Ex-governador do Maranhão, Flávio Dino (PSB) elegeu-se senador pelo Maranhão. Se, de um modo geral, o próximo Congresso será mais conservador que o atual, a eleição de Dino é uma das exceções a essa regra.
Flávio Dino entrará no Senado na vaga que hoje é ocupada pelo senador bolsonarista Roberto Rocha (PTB). Em entrevista ao Congresso em Foco, Dino avalia como espera que se comporte o novo Congresso para o qual retornará agora como senador. Para ele, o novo Congresso, de perfil mais pragmático, teria um determinado tipo de comportamento numa eventual vitória de Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, e outro com uma eventual reeleição de Jair Bolsonaro, do PL. Seria, portanto, um Congresso capaz de negociar com Lula e, ao mesmo tempo, disposto a chancelar qualquer eventual arroubo autoritário de Bolsonaro.
“Este mesmo Congresso Nacional, com os senadores que permanecerão e os senadores que foram eleitos, teria um tipo de comportamento com uma vitória de Bolsonaro e terá outro com o presidente Lula”, avalia Flávio Dino. “O jogo dialético de freios e contrapesos na vitória do Lula vai fazer com que o Congresso Nacional tempere um pouco o seu conservadorismo”, considera ele.
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“Uma vitória do Lula, que virá, puxa o Congresso mais para o centro, enquanto que uma vitória de Bolsonaro empurraria esse Congresso mais para a direita”, conclui. Nesse cenário, Flávio Dino considera que ficariam postas as condições para aprovação de propostas autoritárias, na linha do que já se viu em governos pelo mundo que têm líderes autocratas: ampliação das vagas no Supremo Tribunal Federal (STF), possibilidade de mais de uma reeleição, etc.
“Eu creio que teremos dificuldades, mas elas não são intransponíveis. O bom diálogo, a boa prática parlamentar vai garantir a maioria necessária para que a gente possa implementar as medidas que o Brasil hoje precisa”, afirmou o senador eleito pelo Maranhão, no caso de uma eventual vitória de Lula.
Embora não creia na vitória de Bolsonaro, Dino aceitou o exercício de “imaginar o apocalipse”. É assim que ele definiu, na entrevista, a hipótese. “Nós teríamos a concentração de poderes na mão de um só homem”, considera. “E não é qualquer homem. É um homem que tem somente uma regra: aquela segundo a qual regras não existem”. Na avaliação de Dino, Bolsonaro é um “desatinado”, um “desvairado”, que “ concentraria nas suas mãos o poder Executivo, teria uma sólida maioria parlamentar e, com certeza, patrocinará medidas de agressão, de retaliação ao Supremo Tribunal Federal para intimidá-lo, alterar a sua composição e formar maioria”.
PublicidadeVeja abaixo esse trecho da entrevista:
Erros e acertos
Flávio Dino avaliou na entrevista os erros e acertos que observa na campanha de Lula, a quem apoia. Para ele, o maior acerto está na grande ampliação de apoios, transformando a candidatura na construção de uma grande frente em defesa da democracia, que estaria ameaçada no caso de uma reeleição de Bolsonaro. No caso, ele cita a importância agora da tentativa de ampliação junto ao segmento evangélico com a carta feita por Lula para os que professam tal crença.
Dino, porém, reconhece problemas. Que seriam, segundo ele, “derivados de uma novidade”. O senador eleito reconhece que o grupo tem maiores dificuldades em lidar com a guerra de desinformação lançada nas redes sociais, com o abuso de disseminação de fake news. “O maior problema da campanha até aqui é que ainda não encontramos a melhor atitude, a melhor resposta a esse fenômeno que aparentemente veio para ficar”.
Flávio Dino observa, no entanto, que, nesse sentido, a entrada do deputado André Janones (Avante-MG) no grupo que atua em favor de Lula nas redes sociais produziu efeitos. “Uma campanha não é produzida a partir de uma única estratégia”, diz Flávio Dino. “É preciso cotejar as colaborações que o Janones traz com outras visões. Creio que ele tenha ajudado, mas nós temos outros personagens, outras personalidades do mundo digital que também têm feito um trabalho notável”, diz o senador eleito, que cita, então, a colaboração do digital influencer Felipe Neto.
Veja abaixo esse trecho:
Flávio Dino diz acreditar que Lula irá crescer agora em todos os estados com relação ao que teve no primeiro turno. “Inclusive no Maranhão”, afirma ele, onde Lula já teve no primeiro turno 69% dos votos válidos.
Veja o que Flávio Dino diz nesse trecho:
Discurso sobre corrupção
O debate ocorrido na Band no último domingo (16) mostrou que Lula tem dificuldades para lidar com o tema da corrupção nos governos petistas, nos episódios conhecidos como petrolão e mensalão. Dino avalia as respostas dadas. Reforça que Lula tem dado as devidas respostas no sentido de afirmar que tudo o que veio à tona só foi possível porque houve investigação, ao contrário do que acontece hoje com as denúncias sobre o governo Bolsonaro.
Mas Dino considera que Lula precisa ainda achar meios de dar explicações mais concisas e claras a esse respeito. Quando no debate da Band esse tornou-se o tema central, Lula perdeu-se em explicações longas e acabou gastando todos os 15 minutos de que dispunha, deixando Bolsonaro livre para falar sem réplica por mais de cinco minutos.
“Houve corrupção na Petrobras? Sim, claro que houve. As pessoas foram julgadas e condenadas, foram presas, devolveram dinheiro, etc. A pergunta a ser feita: não há corrupção no governo Bolsonaro? Claro que há”, afirma.
Veja o trecho: