Pouco tempo atrás, muitas pessoas perguntavam se, aqui no Brasil, vivenciaríamos um momento tão ridículo e criminoso, quanto o que os americanos do norte vivenciaram diante da derrota de Donald Trump e eleição de Joe Biden.
Os ataques à democracia nos Estados Unidos, em que pese as investidas constantes ao longo do mandato de Trump, e meses de questionamento das eleições em que foi derrotado, foram concentrados de uma maneira mais visível e apoteótica no dia da reunião conjunta das casas legislativas que visava a proclamação do resultado das eleições e a confirmação de Biden como presidente vitorioso. O mundo assistiu estarrecido à invasão e ataque ao “Capitólio”, como é conhecido o prédio do Congresso americano.
Quando olhamos para o Brasil, temos no quase ex-presidente da República Jair Bolsonaro um personagem semelhante ao ex-presidente americano Donald Trump, na estética, na forma e no conteúdo, que vem ao longo do mandato protagonizando ataques à democracia por ações e omissões.
No caso brasileiro, durou muito tempo a conivência e a naturalização do seu comportamento autoritário em detrimento dos princípios democráticos: a maioria das instituições brasileiras e inicialmente alguns setores da imprensa limitavam-se a tentar contê-lo com a publicação de notinhas de repúdio.
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Posteriormente, após a escalada autoritária e sem rédeas, estava-se criando um contexto cada vez mais difícil à manutenção do regime democrático brasileiro, até que, pela força do voto, decidiu-se no Brasil pela preservação da democracia, graças a uma aliança extraordinária construída por Luis Inácio Lula da Silva, que, unindo os divergentes para combater os antagônicos, foi eleito presidente pela terceira vez.
PublicidadeE desde o primeiro dia da derrota de Jair Bolsonaro, que não teve a hombridade de reconhecer o resultado, o país que já vivia em estado permanente de tensão, não teve um minuto de paz. Inconformados e insuflados pelo seu líder por meio de discursos com mensagens cifradas e silêncio conivente, bolsonaristas que já cometiam diariamente o crime de ataque ao regime democrático, passaram a praticar atos de terrorismo e o pior: com a cobertura institucional.
Como se não bastassem os bloqueios de estradas sem o amparo em causas justas e orações nas portas dos quartéis das forças armadas pedindo golpe militar, além das cenas pitorescas de clamor a extraterrestres com o celular na cabeça, no último dia 12 de dezembro de 2022, Brasília, a capital federal brasileira, foi palco de ataques terroristas praticados por bolsonaristas que incendiaram dois ônibus, dez carros particulares e tentaram invadir a sede da Polícia Federal.
Tal episódio ocorreu justamente no mesmo dia da diplomação do presidente eleito, que é um ato da Justiça Eleitoral, com o mesmo sentido de legitimação do resultado das urnas, como no caso do Capitólio nos Estados Unidos.
Mesmo diante da clara identificação de muitos integrantes, até o momento, três dias depois, ninguém foi preso. A pergunta agora, que ecoa aos quatro cantos do mundo é: o que esperar no dia da posse? Não se pode subestimar a mistura perigosa de financiadores que atuam nos bastidores para patrocinar o caos, com o ódio acumulado por bolsonaristas que vivem em realidades paralelas e são capazes de qualquer coisa, inclusive matar.
Muito já tem sido feito pela justiça eleitoral para coibir esses atos, mas o Judiciário sozinho não será capaz de debelá-los. Incrivelmente, a omissão do Executivo e das polícias competentes tem autorizado tacitamente essa afronta diária ao Estado Democrático de Direito. Não se pode tolerar a intolerância ou a naturalização de crimes, muito menos esquecer dos que estão por trás. A impunidade encoraja e empodera esses ataques desmedidos e vale destacar que muitos desses episódios, por mais grotescos que o sejam em algumas ocasiões, não são ações aleatórias e descoordenadas. Há voz de comando e financiamento.
Estão pagando pelos carros, estruturas de tendas, hospedagens e alimentação de centenas de pessoas. Há ações coordenadas por meio das plataformas de redes e mídias sociais digitais, que, mais do que nunca, precisam ser regulamentadas. Há fabricantes de notícias falsas sendo acoitados no Palácio do Planalto, e quando não, foragidos nos Estados Unidos.
A vontade da maioria do povo brasileiro já foi expressa nas urnas, mas, apesar disso, a democracia brasileira continua sendo atacada por dentro e por fora das próprias instituições. Está ficando cada vez mais claro que o “Capitólio” prolongado no Brasil, conta com os incentivos do presidente da República Jair Bolsonaro e de infiltrados em diversos órgãos de governo que têm operado para criar um ambiente de instabilidade no país e que o caos fabricado parece ter o objetivo de tornar o próximo governo vulnerável à chantagens das mais diversas. Para que não ocorra uma tragédia maior, todos esses criminosos devem ser identificados, contidos e presos.
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