Maio foi o mês em que celebramos o Dia das Mães. Lembro que, quando trabalhava no setor privado, essa era a segunda data mais relevante, seguida do Natal. “O brasileiro valoriza muito as mães”, eles diziam. Maio também foi o mês em que vimos os indicadores de desmatamento da Amazônia baterem mais um recorde de área desmatada.
Mãe Terra?
Está claro que, no Brasil, a agenda para o meio ambiente é de desmonte e retrocessos. Os impactos da crise climática já são realidade nas mudanças do regime de chuvas, na falta de água, nos eventos climáticos extremos, assim como, a perda da biodiversidade, a contaminação das águas e do solo e a falta de qualidade do ar. São inúmeros os pontos alarmantes que só nos mostram a urgência de fortalecermos as políticas ambientais no país.
A maternidade para mim também é política. E se são inúmeras e urgentes, as pautas da maternidade, também são uma reflexão importante acerca deste papel na construção de outra relação com o entorno. Por muito tempo, deixamos a pauta do meio ambiente ser posicionada como uma perspectiva de longo prazo, de um problema futuro – qual o mundo queremos deixar para os nossos filhos?
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No entanto, a presente emergência climática nos clama a sair desta chave de problema futuro para entender que tudo isso está acontecendo agora. Que o impacto em nossas vidas é agora. E que a pergunta deve ser: que filhos queremos deixar para o mundo? Como contribuir, a partir da maternidade, para esta pauta tão urgente?
Temos algumas respostas óbvias para tais questionamentos: dando o exemplo na redução de consumo, na adoção de hábitos sustentáveis, na conversa franca e frequente sobre o tema, no contato direto com a natureza, votando em quem se importa com o tema. Existem também algumas reflexões e saídas menos claras, mas não menos importantes, de como essa relação pode contribuir com a pauta.
Falo aqui de uma sutil, porém importante mudança na lógica do fazer. No fazer política, no fazer educação, no fazer coletivo. A reconstrução que o Brasil precisa, e que o desenvolvimento de um modelo sustentável pressupõe, não será pela mesma lógica que chegamos até aqui. E as mães têm muito a contribuir, mas precisam ser valorizadas.
Será pela chave do diálogo e da escuta, do afeto e da inovação. Será pela clareza de prioridades e pela firmeza inegociável de valores, mas também, pela flexibilidade de soluções e senso de urgência. Será de forma coletiva. Compartilhada.
Estamos em um momento de impedir retrocessos em todos os campos, no país. Na democracia, no meio ambiente, na saúde, na educação e na economia os danos são severos. O objetivo principal, neste momento, deve ser impedir a continuação desta agenda negacionista e fortalecer a construção de um projeto democrático e com avanços claros para o país. Porém, para realmente avançarmos, teremos que ir além. Teremos que fazer diferente.
E faremos.
Se é necessária uma vila para se criar uma criança, ela também é necessária para cuidar da Terra. Aprendamos com as mães, apoiando-as. É transformador.
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