Adélio Bispo Oliveira, de 40 anos, cresceu com o apelido de um personagem de novela. Era o Tonho da Lua, do ensino fundamental, de uma escola de Uberaba, em Minas Gerais. Às vezes feliz, às vezes triste, numa transição que o diferenciava dos outros. Os colegas viam nele um ser confuso, difícil de entender. Agora um país inteiro tenta compreendê-lo. Não só ao próprio Adélio, como a todos os que brigam e insistem no script de um país dividido entre o bem e o mal, a exemplo de protagonistas de uma mesma novela, como Ruth e Raquel em “Mulheres de Areia” (TV Globo).
Naquela época, a representação na TV de um doente mental que desenhava esculturas de mulheres na areia fazia sucesso. Adélio tinha 15 anos.
Observado pelos colegas, era visto como alguém com sérios problemas mentais. Mesmo assim, ao vê-lo na TV – não como Tonho, mas no papel de Adélio – acusado de um grave crime, um ex-colega de escola comentou em suas redes sociais que era “muito triste ver uma pessoa que não recebeu tratamento adequado se envolvendo num episódio desses”. Era uma escola de alunos difíceis, que repetiam muitas séries.
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Na véspera do feriado da Independência, Adélio escreveu um capítulo decisivo das eleições deste ano, durante ato de campanha do presidenciável Jair Bolsonaro em Juiz de Fora (MG). Ele diz que saiu de casa com uma faca em busca do melhor momento para golpear o candidato do PSL.
Foi pego em flagrante, e o imprevisível momento da facada foi registrado por diferentes ângulos de lentes profissionais – na maioria das gravações, em celulares de militantes do próprio Bolsonaro. Todos espectadores da novela da vida política tupiniquim.
O nome de Adélio está na rua onde ele cresceu. Localizada no bairro de Boa Vista, a Rua Adélia Maluf, em Minas Gerais, foi seu reduto quando mais novo.
Hoje mora em Montes Claros, diz em seus perfis nas redes sociais. Mas, atualizando, seus dias têm sido no presídio federal em Campo Grande (MS). Ninguém sabe até quando. Nem mesmo a defesa quer que a rotina do criminoso confesso seja alterada.
“Você acha que tem lugar para Adélio no Brasil?”, sintetiza um de seus advogados, Zanone Júnior.
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