Já nem me lembro quando ouvi, pela primeira vez, a frase “jamais gaste seu tempo dando explicações: seus amigos não precisam, os inimigos não acreditam e os estúpidos não vão entender”.
De autoria desconhecida, o fato é que esse pensamento me veio à lembrança porque, nos tempos atuais, cada vez mais nos deparamos com situações em que a intolerância e a falta de argumentos colocam em cheque o próprio ambiente de urbanidade e de relações cordiais que deve reger qualquer convivência em sociedade.
Preocupa-me a agudização desse espírito beligerante de ódio aflorado e destruidor dos mais simples estágios de socialização.
Aí, reporto-me à necessidade de, muitas vezes, mesmo considerando infrutífero, ter que explicar ou tentar explicar alguns fatos ou situações. Quando decidimos nos dedicar à vida pública, em qualquer nível, temos a obrigação primária de lutar pela construção de uma ambiência de verdade e transparência.
Em tempos de mentiras pródigas e fake news abundantes, não temos como nos privar de ajudar na construção de um sentimento de indignação permanente a essa prática deletéria, buscando combater com espírito de cidadania esse deliberado conjunto de falácias e mentiras.
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Precisamos nos vestir da mais completa capacidade de paciência e tolerância. Explicar o Brasil de hoje, parece surreal e impossível. Mas não podemos desistir.
PublicidadeLembro-me do que disse o suíço Jean Piaget, um dos mais reconhecidos construtores de teorias da aprendizagem: “o principal objetivo da educação é criar pessoas capazes de fazer coisas novas e não simplesmente repetir o que outras gerações fizeram”.
É pela educação que vamos deixar um legado de criticidade e de inventividade para as novas gerações, notadamente na capacidade de leitura de mundo, porque explicar o que está acontecendo, na atualidade, no nosso País, parece carecer de argumentos e de capacidade de transmitir as ideias. Como explicar, por exemplo, que apareçam figuras públicas ou não defendendo ditadura como remédio para garantir liberdade de expressão?
Como explicar o negacionismo e o combate à ciência em tempos de pandemia?
A qualquer tempo isso soa insano e delirante. Mas parece que vamos ter que conviver com aberrações similares por algum tempo. O ódio e a estupidez parecem ter empanado o sentimento de lucidez e os primados de inteligência mínima em alguns casos.
Mas se, segundo Albert Einstein, “o mundo não está ameaçado pelas pessoas más, e sim por aquelas que permitem a maldade”, não vamos nos omitir e permitir que o mal se mantenha prosperando e, mesmo correndo o risco de não sermos críveis pelos inimigos e não entendidos pelos estúpidos, vamos agir, também em consideração aos nossos amigos e, redundantemente, vamos buscar explicar o que está acontecendo.
Daqui a seis meses, vamos às urnas e, até lá, vamos tentar explicar a cena brasileira, onde um país com a riqueza mineral que tem, com a biodiversidade e ecossistemas que detém, com a gente boa e trabalhadora que lhe construiu, chega a padecer de tantos males.
Como vamos explicar porque temos 14 milhões de desempregados? Como vamos explicar que o comprador de iates e aviões não paga impostos e o trabalhador que adquire uma motocicleta para fazer entrega é tributado?
Como justificar que o governo até hoje não buscou ajudar os mais de 60 milhões de brasileiros humilhadas no endividamento com seus nomes negativados no sistema de crédito??
Quero crer que vamos sempre precisar de uma dose extra de paciência para conseguir explicar como mudamos tudo isso a partir do exercício do voto de cidadão.
Por isso, acho que nem vou precisar explicar porque acredito em Einstein quando disse que “o primeiro dever da inteligência é desconfiar dela mesma”. Temos capacidade sim de reverter a atual situação!!!