O apresentador Bruno Aiub, mais conhecido como Monark, foi desligado do Flow Podcast nesta terça-feira (8) após sair em defesa da criação legal de um partido nazista no Brasil. Mais cedo, Monark postou um vídeo nas redes sociais pedindo desculpas. “Eu errei, a verdade é essa. Estava muito bêbado”, disse. Em vídeo, ele também reiterou que foi insensível, pediu compreensão e convidou pessoas da comunidade judaica a irem ao seu programa para conversar com ele e explicar mais “sobre toda a história”. O anúncio foi feito pela empresa Estúdios Flow, responsável pelo Flow Podcast, do qual Monkar era até então sócio e apresentador.
PRONUNCIAMENTO OFICIAL pic.twitter.com/p1uru0Z4iw
— Flow Podcast (@flowpdc) February 8, 2022
Veja a retratação de Monark:
— ♔ Monark (@monark) February 8, 2022
A discussão sobre regimes “radicais” de direita e esquerda surgiu durante o episódio do podcast da última segunda-feira (7). O canal de Monark recebeu o deputado Kim Kataguiri (Podemos-SP) e a deputada Tabata Amaral (PSB-SP).
Na ocasião, o apresentador defendeu o direito de antissemitas se manifestarem. “Se o cara quiser ser antijudeu, eu acho que ele deveria ter o direito de ser.”. Monark também disse acreditar que “tinha que ter um partido nazista reconhecido pela lei”. A declaração ainda gerou um debate dentro do estúdio.
“O nazismo é contra a população judaica. Isso coloca uma população inteira em risco. Questionar existência nenhuma é válido”, retrucou Tabata.
O debate sobre a legalização ou criminalização do nazismo também entrou em questão. Em um dos momentos do episódio, a deputada questiona Kim Kataguiri se ele acha que a Alemanha errou ao criminalizar o nazismo depois da Segunda Guerra Mundial, e o deputado respondeu: “Acho”. O governo nazista liderado por Adolf Hitler promoveu o extermínio de milhões de judeus e outros grupos.
O parlamentar também questionou o porquê de partidos “comunistas” terem mais espaço na imprensa que defensores do nazismo.
No Brasil, é considerado crime fabricar, comercializar, distribuir ou veicular símbolos, emblemas e objetos de divulgação do nazismo, segundo a Lei 7.716/89. A lei também proíbe a criação de um partido nazista junto à Justiça Eleitoral.
Após grande repercussão, Kim Kataguiri se defendeu das acusações de fazer apologia ao nazismo. Segundo ele, as falas do programa foram tiradas de contexto.
“Muito melhor expor a crueldade dessa ideologia [nazismo] nefasta para que todos vejam o quanto ela é absurda. Sufocar o debate só faz com que grupos extremistas cresçam na escuridão e não sejam devidamente combatidos e rechaçados”, justificou.
O que eu realmente disse sobre o nazismo: muito melhor expor a crueldade dessa ideologia nefasta para que todos vejam o quanto ela é absurda. Sufocar o debate só faz com que grupos extremistas cresçam na escuridão e não sejam devidamente combatidos e rechaçados. pic.twitter.com/FxQNHXIBX2
— Kim Kataguiri 🇧🇷 ☘️ (@KimKataguiri) February 8, 2022
O apresentador também se desculpou com o público por defender a existência de um partido nazista no Brasil que fosse reconhecido pela justiça.
— ♔ Monark (@monark) February 8, 2022
“Eu errei, a verdade é essa. Eu tava muito bêbado e fui defender uma ideia que acontece em outros lugares do mundo, nos Estados Unidos, por exemplo, mas eu fui defender essa ideia de um jeito muito burro, eu estava bêbado, eu falei de uma forma muito insensível com a comunidade judaica. Peço perdão pela minha insensibilidade”, ressaltou.
Criado por Monark e por Igor Coelho, o programa do Flow é um dos podcasts com maior audiência do Brasil. Somente no youtube, reúne 3,6 milhões de inscritos.
Perda de Patrocínio
Diante do exposto, patrocinadores do canal de entrevista estão encerrando seus contratos. A Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro (FERJ) publicou uma nota, nesta terça-feira (8/2), para se posicionar sobre as declarações no Flow Podcast, sobre a criação de um partido nazista no Brasil.
Em comunicado, a federação anunciou o rompimento de contrato com o Estúdios Flow, responsável pelo podcast Flow Sport Club, que transmitia os jogos do Campeonato Carioca de 2022, por “apologia ao nazismo, regime cujos crimes contra a humanidade até os dias de hoje causam horror a qualquer um que preze pela vida”.
A empresa Flash Benefícios também decidiu romper com os Estúdios Flow. O anúncio foi feito pelas redes sociais da empresa.
“A Flash Benefícios acredita em uma sociedade igualitária, sem qualquer tipo de discriminação. Não há sociedade livre quando há intolerância ou busca de legitimação de discursos odiosos, nazistas e racistas, tecidos a partir de uma suposta liberdade de expressão”, declarou a empresa em nota de repúdio.
A empresa da Puma, que não é patrocinadora do Flow Podcast, mas que fez uma ação aos estúdios, pediu a retirada de seu logotipo do time de empresas que financiam o canal.
“A Puma discorda e repudia veementemente as declarações e ideias expressas durante o último Flow Podcast, transmitido na noite de segunda-feira (7)”, disse a empresa em nota.
Entidades se manifestam
Organizações judaicas criticaram Monark por defender a existência de um partido nazista no Brasil. Em nota, a Confederação Israelita do Brasil e a Federação Israelita de São Paulo, manifestaram repúdio aos comentários do apresentador.
“A Conib (Confederação Israelita do Brasil) condena de forma veemente a defesa da existência de um partido nazista no Brasil e o “direito de ser antijudeu”, feita pelo apresentador Monark, do Flow Podcast. O nazismo prega a supremacia racial e o extermínio de grupos que considera “inferiores”. Sob a liderança de Hitler, o nazismo comandou uma máquina de extermínio no coração da Europa que matou 6 milhões de judeus inocentes e também homossexuais, ciganos e outras minorias. O discurso de ódio e a defesa do discurso de ódio trazem consequências terríveis para a humanidade, e o nazismo é sua maior evidência histórica.”, disse a nota.
A Federação Israelita Paulista descreveu como “absolutamente inaceitável” a declaração feita por Monark.
“Na noite dessa segunda-feira (7), o host do “Flow Podcast”, Bruno Aiub, o Monark, manifestou-se de modo absolutamente inaceitável enquanto entrevistava os deputados federais Kim Kataguiri e Tábata Amaral. Aiub defendeu, de forma expressa, o direito de alguém querer ser anti-judeu, bem como o direito à existência de um partido nazista no Brasil.
Mesmo contestado pela deputada Tábata Amaral, Monark insistiu que suas falas estariam escudadas no princípio da liberdade de expressão, demonstrando, a um só tempo, desconhecer a história do povo judeu, e a natureza de um princípio constitucional essencial, muitas vezes deturpado por aqueles que insistem em propagar um discurso que incita o ódio contra minorias.
Nós, da Federação Israelita do Estado de São Paulo, repudiamos de forma veemente esse discurso e reiteramos nosso compromisso em combater ideias que coloquem em risco qualquer minoria. Manifestações como essa evidenciam o grau de descomprometimento do youtuber com a democracia e os direitos humanos., escrevem.
A Confederação Israelita do Brasil também se manifestou sobre o exposto.
“O nazismo prega a supremacia racial e o extermínio de grupos que considera ‘inferiores’. Sob a liderança de [Adolf] Hitler, o nazismo comandou uma máquina de extermínio no coração da Europa que matou 6 milhões de judeus inocentes e também homossexuais, ciganos e outras minorias. O discurso de ódio e a defesa do discurso de ódio trazem consequências terríveis para a humanidade, e o nazismo é sua maior evidência histórica”, divulgaram.