Dois dos principais alvos da Operação Lava Jato, os senadores Renan Calheiros (MDB-AL) e Romero Jucá (MDB-RR) declararam à Justiça eleitoral que empobreceram nos últimos anos. Igualmente investigados na operação, os também senadores Ciro Nogueira (PP-PI) e Aécio Neves (PSDB-MG) multiplicaram suas fortunas. Essas informações constam da declaração de bens entregues pelos quatro parlamentares para o registro de suas candidaturas. Com exceção de Aécio, que concorrerá a deputado federal, todos disputarão a reeleição.
Ciro foi o que admitiu maior enriquecimento. Depois de declarar em 2010 R$ 1,9 milhão (R$ 3 milhões em valores atualizados), ele informou possuir agora R$ 23,3 milhões. Um aumento patrimonial de sete vezes, aplicada a correção monetária no período pelo Índice de Preços ao Consumidor Ampliado (IPCA), do IBGE. Já Aécio, que registrou R$ 2,5 milhões em 2014, quando tentou a Presidência, relatou desta vez R$ 6,1 milhões. Ou seja, em valores corrigidos, o total dos bens do tucano dobrou em quatro anos.
Líder dos governos Fernando Henrique Cardoso (PSDB), Lula (PT), Dilma (PT) e Michel Temer (MDB), o senador Romero Jucá acumula uma dezena de investigações na Lava Jato. Mesmo com todo esse currículo, o patrimônio declarado por Jucá à Justiça eleitoral é dos mais modestos entre os candidatos à reeleição no Senado. Ele diz possuir R$ 194 mil. Não há nenhum bem, nem mesmo um único veículo, registrado em nome dele. Desse total, segundo o senador, R$ 150 mil são guardados em espécie. O restante está distribuído em duas contas bancárias.
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Em 2010, quando concorreu pela última vez, Jucá informou que possuía R$ 607 mil (R$ 982 mil em valores atualizados). Na ocasião, declarou que tinha R$ 545 mil (R$ 881 mil em valores corrigidos) em dinheiro vivo. Na prática, feitas as devidas correções, é como se o patrimônio dele tivesse ficado cinco vezes menor no intervalo de oito anos. Procurado pela reportagem, Jucá preferiu não comentar o assunto, afirmou apenas que apresentou os documentos exigidos pelo TSE.
Campeão em inquéritos na Lava Jato entre os parlamentares, Renan declarou possuir no momento R$ 1,8 milhão entre imóveis e dinheiro. Há oito anos o senador dizia ter R$ 2,1 milhões em bens (R$ 3,4 milhões, em valores atualizados).
De lá para cá, Renan deixou de registrar cota de uma propriedade rural da família atribuída à esposa, Verônica Calheiros, em 2010, no valor de R$ 702 mil. Ele manteve a avaliação de R$ 195 mil de um apartamento. Na declaração anterior, o senador apontou uma casa estimada em R$ 435 mil. Desta vez o imóvel aparece avaliado em R$ 300 mil.
Com um crescimento patrimonial de mais de 1.000% em oito anos de Senado, Ciro Nogueira adquiriu uma aeronave, avaliada em R$ 2,85 milhões. Sua participação em sociedades saltou de R$ 881 mil para R$ 19,3 milhões. Em 2010 ele informou ter uma Mercedes no valor de R$ 70 mil. Agora, diz ser dono de três automóveis que somam R$ 514 mil. Procurado, o senador não se manifestou até o momento.
A assessoria de Aécio respondeu que, apesar de sua declaração ter pulado de R$ 2,5 milhões para R$ 6,1 milhões em quatro anos, não houve crescimento patrimonial, mas “valorização do patrimônio preexistente”.
“Ao contrário do noticiado, os bens que constam da declaração do senador em 2018 são os mesmos de 2014. A diferença entre a declaração de 2014 e 2018 corresponde basicamente a crédito futuro a receber de R$ 3,7 milhões referente à venda de quotas de emissora de rádio, como devidamente declarado ao Imposto de Renda. Trata-se de venda realizada com pagamentos mensais e esse valor será recebido ao longo dos anos. Não há como confundir crescimento patrimonial com valorização de patrimônio preexistente”, informou a assessoria. De uma declaração para outra, porém, aumentou de R$ 146 mil para R$ 959 mil o valor de aplicações em renda fixa feitas por Aécio.
Em abril o senador tucano virou réu no Supremo Tribunal Federal (STF) acusado de pedir R$ 2 milhões ao empresário Joesley Batista sob o pretexto de pagar advogado. Para a Procuradoria-Geral da República, o dinheiro era propina e Aécio usava o cargo para atingir “objetivos espúrios”. O senador ainda é investigado em outros nove inquéritos da Lava Jato, por lavagem de dinheiro e corrupção.
Na terça-feira, Ciro Nogueira se livrou de uma denúncia derivada da operação no Supremo. Ele era acusado de pedir R$ 2 milhões em 2014 ao então presidente da construtora UTC, Ricardo Pessoa. Em troca, segundo o Ministério Público, o senador prometeu favorecer a empresa em contratos de obras pagas pelo Ministério das Cidades (controlado pelo PP à época) no Piauí. Por três a um, a Segunda Turma rejeitou a denúncia.
Para os ministros, não havia como a investigação prosseguir porque só havia a palavra do delator contra ele. A defesa disse que Ciro é de “família rica, com renda mensal conjunta com sua esposa que soma o montante mensal de aproximadamente R$ 200 mil e que possuem planos de saúde custeados pelo Senado e ela pela Câmara sem limites de gastos”. Ele é alvo de outros três inquéritos relacionados à Lava Jato.
Embora tenha declarado um patrimônio inferior a R$ 200 mil, Jucá é acusado por vários delatores de receber propina em troca de facilidades em contratos na área do setor elétrico. Ele também é investigado por falsidade ideológica e crime contra a ordem tributária por usar laranja para gerir a TV Caburaí, de sua família, em Boa Vista.
Junto com Renan, é suspeito de faz parte de um grupo de parlamentares que, segundo a acusação, recebeu R$ 45 milhões de lobistas para negociar emendas que favoreciam montadoras de veículos. Outro inquérito apura se Jucá recebeu R$ 5 milhões em propina para intermediar, de maneira ilícita, um contrato entre os Correios e a Confederação Brasileira de Tênis (CBT). Apesar de ter declarado queda em seu patrimônio, Renan é alvo de pelo menos 15 investigações por suspeita de corrupção, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha.
* Colaborou Thallita Essi, sob supervisão de Edson Sardinha