Cogitado para vir a ser o próximo ministro da Defesa, como mostrou o Congresso em Foco, o nome do ex-presidente do Tribunal de Contas da União José Múcio Monteiro foi bem recebido no meio militar. O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva segue com o propósito de na próxima semana anunciar o nome da Defesa e os dos novos comandantes militares. Mas agora cogita que esse anúncio não aconteça de forma solitária: o Congresso em Foco apurou com nomes da equipe de transição que Lula estuda fazer um anúncio simultâneo também dos nomes que conduzirão a economia e a área social.
De acordo com fonte da transição, a questão foi muito discutida nessa quarta-feira (30) . O próprio Lula não foi ao Centro de Convenções Banco do Brasil (CCBB), onde o governo de transição está instalado. Preferiu fazer suas articulações do hotel em que está hospedado – o espaço é considerado mais discreto e reservado para as conversas que Lula prefere que fiquem menos públicas.
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A preocupação de Lula é não passar a ideia de que a Defesa seria uma área mais importante que as demais. Fazer o anúncio de forma solitária antes de qualquer outro poderia passar a interpretação de que o novo governo se preocupa muito com essa questão, dado o ambiente no país, com os movimentos golpistas de bolsonaristas e ensaios de insubordinação. Uma demonstração que poderia ser interpretada como medo.
Assim, o desejo de Lula é equilibrar esse anúncio com outras áreas que também são importantes, demonstrando uma preocupação mais ampla. Os anúncios na Defesa, assim, pela intenção de Lula, aconteceriam simultaneamente aos anúncios de quem irá conduzir a economia e a área social.
De novo, no raciocínio, uma preocupação de equilíbrio. O anúncio na economia aplaca ansiedades no mundo financeiro e empresarial. Mas o anúncio simultaneamente à área social demonstraria que Lula tem igual preocupação com as duas coisas. Essa é a ideia. Mas, para que seja concretizada, Lula ainda precisará esta semana aparar várias arestas. Veja abaixo.
Militares
A decisão de anunciar o nome da Defesa e os comandantes militares surgiu a partir de uma sugestão do próprio José Múcio em reunião com Lula na segunda-feira (28). Lula não deve criar formalmente o Grupo de Trabalho dessa área, como aconteceu com as demais. Mas há um grupo informal que inclui José Múcio, Aloizio Mercadante, Geraldo Alckmin e alguns ex-comandantes militares de governos anteriores do PT.
José Múcio sugeriu a Lula que a maneira “mais rápida” de fazer a transição na área militar seria escolher os novos comandantes. Baseava sua argumentação no sentido de hierarquia e disciplina militar. Somava-se a isso a informação de que os atuais comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica, general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, almirante Almir Garnier Santos e brigadeiro Carlos de Almeida Baptista Júnior, cogitavam deixar seus cargos antes do final do ano. Lula acatou a sugestão de José Múcio, e, segundo o próprio ex-presidente do TCU, disse que indicaria também seu nome para o Ministério da Defesa.
A tendência é que Lula, para não gerar novos estremecimentos com os militares, faça a indicação para os comandos dos nomes mais antigos de cada força. Portanto, uma escolha natural. Caso de fato essa seja a decisão, o comandante do Exército seria Júlio Cesar de Arruda, o general de quatro estrelas mais antigo; o comandante da Marinha seria o almirante Aguiar Freire, atual chefe do Estado-Maior da Armada, e o comandante da Aeronáutica seria o brigadeiro Marcelo Damasceno, que hoje chefia também o Estado-Maior da Aeronáutica.
Economia
Se o nome ventilado para a Defesa pareceu ter acalmado a caserna, nas outras áreas que Lula cogita fazer as indicações simultâneas, o consenso ainda parece longe e há resistências. Segundo apurou o Congresso em Foco, o ex-ministro da Educação e ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad segue sendo o nome preferido para o Ministério da Fazenda. Segundo uma fonte da transição, Lula tem uma “dívida de gratidão” com Haddad pela sua candidatura em 2018, quando Lula foi impedido de concorrer. Além disso, Lula considera que Haddad teria o traquejo necessário para fazer a ponte entre a política e a economia.
Haddad representou Lula em um encontro na Federação Brasileira dos Bancos (Febraban) na semana passada e tem se movimentado para quebrar resistências. Não é, porém, o nome dos sonhos do mercado financeiro, que preferia um nome mais técnico e de perfil mais conservador.
Assim, para contrabalançar, a intenção de Lula é colocar esse nome mais técnico no Ministério do Planejamento. Os chamados “pais do Real”, os economistas que estiveram à frente da formulação do Plano Real no governo Itamar Franco, foram cogitados para a tarefa. Mas resistem a aceitar o cargo. Segundo uma fonte da transição, o ex-presidente do Banco Central Pérsio Arida já declinou completamente e não está mais na lista de cogitações. O ex-presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) André Lara Resende também declina do cargo. Mas, segundo a fonte, é ainda cogitado, sua resistência seria menor. Mas o que parece mais provável é que a escolha recaia sobre o nome de algum outro economista que tenha feito parte da equipe deles no passado. Ou seja, alguma indicação feita por eles com o mesmo perfil técnico e posições semelhantes.
Há ainda uma outra cogitação considerada menos provável: Lula colocar na economia o vice-presidente eleito Geraldo Alckmin.
Área social
Da mesma forma, a área social também não está próxima do consenso. Em princípio, o PT briga para ter o cargo, considerado o mais importante, dada a linha que o partido cogita adotar no novo governo. Mas a senadora Simone Tebet (MDB-MS) o almeja também. O Ministério do Desenvolvimento Social é o posto dos sonhos da senadora.
Segundo fonte da transição, Lula reputa a Simone Tebet um papel fundamental no segundo turno. Se o presidente eleito tem uma dívida de gratidão com Haddad, agora considera ter também com Simone. E, nesse sentido, não recusaria o cargo a ela.
A possibilidade de contrabalançar isso no caso do PT que está sendo discutida é dividir de certa forma os programas sociais passando as ações de combate à fome para outra pasta. Seria assim criado o Ministério do Desenvolvimento Agrário e Combate à Fome (ainda não está fechado que o nome seria esse), incluindo, assim, na mesma pasta as ações de fomento à agricultura familiar com a segurança alimentar. O nome cogitado para essa nova pasta, caso se confirme esse desenho, é a ex-ministro do Desenvolvimento Social e Combate à Fome Tereza Campello.