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O PSD é o partido do ministro das Comunicações, Fábio Faria. Ou seja: está dentro do governo de Jair Bolsonaro, que tenta a reeleição. Mas é também o partido do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (MG), que ensaia a possibilidade de vir a ser candidato à Presidência da República. Assim, está também na terceira via. E consegue ainda a proeza de manter conexões para entregar o candidato à vice-presidência na chapa de Luiz Inácio Lula da Silva, do PT.
Lula vem conversando com o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin para tê-lo como seu candidato a vice. Alckmin foi o candidato do PSDB à Presidência contra Lula em 2006, quando o petista foi reeleito. Foi ao segundo turno contra ele, e conseguiu a façanha de ter no segundo turno menos votos do que teve no primeiro, por alguns erros de estratégia. A possibilidade de aliança poderia dar a Lula a perna conservadora que ele precisa para se ampliar, um José Alencar agora inclusive com mais inserção política do que tinha o empresário que foi seu vice-presidente.
Dois partidos podem ser o destino de Alckmin: o PSB ou o PSD de Kassab. Há quem diga que se ele optar pelo PSD será porque definiu-se por disputar o governo de São Paulo e não ser vice de Lula, uma vez que o partido de Kassab já tem um candidato à Presidência. Será mesmo? Parece bem cedo para dizer. Já quando criou seu partido com a premissa de que ele não seria nem de direita nem de esquerda nem de centro, Kassab já demonstrava que o único “ismo” que pretendia seguir era o pragmatismo.
Tudo dependerá dos cálculos que vierem a ser feitos até abril do ano que vem, quando o quadro eleitoral mais bem se define, com as desincompatibilizações. Por enquanto, Kassab sofistica a tática de ter um pé em cada canoa. Bípede, ele consegue manter o pé em três canoas. É uma feito quase mágico.