Coordenador da campanha do candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, no Distrito Federal, o ex-deputado Geraldo Magela tenta na reta final da campanha manter uma delicada administração no estado de ânimo da sua militância. Por um lado, precisa conter entusiasmos muito exagerados diante da perspectiva de uma vitória no primeiro turno, como vêm apontando as pesquisas. Por outro, precisa evitar que aconteça uma frustração grande caso a eleição presidencial acabe não se resolvendo no dia 2 de outubro e se prolongue por mais algumas semanas no segundo turno.
Porque o que as pesquisas mostram é que a possibilidade de haver ou não segundo turno é no momento como um suspiro. Mais curto ou mais longo, muda tudo. Lula aparece com uma possibilidade de votos válidos entre 50% e 52%, dependendo das pesquisas. Ou seja, dentro do limite da margem de erro de todas os levantamentos.
Veja aqui o comentário em vídeo:
Assim, o que definirá se a eleição termina agora no domingo ou não é o tamanho da inegável onda em favor de Lula que se formou nos últimos dias. E o tamanho de fato da presença do eleitor, o grau de abstenção. Hoje, uma das preocupações da campanha é semelhante ao que houve nos Estados Unidos na eleição de Joe Biden: garantir a presença do eleitor no domingo.
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Algumas adesões anunciadas recentemente dão bem a dimensão dessa onda. Como o implacável relator da Ação Penal 470, a ação do mensalão, Joaquim Barbosa. Ou o emblemático caso dos irmãos do candidato do PDT, Ciro Gomes. Nem mais o senador Cid Gomes e o prefeito de Sobral, Ivo Gomes, estão a essa altura com Ciro. Estão fazendo campanha no Ceará para o candidato do PT, ao governo, Elmano de Freitas, o que, na prática, sinaliza apoio a Lula.
A verdade é que a essa altura Lula tornou-se maior do que ele mesmo. Diante do que as pesquisas expressam ser a vontade da sociedade, tornou-se o elemento aglutinador para garantir que o Brasil não retroceda mais no caminho rumo à democracia plena que iniciou em 1985, quando pôs fim a mais de vinte anos de ditadura militar. Não retroceda mais, porque alguns retrocessos já aconteceram. Democracia plena não é somente o direito de ir até as urnas escolher candidatos. Quando de novo há gente sem conseguir comer todos os dias, estamos de novo longe da democracia plena.
A administração, portanto, do estado de ânimo da militância diante de um quadro que ainda é incerto é a primeira preocupação de Magela. Manter a todos mobilizados na eventualidade de termos mais uns dias de campanha e disputa política. Uma situação que, por outro lado, ativará os ânimos do adversário.
A segunda preocupação está relacionada ao entendimento dessa necessidade de ampla arregimentação de aliados para além do campo tradicional de parceiros do PT. “Lula sabe, e é o que está fazendo, que tem que ampliar ao máximo as conversas”, diz Magela.
Algo que pode ser de difícil compreensão para alguns. Talvez provoque até algumas reviravoltas no próprio íntimo de Lula, depois de tudo o que ele próprio passou. O autor do pedido de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, Miguel Reale Jr., apoia Lula a essa altura. Trata-se somente de um exemplo de quem nos últimos anos contribuiu para a retirada do PT do poder por vias que não foram as do voto. De quem pode ter contribuído para o país chegar onde chegou, mas essa não deve ser a discussão agora. “Creio que a maioria compreende bem isso. Basta vez a própria reação à escolha de Geraldo Alckmin como vice, que foi muito pequena”, avalia Magela.
A terceira grande preocupação diz respeito à oposição que Lula terá que enfrentar, caso de fato vença a eleição. Que tem conformações muito diferentes daquelas que Lula e o PT enfrentaram em seus governos anteriores, quando o adversário era o PSDB. “O PSDB formava maioria a partir de apoios em setores da sociedade como o empresariado, parte da imprensa. Mas não tinha militância”, diz o coordenador da campanha de Lula no DF.
Lula agora, se for eleito, enfrentará uma oposição com uma capacidade pelo menos equivalente de levar pessoas às ruas àquela que sempre teve o PT. Com uma capacidade aparentemente maior que a do PT de levar gente às ruas virtuais das redes sociais, a grande novidade que Lula e o PT não enfrentaram quando governaram antes.
Magela acha, porém, que poderá haver alguma fragmentação na aglutinação em torno de Bolsonaro. Especialmente caso Lula vença mesmo no primeiro turno. Ele teria sido um nome escolhido pela extrema-direita – até internacional – por força das circunstâncias, e não de fato o líder desse segmento. Na verdade, algumas reações extremadas, como as do ex-ministro da Educação Abraham Weintraub, já sinalizariam isso.
De qualquer modo, haverá ainda diversos desafios a serem enfrentados. Seja nos próximos dias, seja nos próximos meses, seja nos próximos anos. Não vamos circular por uma Auto-Bahn alemã. Estaremos mais para uma Transamazônica…