Os processos que correm em cortes internacionais contra o presidente Jair Bolsonaro por suas ações e omissões durante a pandemia de covid-19 são lentos. E, assim, não deverão produzir resultados imediatos. O que não significa, porém, que eles não venham a resultar em nada. No ritmo próprio em que tais cortes avançam, eles poderão, sim, resultar em condenação. Essa é a avaliação do jornalista Jamil Chade, correspondente do UOL na sede da Organização das Nações Unidas (ONU) em Genebra, na Suíça. Uma avaliação corroborada pela jornalista Juliana Monteiro, que acompanha o Brasil e o mundo de Roma, na Itália.
“As cortes internacionais são lentas e têm um ritmo e uma dinâmica muito próprias”, explica Jamil. “Mas é preciso lembrar que os processos que foram movidos não foram contra o governo Bolsonaro. Foram contra a pessoa. Então, eles continuarão tramitando após o término do governo, venha ele a ser reeleito ou não. E poderão mais adiante resultar em alguma coisa”, afirmou.
Jamil lembrou que o processo que considerou que o ex-juiz e ex-ministro da Justiça Sergio Moro foi parcial na condenação ao agora candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, levou seis anos para ser concluído no Comitê de Direitos Humanos da ONU. “Esse é o ritmo”, explica.
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“Alguns aliados de Bolsonaro tentam às vezes passar a ideia de que ele seria uma pessoa querida no exterior. Não é o que eu verifico na Itália”, emenda Juliana, que viu no país a fase aguda da covid-19, que se iniciou na Europa a partir do país. “Quando as pessoas ouvem Bolsonaro falar contra o isolamento social, e ainda ter orgulho disso, elas se horrorizam. E comentam: ‘Como ele pode dizer isso? Isso é crime!'”
Distantes cerca de 9 mil quilômetros de Brasília, Jamil e Juliana viveram os últimos anos angustiados com a forma como a pandemia evoluía no país, com suas mais de 580 mil mortes. Com a forma como o discurso negacionista agravou toda a situação. Tudo isso, em “uma era de incerteza”, como Jamil classifica o nosso tempo. Com suas famílias na Suíça e na Itália, eles naturalmente têm parentes e amigos no Brasil. A forma encontrada pelos dois para extravasar toda essa angústia foi trocar cartas, nas quais um dizia ao outro o que vinha sentindo.
Durante dois anos, Jamil Chade e Juliana Monteiro trocaram tais cartas em que misturavam suas visões de cidadãos, de pai e de mãe, com a acurada visão de repórteres bem posicionados no exterior. Essas cartas foram inicialmente publicadas pela revista Pessoa, e reunidas no livro “Ao Brasil, com Amor” (Editora Autêntica), recentemente lançado e que pode ser encontrado nas livrarias. O Congresso em Foco Talk recebeu os dois jornalistas para falar do livro e também sobre o Brasil e o mundo.
PublicidadeJamil Chade é considerado um dos melhores correspondentes internacionais brasileiros. Com passagem por mais de 70 países, hoje ele acompanha o Brasil e o mundo a partir do seu escritório na sede Organização das Nações Unidas, em Genebra.
Juliana Monteiro é jornalista e escritora. E mora em Roma, na Itália, de onde acompanhou o drama inicial da pandemia na Europa e todos os seus desdobramentos.