Terceiro presidenciável entrevistado do Jornal Nacional desta semana, o tucano Geraldo Alckmin teve de explicar, durante a primeira metade da sabatina, suas alianças, defesa e complacência com companheiros envolvidos em escândalos de corrupção.
Até os 15 minutos da entrevista – que durou 27 minutos, mesmo tempo que tiveram Ciro Gomes (PDT) e Jair Bolsonaro (PSL) -, o ex-governador de São Paulo foi instado a responder sobre suas alianças com os partidos do chamado “Centrão” – que reúne partidos com caciques envolvidos na Lava Jato -, por defender seu ex-secretário de Transportes, preso por suspeita de envolvimento em esquema nas obras do Rodoanel, e pela inércia do partido em relação a Aécio Neves, réu por corrupção no Supremo Tribunal Federal (STF) e Eduardo Azeredo, preso desde maio após condenação no mensalão tucano.
Leia também
Questionado sobre Aécio e Azeredo, Alckmin afirmou que o partido “não passa a mão na cabeça de ninguém” e que Aécio ainda está sendo investigado, e não foi condenado. Já sobre Azeredo, tentou desviar afirmando que o tucano, atualmente preso, está “afastado da vida pública há 10 anos”. Pressionado, disse que Azeredo vai pedir seu próprio desligamento do partido.
Ao explicar a aliança com os partidos do Centrão, o tucano repetiu o discurso de que as alianças com os partidos são necessárias para implementar as “reformas que o Brasil precisa”.
O ex-secretário de Transporte do governo Alckmin, Laurence Casagrande, atualmente preso na Lava Jato em São Paulo, foi mais uma vez defendido pelo ex-governador. Alckmin afirmou que Laurence é um “homem sério e correto” que está “sendo injustiçado”. Confrontado com trechos de depoimento de testemunhas na ação na qual Laurence é réu por fraude a licitação, falsidade ideológica e associação criminosa, Alckmin afirmou que não tem as informações lidas pelo apresentador William Bonner porque a investigação é sigilosa. O ex-governador ainda emendou dizendo que Bonner tinha as informações por ser “mais poderoso” que ele.
Segurança pública
Ao tratar do tema da segurança pública, a apresentadora Renata Vasconcellos disse que a maior facção criminosa do país surgiu em São Paulo e perguntou a Alckmin: “Em que a política de segurança pública falhou?”. O candidato negou que a segurança pública em São Paulo tenha falhado e citou números como a queda na taxa de homicídios no estado.
O tucano também negou que líderes de facção comandam o crime organizado de dentro das cadeias. Com a insistência dos entrevistadores sobre o tema, o candidato subiu o tom: “São Paulo prende. Cana dura”. E prometeu “acabar com as saidinhas” e endurecer penas.
Tucanos enrolados
Pressionado sobre a manutenção de Aécio Neves e Eduardo Azeredo (MG) no partido, Alckmin tentou fugir da questão em relação a Azeredo, condenado e preso. “Aécio está sendo investigado, não estamos passando a mão na cabeça de ninguém”, disse o atual presidente do PSDB.
Azeredo, ex-governador de Minas Gerais, está preso desde maio. Ele se entregou em uma delegacia após ser considerado foragido da Justiça. Ele foi condenado a 20 anos de prisão por desvio de recursos e lavagem de dinheiro no esquema conhecido como mensalão tucano ou mensalão mineiro.
Aécio, por sua vez, foi gravado pelo empresário Joesley Batista, dono da JBS, pedindo R$ 2 milhões. Aécio teve de se afastar do comando do tucanato. Desde então, chegou a ser afastado do cargo de senador por determinação do STF, até ter o mandato salvo pelos pares.
Em abril, o também ex-governador de Minas virou o primeiro tucano réu por corrupção passiva e tentativa de obstruir a Justiça na Operação Lava Jato justamente por essa gravação. Segundo a denúncia aceita pelos ministros, Aécio solicitou a Joesley, em conversa gravada pela Polícia Federal (PF), R$ 2 milhões em propina, em troca de sua atuação política em favor do grupo empresarial.