Em entrevista concedida esta semana à TV Cidade Verde, do Piauí, o presidenciável Jair Bolsonaro (PSL) disse que vai acabar o “coitadismo” dos nordestinos, homossexuais, negros e mulheres caso ele seja eleito. Segundo o candidato, as políticas afirmativas reforçam o preconceito.
“Você não tem que ter uma política pra isso. Isso não pode continuar existindo. Tudo é coitadismo, coitado do negro, coitada da mulher, coitado do gay, coitado do nordestino, coitado do piauiense”, disse.
As políticas afirmativas, porém, existem por algum motivo. São ações tomadas pelo Estado temporárias ou não para eliminar desigualdades históricas e garantir igualdade de oportunidade. Estatísticas comprovam que os grupos citados por Bolsonaro não têm acesso às mesmas oportunidades que o resto dos brasileiros, por isso, a necessidade de combater as desigualdades.
Mulheres
A violência contra mulheres não é novidade. De acordo com dados do Mapa da Violência de 2015, o Brasil registrou em 2013 uma taxa de 4,8 homicídios para cada 100 mil mulheres, a quarta maior do mundo. Nossa taxa é, por exemplo, 48 vezes maior que a do Reino Unido e 24 vezes maior que da Irlanda ou Dinamarca.
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Apesar da paridade salarial entre homens e mulheres estar prevista na legislação trabalhista, a realidade é muito diferente. Dados da última Relação Anual de Informações Sociais (Rais) do Ministério do Trabalho, por exemplo, mostram que a remuneração média feminina corresponde a 85% do salário dos homens. Ainda segundo o estudo, mulheres têm menos acesso a postos de trabalho mais bem remunerados e recebem salários menores que homens que desempenham a mesma função.
PublicidadePesquisa do site Catho, de busca de empregos, divulgada em março deste ano, mostra que mulheres recebem menos que homens em todos os cargos, áreas de atuação e níveis de escolaridade. A diferença salarial chega a quase 53%, segundo o levantamento.
Na mesma entrevista, Bolsonaro disse que a política de cotas está equivocada e que a “divisão de classes” reforça preconceitos.“Isso tudo é maneira de dividir a sociedade. Não devemos ter classes especiais por questão de cor de pele, por questão de opção sexual, por região, seja lá o que for. Somos todos iguais perante a lei”, declarou. Para o candidato, vai se destacar, o brasileiro que se empenhar “pelo mérito”.
Negros
A política de cotas foi implementada nas universidades brasileiras em 2003, com o objetivo de aumentar o número de negros nas escolas e, posteriormente, no mercado de trabalho. Em 2012, a Lei nº 12.711/2012 tornou obrigatório que as universidades garantissem 50% das vagas para alunos de renda inferior a um salário mínimo e meio e para estudantes que se declaram pretos, pardos e indígenas.
Na Universidade de Brasília (UnB), que aplica a política há 15 anos, 47 mil alunos tiveram acesso a cursos de graduação e pós-graduação por meio das cotas.
Ainda de acordo com a Rais, do Ministério do Trabalho, dos empregados que autodeclararam raça ou cor, 56,5% são brancos, enquanto 36,7% são pardos e 5,8%, pretos. Os indígenas representam 0,2% da força de trabalho e os que se declaram amarelos, 0,8%.
Além disso, os dados de violência contra negros são assustadores. De acordo com o Atlas da Violência, em 2016 a taxa de homicídios de negros foi 40,2%, duas vezes maior que a de não negros, 16%. Entre 2006 e 2016, a taxa de homicídios de negros cresceu 23,1% enquanto a de não negros caiu 6,8%. A taxa de assassinatos de mulheres negras foi 71% superior à de mulheres não negras.
LGBTI
A violência contra gays, lésbicas, bissexuais e transexuais também produz dados alarmantes. De acordo com estudo do Grupo Gay da Bahia (GGB), o Brasil é o país que mais mata LGBTs no mundo. No ano passado, foram registrados 445 casos de homicídios relacionados à LGBTIfobia – quando a razão do assassinato é a orientação sexual. Segundo o levantamento, a cada 19 horas um LGBTI é assassinato ou se suicida no Brasil por causa do preconceito, o que torna o país líder mundial desse tipo de crime.
Nordestinos
O último grupo acusado pelo candidato de sofrer de “coitadismo” é formado pela população do Nordeste. A região é a mais pobre do Brasil, com menor PIB per capita – razão do PIB pela quantidade de habitantes – em comparação com as outras regiões. Em 2013, o PIB per capita do Nordeste ficou em R$ 12 mil, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e o do Sudeste, região com maior índice, chegou a R$ 34 mil. O Piauí, da TV Cidade Verde, para a qual ele deu a declaração, é o penúltimo dos estados, com PIB per capita de R$ 12 mil, atrás apenas do Maranhão, que chega a R$ 11 mil.