Nesta semana me deparei com um adolescente que, empolgado, se dirigia a uma fila no Tribunal Regional Eleitoral (TRE) para tirar o título de eleitor, após ser motivado pelas campanhas que alguns artistas promoveram para incentivá-los a votar pela primeira vez.
Ao perguntar a esse adolescente por que estava naquela longa fila, ouvi a resposta: “Quero votar pra presidente”. Então, perguntei: e para que serve um presidente? Como resposta, um breve silêncio, acompanhado de um sorriso…
Essa situação, entre outras coisas, representa a falta de uma educação para a cidadania em nosso país. E não são apenas os adolescentes que não têm a noção exata dos meandros da política e das funções públicas. Naquela fila do TRE, havia adultos e idosos que expressaram em seus semblantes, curiosidade em relação à pergunta para a qual eles também não tinham uma resposta. Por isso, decidimos escrever alguns textos e gravar alguns vídeos para tentar ajudar a esclarecer um pouco sobre algo que é tão básico, mas, ao mesmo tempo, tão importante e desconhecido. Esse conteúdo vai para você, que sabe que o Brasil precisa de um presidente, mas que quer entender melhor que papel esse presidente deveria desempenhar.
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Qual é o papel de um presidente? Obviamente, presidir. E o que é presidir? É conciliar, dirigir, apontar caminhos, ser magistrado, decidir, governar. E o que é preciso para governar? Saber dialogar, conciliar, ouvir, se posicionar, somar e conviver com as diferentes forças políticas, sociais, religiosas e culturais que compõe uma sociedade. E em que regime se pode promover esse diálogo em prol de uma convivência harmônica entre setores tão diferentes e divergentes e dentro de um país que é plural e multicultural?
Obviamente, na democracia; e a democracia não é o regime do “pode tudo”. Mas seria possível presidir uma democracia, falando em ditadura? Obviamente, não. A democracia, a autocracia, a ditadura, e a tecnocracia, por exemplo, têm DNA’s completamente diferentes uns dos outros.
PublicidadePodemos perguntar também: é possível governar de maneira saudável à democracia, atacando os poderes, a imprensa, provocando a divisão do povo brasileiro, tratando movimentos sociais como terrorismo, acirrando disputas entre conservadores e progressistas? Acreditamos que não.
O que o povo brasileiro quer, na verdade, é saber qual é a contribuição do presidente para tirar o país da crise, em vez de afundá-lo cada vez mais em conflitos que, na prática, são estratégias para desviar a atenção das pessoas para aquilo que realmente importa.
Os jovens e os de meia idade querem saber se vão conseguir se aposentar um dia ou se irão morrer de estudar e de trabalhar sem se aposentar, pois estão inseguros, já que, em vez de esclarecimentos e de projetos concretos, temos um presidente que dedica diariamente o seu tempo a polêmicas e desvio de foco, passeios de moto e cavalo, ataques aos demais poderes, e à própria democracia. Liberdade de expressão, opinião e pensamento é diferente de liberdade de ataques e de agressão.
O Brasil precisa de um presidente para responder aos milhões de desempregados a seguinte pergunta: de onde virão os empregos? Da terra prometida? E os que possuem emprego? Esses, querem saber até quando ficarão empregados, ou subempregados em virtude do atual tipo de política econômica e com as inovações tecnológicas que avançam e farão desaparecer nos próximos 10 anos mais de 50% dos empregos existentes. O que acontecerá com essa massa de trabalhadores? Como ela será reintegrada?
Os pequenos e médios empresários, os microempreendedores individuais e os consumidores querem saber de um presidente como terão acesso a crédito para investimento com juros mais baixos, pois os juros estão nas nuvens. Sem falar no cartão de crédito e no cheque especial.
Os prefeitos e governadores querem saber sobre quando e como o discurso da desconcentração tributária (problema implantado na ditadura militar) e da efetivação do pacto federativo, tão prometidos por Paulo Guedes e Bolsonaro, o “mais Brasil e menos Brasília”, se aproximarão de alguma ação prática. O governo federal concentra 62% da arrecadação. Os 27 estados dividem 23% e os mais de 5.500, municípios ficam com 15% dos impostos; as cidades estão cada vez mais inchadas, com mais problemas e menos recursos.
Os que esperam pela segurança real querem saber o que um presidente deve fazer na prática. Colocar arma nas mãos dos cidadãos que podem pagar por elas foi fácil; difícil, é tirar a arma das mãos dos bandidos. Difícil é impedir o genocídio negro e pobre nas periferias do Brasil, que ocorre todo dia, à luz do dia, apontando balas perdidas como desculpa.
O Brasil precisa de um presidente mediador e não de um projeto mal-acabado de ditador. De um presidente de união e não de discórdia. Precisa de um presidente democrata e não de um autocrata. Precisa de um presidente que facilite o acesso às escolas e universidades e não o acesso às armas. Arma leva à barbárie; educação leva à evolução da humanidade.
O Brasil precisa de um presidente que dialogue e que some esforços para encaminhar as soluções que o país necessita. Precisa de quadros competentes e comprometidos com a construção coletiva de políticas públicas para solução dos problemas da nação, dentre eles, o crescente, rápido e volumoso aumento da pobreza e das desigualdades sociais. É inaceitável que um país com tantos talentos e capacidade não invista e ciência e tecnologia; que “o país do agro” permaneça no mapa da fome; que o país dos altos lucros do mercado financeiro e dos bancos tenham famílias sem teto abrigadas em baixo de viadutos; que o país do pré-sal pague um absurdo pelo preço da gasolina.
É por isso e para isso que o Brasil precisa de um presidente.
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