Um dos coordenadores da Eixo Estratégia Política, o cientista político Antônio Fernandes destaca que o baixo desempenho de palanques e aliados ligados ao presidente Jair Bolsonaro (PL) nos estados têm diversos fatores: a ausência de estratégia nas eleições de 2020, a forma como o presidente lidou com a pandemia de covid-19 e a pauta econômica. O reflexo foi sentido em candidaturas ao Senado de ex-ministros de Bolsonaro, Damares Alves (Republicanos), no Distrito Federal, Gilson Machado (PL), em Pernambuco, e Rogério Marinho, no Rio Grande do Norte. Nenhum deles lidera as pesquisas.
Nos estados, há exemplos como os ex-ministros João Roma (PL) na Bahia, que sequer é cogitado ao segundo turno, e Onyx Lorenzoni (PL), que, além de não liderar no Rio Grande do Sul, vem se descolando do ex-governador Eduardo Leite (PSDB). “Nunca um presidente disputou a reeleição pós-88 com uma rejeição tão alta”, afirma o analista.
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Confira a seguir a entrevista que ele concedeu ao Congresso em Foco:
Na sua avaliação, o fraco desempenho dos aliados do presidente nas eleições estaduais tem relação com a aparente falta de estratégia de Bolsonaro nas eleições de 2020?
São situações distintas. Em 2020, a principal agenda das campanhas foi a pandemia e vimos o eleitor optar por nomes mais tradicionais, que apresentavam capacidade para resolução de problemas. A experiência na vida pública voltou a gerar alguns pontos positivos, enquanto em 2018 e 2016 o outsider era o candidato do momento. Bolsonaro até agora ainda está em 2018, uma eleição com características bem distintas das tradicionais.
Então, o que faltou ao presidente?
Ele [Bolsonaro] pareceu esquecer que todo planejamento para as eleições estaduais (governo e Senado) passa pelas forças municipais, as bases de sustentação dos deputados estaduais e federais, que se conectam com prefeitos, vereadores e líderes locais. Isso é um dos fatores da eleição de agora costurados já a partir de 2020, dentre o grande leque de variáveis importantes. E nesse aspecto, ficou evidente que a falta de estratégia nas eleições municipais por parte do presidente prejudicou na construção de palanques locais competitivos para os candidatos do seu espectro político nestas eleições.
A forma como Bolsonaro lidou com a pandemia contribuiu com esse fracasso?
O péssimo comportamento do presidente na pandemia era constante. Dos 13 candidatos ao Executivo que ele apoiou em 2020 apenas dois foram eleitos e em cidades menores. Os apoios em 2020 foram pulverizados em algumas candidaturas, sem real mobilização. Em uma eleição como esta, diferente do cenário atípico que foi a eleição de 2018, pesa bem mais os apoios, palanques, tempo de TV e rádio e recursos para campanha.
Além do fraco desempenho nas eleições municipais de 2020, o que levou Bolsonaro a registrar um baixo desempenho eleitoral nesta disputa?
Os incontáveis absurdos do governo durante a pandemia geraram efeitos mais longos no eleitorado, fazendo parte da memória do eleitor quando ele pensa no presidente. A rejeição de Bolsonaro (PL) começa a subir a partir do começo de 2021 e chega no final de agosto em mais de 50%, não descendo mais. Essa rejeição é maior entre as mulheres, que reprovam mais a sua atuação na pandemia, com os coros de “imbrochável” e outros comportamentos machistas e desrespeitosos. Junto a isso, temos a questão econômica, as pessoas estão passando fome e o valor do auxílio é insuficiente para comprar uma cesta básica em muitas capitais. A deflação resultante das mudanças nos combustíveis atinge mais a classe média, e ainda estamos em um cenário onde o preço dos alimentos continua alto. Aumentar o valor do Auxílio Brasil ou outras medidas que Bolsonaro adotou visando essa parcela do eleitorado não surtiu o efeito esperado. Ele está disputando com quem é reconhecido majoritariamente pelo eleitorado como “pai” dessas políticas sociais. Em quem o eleitor confia mais que esses programas serão mantidos? A questão da data até dezembro contaminou bastante esse efeito positivo esperado pela campanha do presidente, além da proximidade eleitoral que não esconde do eleitor os motivos por trás do movimento. Nunca um presidente disputou a reeleição pós-88 com uma rejeição tão alta.
Onde os aliados do presidente estão conseguindo melhores resultados?
O Rio de Janeiro, onde o presidente fez sua carreira política e é seu núcleo eleitoral, apesar de estar empatado com Lula é onde tem mais força, além de São Paulo, com Tarcísio de Freitas (Republicanos). As outras disputas estaduais onde o candidato apoiado por ele lidera mantêm certa distância da disputa presidencial. São candidatos á reeleição como Ratinho Jr. (PSD) no Paraná e Gladson Cameli (PP) no Acre. Em Santa Catarina, tanto Carlos Moisés (Republicanos), como Jorginho Melo (PL) e Espiridião Amin (PP) apoiam o presidente. E no Rio Grande do Sul, Onyx Lorenzoni (PL) vem empatando com Eduardo Leite (PSDB) na disputa.
Para o Senado, o desempenho dos aliados do presidente é melhor?
No Senado, quem aparece liderando as pesquisas com maior folga são nomes mais ligados ao PT, a exemplo de Camilo Santana (PT) no Ceará, Wellington Dias (PT) no Piauí, Teresa Leitão (PT) em Pernambuco, Márcio França (PSB) em São Paulo, Renan Filho (MDB) em Alagoas e Flávio Dino (PSB) no Maranhão. Cleitinho Azevedo (PSC) em Minas Gerais, Magno Malta (PL) no Espírito Santo, Wellington Fagundes (PL) no Mato Grosso e Tereza Cristina (PP) no Mato Grosso do Sul são as candidaturas mais próximas de Bolsonaro que vão bem, principalmente a ex-ministra da Agricultura e o candidato a senador em Mato Grosso que busca a reeleição. Nas eleições proporcionais, a expectativa de um bom resultado é maior, dado inclusive o foco dos partidos da base do presidente na bancada para Câmara.
Outros candidatos que “colaram” com Bolsonaro no governo – como Gilson Macho e Damares Alves (ex-ministros) – não conseguiram decolar na campanha. Faltou estratégia?
São vários fatores que acabam influenciando. No caso do Gilson Machado (PL), por exemplo, ele está competindo em Pernambuco, um estado fortemente ligado ao ex-presidente Lula (PT) e onde Bolsonaro tem por volta de 20% dos votos segundo as últimas pesquisas. Ou seja, apenas colar em Bolsonaro não é suficiente. Já Damares (Republicanos) está competindo com Flávia Arruda (PL), que são do mesmo campo político, ambas do primeiro escalão do governo Bolsonaro (PL). Damares (Republicanos) é mais próxima ideologicamente ao presidente, mas ele apoia oficialmente Flávia Arruda (PL), que possui bem mais inserção e conexão com os eleitores do DF por ter sido eleita deputada federal em 2018. Mourão (Republicanos) no Rio Grande do Sul disputa a parcela mais à direita do eleitorado gaúcho com Ana Amélia Lemos (PSD), mais conhecida do eleitorado. Quem sai ganhando é Olívio Dutra (PT), que lidera a disputa para o Senado no estado.