A política brasileira, há décadas, é marcada por uma crescente desconfiança. Escândalos de corrupção, crises econômicas e políticas e a percepção de ineficiência governamental têm alimentado um sentimento de descrença entre a população. Uma pesquisa do Instituto Locomotiva/Ideia Big Data destaca uma crise alarmante de representatividade e transparência na política brasileira. Um total de 96% dos entrevistados afirmou não se sentir representado pelos políticos atuais, enquanto 95% criticaram a falta de transparência desses representantes. Além disso, 94% dos participantes expressaram a crença de que os governantes não levam em conta o bem-estar público ao tomar decisões, e 89% acreditam que os políticos não estão adequadamente preparados para desempenhar seus mandatos de maneira eficaz.
Hoje, sou vereadora na cidade de São Paulo, a maior da América Latina. Mas, por muito tempo, fui uma dessas pessoas descrentes na política e no Brasil. Há dez anos, em 2013, enquanto ocorriam as “Manifestações dos 20 centavos” em várias cidades brasileiras como uma resposta ao aumento das tarifas de transporte público, à corrupção, à má qualidade dos serviços públicos e aos gastos excessivos com a Copa do Mundo de 2014, eu era uma executiva de banco. Até então, eu era a pessoa que votava a cada quatro anos, escolhendo o candidato na véspera da eleição. Mas os ideais dos protestos de 2013 e os brasileiros que saíram de suas casas em prol de um bem maior me fizeram perceber que talvez eu pudesse contribuir para uma mudança ainda maior.
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E se, em vez de escolher em quem votar na véspera da eleição, eu me envolvesse ativamente na política e retribuísse, de alguma forma, tudo o que a vida me proporcionou mesmo saindo de um bairro pobre e sem muitas perspectivas? Essa ideia amadureceu até que, em 2020, de forma quase impulsiva, abandonei tudo para me dedicar a um Brasil melhor e fui eleita. Hoje, dez anos depois das manifestações dos 20 centavos, muita coisa mudou. Nosso país se polarizou, se dividiu em diversos grupos, e a confiança do brasileiro no governo é de 2,3 em uma escala de 1 a 5, segundo a Oliver Wyman Consultoria.
É perfeitamente compreensível que os brasileiros estejam descrentes da política brasileira. A sensação de desconfiança é tão profunda que a ideia de colocar o próprio nome na urna chega a ser um delírio. Afinal, os problemas enfrentados pelo país são extremamente desafiadores, complexos e, muitas vezes, parecem insuperáveis, alimentando um ciclo de apatia e desesperança em relação ao sistema político como um todo. A população da cidade de São Paulo, por exemplo, é maior do que a de países como Portugal e Grécia, é muito maior do que a do Paraguai e Uruguai. Mas, dependendo do local em que nasce, uma pessoa pode viver com índices de desenvolvimento humano similares aos encontrados no Gabão.
Um levantamento da Rede Nossa São Paulo revelou que em Cidade Tiradentes, extremo da Zona Leste, a gravidez na adolescência é comum. Lá, 13% dos partos são de mulheres com menos de 20 anos, índice que chega a praticamente zero no bairro de Moema. No Grajaú, outro distrito com índices baixos no mapa da desigualdade, existem cinco ofertas de trabalho para cada 100 pessoas, bem diferente do Jardim Paulista, onde existem 125 ofertas de trabalho para cada 100 pessoas.
Apesar das adversidades sociais e econômicas que o Brasil enfrenta, existe uma luz de esperança para mudança e transformação. A implementação de políticas públicas baseadas em evidências científicas e dados concretos pode ser um catalisador poderoso para a melhoria da qualidade de vida da população. Mas não podemos negar, a política é o setor que tem a capacidade de efetuar essas mudanças de maneira mais direta e impactante. Por isso, é crucial que os cidadãos se envolvam ativamente no processo político, escolhendo e cobrando seus representantes com discernimento e responsabilidade. Não é necessário se candidatar para exercer esse papel; cada indivíduo tem o poder de contribuir para essa transformação por meio de sua voz e voto consciente.
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