Depois dos momentos de efervescência nas ruas, com manifestações pró e contra o governo em setembro e outubro, movimentos de oposição a Jair Bolsonaro resolveram deixar as manifestações de lado por entender, entre outros motivos, que não há clima para o atendimento da principal pauta defendida: o impeachment do presidente. Atos esperados para o 15 de novembro, data da proclamação da República, não tem previsão de acontecer.
O Movimento Brasil Livre (MBL) organizou em setembro um ato em que procurava reunir apoiadores da terceira via contra Lula e Bolsonaro. Os atos tiveram adesão muito abaixo do esperado. O deputado federal Kim Kataguiri (DEM-SP), um dos fundadores do MBL, afirmou que as manifestações não fazem mais parte da agenda do movimento no curto e médio prazo. “A gente viu que não tem clima para mobilização. No fim, isso pode beneficiar mais o governo do que atrapalhar”, disse ele ao Congresso em Foco.
Kataguiri explica que a prioridade do MBL não está mais na organização de manifestações, mas na discussão de pautas relacionadas às eleições de 2022. Desde 2016 que o movimento lança candidaturas, tanto em nível estadual e municipal quanto em nível federal. Ao seu ver, a própria prioridade para as eleições já se torna um obstáculo para uma nova manifestação.
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Esgotamento das instituições
As maiores manifestações contra Bolsonaro foram organizadas por partidos e movimentos alinhados mais à esquerda e que mantiveram o impeachment como principal pauta em todos os seus atos. Entre eles, a campanha Fora Bolsonaro, encabeçada pelo filósofo José Moroni. Para ele, uma série de elementos levaram à estagnação dos atos.
O principal deles, na avaliação de Moroni, foi o esgotamento dos meios pelos quais o presidente poderia ser cassado. “As autoridades judiciais já se manifestaram contra a cassação de Bolsonaro e, no Congresso, ninguém consegue furar o bloqueio de Arthur Lira. É difícil você manter um ritmo de manifestações quando não se vê mais perspectiva de mobilização nas instituições. Ainda há também o Augusto Aras [procurador-geral da República], que senta em cima de todas as denúncias contra Bolsonaro”, citou.
PublicidadeA campanha não deixará de atuar no mês de novembro, mas desta vez juntando-se aos atos previstos para o Dia da Consciência Negra (20). “Tradicionalmente, é o dia de protagonismo do Movimento Negro, e a pauta é o combate ao racismo. Nós não queremos tirar esse protagonismo e nem a importância dessa pauta. Então vamos apenas agregar a nossa campanha à deles”, explicou Moroni.
Os primeiros dias de setembro foram, em sua análise, um fator determinante para o aquecimento dos atos contra o presidente. “Aquela tensão colocada pelo próprio governo no Sete de Setembro fez com que a população se manifestasse contra, era natural que fosse assim diante da possibilidade concreta de um golpe. Mas no momento em que se viu que Bolsonaro não tinha força para dar um golpe, a população ficou aliviada”.
A esperança de Moroni é de que, no início de 2022, as manifestações voltem a ganhar força, desta vez com um novo aspecto. “O que mais motivava as manifestações de 2021 foi a postura de Bolsonaro ao lidar com a pandemia. Mas agora o problema é outro. Temos pessoas recolhendo ossos para se alimentar. As manifestações serão contra essa gestão econômica desastrosa de Bolsonaro”, antecipa.
Para os meses finais do ano eleitoral, por outro lado, a expectativa é de um novo esfriamento. “Não sabemos ainda como vai ser a dinâmica das candidaturas nas eleições. Pode ser que se tenha um forte movimento contra o Bolsonaro, mas vai ser mais difícil construir uma unidade entre as forças perto de um momento eleitoral, em que várias candidaturas vão disputar esse protagonismo”, ponderou.
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