É difícil imaginar o que ainda falta ser feito no bojo das relações entre as igrejas evangélicas e o bolsonarismo. Mas, como o Brasil vem mostrando total desapego a qualquer concepção de limites, podemos esperar que o ápice da campanha eleitoral nas igrejas se dê nesse final de semana, nos templos, e ao longo da semana que vem – a última antes da votação – nas redes.
Isso segue a lógica que identifiquei ao longo de anos de pesquisa campo, entre mestrado e doutorado: a intensificação da mobilização eleitoral pelas igrejas se dá na reta final da eleição, na última semana antes do pleito. Essa lógica deve ser reforçada pelo estado particular da disputa atual: Bolsonaro, levemente atrás, tem pouco a perder intensificando a campanha religiosa.
Em situação mais favorável, seria incentivado a ser comedido, pois, sempre que a pauta religiosa é intensificada, ela pode gerar efeito reverso – o fiel sente que sua fé está sendo usada e deixa de apoiar o candidato pretensamente religioso.
A dúvida que permanece é sobre o que pode ainda ser feito ou falado que convença aqueles que ainda não foram convencidos a votar em Bolsonaro, com toda a mobilização que já ocorreu até aqui. Por conta, aliás, da alta intensidade da campanha religiosa desde março, podemos estimar que o atual presidente está ou muito próximo ou já no teto das intenções de voto no segmento evangélico.
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Não resta dúvidas, no entanto, que essa campanha impactará profundamente o campo religioso brasileiro. Os evangélicos, ainda que plurais, heterogêneos e dinâmicos, se tornaram o principal segmento popular de apoio à reeleição de Bolsonaro.
Mais do que isso, trouxeram a pauta religiosa e moral para o centro do debate público e forneceram as lideranças das suas principais igrejas como figuras públicas da linha de frente do bolsonarismo. Caminharam, nesse sentido, para aproximar sua identidade religiosa à identidade política bolsonarista.
PublicidadeÚtil para os planos de reeleição do presidente. Mas, ao que tudo indica, um problema futuro para igrejas – e, que fique claro, não porque haja qualquer risco de perseguição a elas, mas sim pelo impacto que gerará nas suas imagens.
*Os textos publicados pelo Observatório Evangélico trazem a opinião e análise dos autores e não refletem, necessariamente, a visão dos demais curadores ou da equipe do site.
* Vinicius do Valle é doutor e mestre em Ciência Política pela Universidade de São Paulo (USP). Graduado em Ciências Sociais pela mesma Universidade (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas – USP). Realiza pesquisa de campo junto a evangélicos há mais de 10 anos. É autor, entre outros trabalhos, de Entre a Religião e o Lulismo, publicado pela editora Recriar (2019). É diretor do Observatório Evangélico, e atua na pós-graduação no Instituto Europeu de Design (IED) e em outras instituições, ministrando disciplinas relacionadas à cultura contemporânea e a métodos qualitativos, além de realizar pesquisas e consultoria sobre comportamento político e opinião pública. Está no Twitter (@valle_viniciuss).
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