Como discutimos nos últimos artigos, algo deu muito errado nos últimos 42 anos e o Brasil foi desviado da rota do crescimento acelerado que marcou sua trajetória econômica de 1930 a 1980, com taxa média de crescimento de 7% ao ano. O trem saiu dos trilhos, e, nas últimas décadas, alternamos anos de alto crescimento com recessões recorrentes.
O Plano Real, a Lei de Responsabilidade Fiscal, a retirada dos “cadáveres do armário”, as privatizações, o tripé macroeconômico – metas de inflação, câmbio flutuante e equilíbrio fiscal – são avanços inegáveis, mas não conseguiram assegurar a retomada do crescimento vigoroso dos anos dourados do capitalismo brasileiro. E, sem geração ampliada de riqueza, renda e emprego, o combate às desigualdades fica muito mais difícil.
Na última semana levantei três linhas iniciais explicativas: o baixo desempenho nos planos da educação e da ciência e tecnologia, num momento em que a economia contemporânea transitava para a sociedade do conhecimento e da inovação; a convivência com uma inflação cronicamente aguda entre os anos 1980 e 1994, o que nos roubou uma década e meia pela desorganização produzida por um quadro à beira da hiperinflação; e, a crise fiscal estrutural que foi explicitada após a estabilização da economia, inibindo investimentos públicos, vetor essencial do crescimento nos tempos de Vargas, JK e Geisel.
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Mas o que pode explicar o modesto desenvolvimento econômico recente do país são múltiplas causas, e hoje especulo mais algumas.
Certamente, a falta de seletividade foi uma delas. O processo de substituição de importações foi longe demais. Quando o governo brasileiro resolveu enfrentar a crise de 1974 com endividamento externo, aproveitando a alta liquidez internacional proporcionada pelos petrodólares, para investir pesado na expansão das empresas estatais e na infraestrutura, a ideologia que inspirava o Segundo PND de Geisel tinha como horizonte, no limite, a internalização de quase todas as cadeias produtivas e a consolidação de um país quase autossuficiente, fechado e pouco dependente do comércio internacional. Para contrapor um exemplo: a Coreia do Sul não só apostou alto em educação de qualidade, para fortalecer a disponibilidade de capital humano qualificado, e no desenvolvimento tecnológico como motor da inovação e da competitividade, mirando a integração no mundo globalizado, como fez apostas em poucos setores e empresas. Apesar da intensa ação governamental, as “campeãs nacionais” coreanas como Samsung, Hyundai, Hanwha, POSCO e LG, entre outras, são ancoradas na integração global de uma economia aberta, na competividade e na inovação, e não em benesses estatais ou proteção exacerbada.
Isso realça outra opção equivocada do Brasil. Não percebemos que a globalização impunha novos paradigmas e desafios. Escala, qualidade, eficiência, produtividade, competitividade seriam essenciais para garantir a integração aos grandes fluxos econômicos e comerciais no mundo globalizado, realidade que marcou o fim do século 20 e o início do 21. Reafirmamos a opção pelo fechamento e o protecionismo. Sobre este tema, sugiro a leitura dos artigos e entrevistas do professor Edmar Bacha localizados no site da Casa das Garças.
PublicidadeConcluirei esta reflexão sobre o desenvolvimento brasileiro recente na próxima semana.
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