A educação é sempre mencionada em campanhas. Mas, entra governo e sai governo, não vira prioridade nos mandatos.
A história é sempre a mesma: não está na hora. Primeiro, a campanha. A maioria dos governadores já está eleita ou reeleita. Era preciso ganhar o pleito. Planos são encomendados aos responsáveis pelas campanhas – e neles só entram ideias politicamente convenientes. Os raros debates se convertem em discussões sobre temas sensíveis, acusações ou picuinhas associadas ao passado dos candidatos ou à agenda dos entrevistadores.
O tratamento dado à educação nessa fase é muito diferente de outros setores menos complexos e nos quais existe mais consenso sobre o problema ou sobre a solução, carências mais óbvias e sobretudo grupos de pressão mais fortes e organizados com bala na agulha – para usar uma expressão da moda… Infraestrutura, segurança, transporte, emprego e benefícios sociais costumam fazer parte dessa pauta. Nem a saúde escapa – no meio a tantas questões estruturais ainda há espaço para prometer a construção de hospitais. Isso ilustra bem o drama – o eleitor, mesmo em estados mais desenvolvidos – não quer discutir o SUS, quer o hospital perto de casa.
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Treino é treino, jogo é jogo. É o que sempre dizem. Terminada a campanha prometem tratar da educação. Mas findo o processo na maioria dos estados, permanece o desafio de eleger o presidente do país. E a hora da educação não chega. Quando o presidente for eleito, primeiro, será necessário escolher a equipe. Escolhida, será a vez de resolver as demandas emergenciais.
Depois da posse, em qualquer esfera, são raríssimos os governantes que reservam tempo, espaço e atenção às questões da educação. Na verdade, isso nunca foi, de fato, sua prioridade. Há outras urgências. Depois, sempre se espera alguma coisa que poderá vir do MEC. E por aí vai.
Assim vive a educação no Brasil. Faltam estadistas para liderar uma revolução na área ou, ao menos, para colocá-la no rumo certo. Faltam governos e governantes legitimamente comprometidos com a causa da educação. Que estudem a questão, conheçam a fundo o setor ou tenham disposição para trazer ao centro decisório gente séria e comprometida com resultados, com o que funciona de fato na educação, analisando friamente os dados e as possibilidades e não se deixando levar pelo ruído das assembleias, pelos slogans baratos do gerencialismo, do “agora vai” ou pelo charme da burguesia incarnado em “ongs de salto alto”.
PublicidadeFaltam governantes que efetivamente priorizem o setor, com planos e metas bem definidos. Que invistam seu prestígio e cacife político – especialmente nos primeiros 100 dias – para remover os maiores entraves e abrir novos caminhos para a educação. Para não dizer que não falei de flores, recorro ao poético refrão de Geraldo Vandré: “Vem, vamos embora que esperar não é saber. Quem sabe faz a hora, não espera acontecer”.
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