Empresas de mineração com atividades na Amazônia receberam ao menos US$ 54 bilhões (o equivalente a R$ 273 bilhões, na cotação desta terça-feira, 22) em empréstimos, subscrições, investimentos em ações e em títulos em 2021, conforme relatório divulgado em conjunto, pela organização Amazon Watch e pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib). Os valores são em grande parte oriundos de bancos estrangeiros, mas não deixam de contar com instituições financeiras nacionais.
A exploração mineral da Amazônia e suas terras indígenas foi, segundo dados do Sistema de Detecção do Desmatamento em Tempo Real, causa da devastação de ao menos 405 km² da floresta entre 2015 e 2020, e outros 125 km² em 2021. O impacto ambiental não impediu o ramo de atrair investimentos, que se concentram principalmente ao redor de oito empresas: entre elas as brasileiras Vale e Potássio do Brasil.
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A Vale, por sinal, é apontada no relatório como a maior interessada em explorar a região amazônica: em uma verificação das duas entidades no sistema da Agência Nacional de Mineração (ANM) em novembro de 2021, foram constatados 75 requerimentos para exploração mineral na Amazônia. Destes, 14 solicitam acesso a áreas sobrepostas ou nas imediações de reservas indígenas.
Em segundo lugar, estão os empreendimentos do conglomerado britânico Anglo American, com 65 requerimentos, sendo 11 em terras indígenas. A Potássio do Brasil, sediada em Manaus, fica em quarto lugar, com 19 requerimentos de exploração da Amazônia, seis em reservas indígenas.
Os investimentos nessas operações chegam de diversas formas. Os empréstimos, por exemplo, atraíram US$ 12 bilhões para as companhias de mineração entre 2016 e 2021. Nessa modalidade, lidera a exploração da Amazônia o banco francês Credit Acricole, com US$ 698 milhões investidos em empréstimos e subscrições a diversas mineradoras.
As ações, porém, são a principal forma de investimento de bancos e fundos em mineradoras atuantes na Amazônia. O líder mundial nessa modalidade é brasileiro: a Caixa de Previdência dos Funcionários do Banco do Brasil (Previ) possui US$ 7,4 bilhões investidos em títulos e ações da Vale, conforme aponta o relatório, levantado com dados de novembro de 2021.
Outro banco brasileiro com cifras bilionárias investidas na Vale é o Bradesco, detentor de US$ 4,3 bilhões em ações da mesma empresa, ocupando o quarto lugar na lista de maiores acionistas em mineradoras em ação no bioma amazônico. Demais bancos privados atuantes no Brasil com investimentos no setor são o Itaú, com US$ 601 milhões investidos na Vale, e o banco espanhol Santander, com US$ 20 milhões na Anglo American, US$ 4 milhões na Rio Tinto e US$ 166 milhões na Vale.
A Caixa Econômica Federal também possui fartos empreendimentos no setor, com US$ 786 milhões investidos na Vale. Outra instituição financeira com participação pública em sua gestão, o Banco do Brasil, possui US$ 285 milhões aplicados em ações da mesma mineradora.
Confira a seguir a lista de investimentos bancários em ações de mineradoras atuantes na floresta amazônica, conforme apontado no relatório da Amazon Watch e APIB:
As empresas Vale, Santander, Itaú, Banco do Brasil, Caixa e Previ foram contatadas pela reportagem para prestar esclarecimentos sobre os investimentos citados. O Banco do Brasil informou que não vai se manifestar. A Caixa alegou que os investimentos na Vale na realidade foram feitos pelo fundo de pensão dos seus empregados (Funcef), entidade autônoma que enviou a seguinte nota:
“O investimento da Funcef na Vale ocorreu no processo de privatização da mineradora, em 1997. A participação atual da Funcef é de 1,19% do capital da companhia, fatia que equivalia a R$ 5,2 bilhões em 18 de fevereiro de 2022. Embora tenha reduzido a exposição ao ativo em 2021, a Funcef segue posicionada na mineradora. A decisão se baseia na análise técnica do potencial do ativo e no entendimento de que a mineradora tem aprimorado suas práticas ESG, conforme destacado em apresentação aos investidores realizada no quarto trimestre de 2021.”
O espaço permanece aberto às manifestações dos demais bancos citados.