O Grupo Prerrogativas, coletivo de advogados e profissionais liberais que prestou apoio ao presidente Lula durante a Operação Lava Jato, emitiu uma nota em critica a decisão do governo de vetar a realização, por parte do Ministério dos Direitos Humanos, de atos de repúdio aos 60 anos do golpe militar de 31 de março de 1964. O grupo também repudiou a decisão do Clube Militar de anunciar um encontro em homenagem ao golpe.
Em entrevista à Rede TV, Lula afirmou que sua prioridade em relação aos militares é “olhar para o futuro” no lugar de “remoer o passado”, e que sua preocupação maior estaria em impedir a repetição dos atos de 8 de janeiro de 2023. O presidente foi um dos alvos de perseguição da ditadura, tendo sido preso enquanto presidia o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, durante uma greve da categoria em São Bernardo do Campo (SP).
“A determinação de silenciar diante do golpe militar de 1964 é inadmissível. Contraria nossa história e ofende a luta e a memória de tantos e tantas em defesa da democracia”, declarou o Prerrogativas. O coletivo alega que, ao ignorar a importância de repudiar publicamente o golpe, o governo acaba dando força a movimentos saudosistas da ditadura, a exemplo dos que buscam anistiar os envolvidos nos atos de 8 de janeiro.
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O Prerrogativas ainda declarou apoio aos atos marcados para 23 de março, em São Paulo, de repúdio à tentativa de anistia aos envolvidos nos ataques às sedes dos Três Poderes em Brasília. O grupo também condenou a postura do Clube Militar, associação formada por militares da reserva e que participou ativamente tanto na defesa do regime militar quanto nas campanhas eleitorais de Jair Bolsonaro, que convocou, para o fim de março, um almoço em homenagem aos 60 anos do golpe de 1964, chamando a data de “movimento democrático”.
“No triste e vergonhoso aniversário de 60 anos do golpe, o momento é de requestionar o passado como condição para entender o presente e vislumbrar um futuro. O passado não governa o presente. E muito menos o futuro. Comemorar o terror é retirar do presente o direito de julgar o passado”, afirma o coletivo. “Não se coloca no esquecimento milhares de mortos, desaparecidos, a cassação de mandatos, o AI-5 e a tortura”, conclui.
Confira a íntegra da nota do Prerrogativas sobre a decisão do governo de não fazer ato sobre os 60 anos do golpe:
Publicidade“A determinação de silenciar diante do golpe militar de 1964 é inadmissível.
Contraria nossa história e ofende a luta e a memória de tantos e tantas em defesa da democracia.
Sobretudo agora, há poucos anos do golpe contra a presidenta Dilma e da intentona bolsonarista de 8 de janeiro de 2023, ignorar o passado favorece o recrudescimento de novos retrocessos, como é o caso da campanha para perdoar o inominável e seus cúmplices.
Por isso, nós, do Grupo Prerrogativas, nos irmanamos a todos e todas que rememoram e condenam o golpe de 1964. E conclamamos à participação no ato de 23 de março.
Marco Aurélio de Carvalho
Coordenador do Grupo Prerrogativas”
Abaixo, comunicado oficial sobre a homenagem do Clube Militar ao golpe de 1964:
“Nota do Grupo Prerrogativas
Golpe de 64: jamais esquecer a barbárie!
Não, não é verdade que os mortos governarão os vivos. Não, não é verdade que o passado encobrirá o presente e o futuro. Não, não concordamos com o lema positivista de Augusto Comte de que “Os vivos são sempre, e cada vez mais, governados pelos mortos”.
Por isso, o Grupo Prerrogativas. manifesta seu repúdio veemente ao Clube Militar por ter a ousadia e o cinismo de comemorar o golpe militar de 1964, que decretou a ditadura civil-militar que governou o Brasil por mais de duas décadas e o mergulhou no obscurantismo .
Não, nem os mortos e nem seus espectros governarão os vivos. A história é a melhor professora !
No triste e vergonhoso aniversário de 60 anos do golpe, o momento é de requestionar o passado como condição para entender o presente e vislumbrar um futuro. O passado não governa o presente. E muito menos o futuro. Comemorar o terror é retirar do presente o direito de julgar o passado.
Se, para o Clube Militar, os mortos ainda governam os vivos, a democracia diz: são os vivos que constróem o presente.
Esquecer, jamais. Não se coloca no esquecimento milhares de mortos, desaparecidos, a cassação de mandatos, o AI-5 e a tortura.
Se há algo a comemorar, é a resistência à tirania. A passagem do ano 60 deve servir como o mais retumbante “nunca mais”.
Nada mais do que isso.”