Poderíamos dizer que é cansativo reafirmar constantemente que o Distrito Federal é uma das unidades federativas mais ricas do país e ao mesmo tempo a mais desigual. Mas cansativo mesmo é observar que ao longo dos anos esse cenário não se altera. Em 2019, o DF registrou o 8º maior PIB do Brasil e a maior renda per capita do país. Em 2020, figuramos, segundo o IBGE, como a unidade mais desigual, tendo batido um índice de Gini de 0,548, enquanto a média nacional é de 0,524.
Analisando a estruturação da economia produtiva do DF, identificamos que essa é composta, principalmente, pelos setores de comércio e serviços e administração pública. A forte presença das atividades governamentais torna o quadro do emprego mais engessado, o que dificulta a margem para mudanças estruturais. Claramente a administração pública é uma porta pequena para ser a fonte financeira de todos os nossos cidadãos e o comércio exclusivamente não é suficiente para abarcar as pessoas que deram de cara com essa porta fechada.
A alteração dessa realidade envolve múltiplos fatores. Por óbvio, a solução passa pela ampliação e estruturação dos programas de assistência social distrital, o investimento no mercado e indústria locais, isenções fiscais para aquecimento da economia. Mas, além do básico – que vemos pouca vontade política para que seja realizado -, quais são as soluções para tornar nosso Distrito mais justo, independente e com uma economia fluida?
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A palavra de ordem para melhorar a distribuição de renda no DF deve ser a diversificação. Observar as vocações do nosso território, trabalhar no desenvolvimento local descentralizado e sair da zona de comodidade dos governos podem nos levar a soluções um pouco mais poéticas como é o caso da economia criativa. Ela, assim como outras áreas econômicas, é pouco explorada e apoiada, mas com a devida atenção poderia movimentar mais empregos, desenvolvimento de produtos, distribuição de renda e assim nossa economia local.
A economia criativa precisa ser vista como parte para a saída da crise atual. Somos uma capital de país planejada que possui grande riqueza cultural, arquitetônica e ecológica, tornando assim nosso território propício à capitalização financeira através da cultura. Visando o desenvolvimento humano, econômico, cultural e social, esse tipo de economia abarca atividades que utilizam, entre outros fatores, o capital criativo e humano encontrado nas artes, tanto visuais quanto performáticas, no turismo urbano e rural e no patrimônio cultural.
Esse modelo pode auxiliar no aquecimento da economia ao atrair o público externo, ao mesmo tempo que amplia a reinjeção da renda gerada no próprio DF. Os investimentos nessas atividades estimulam a economia local e são capazes de aumentar a oferta de emprego no Distrito Federal, além de estimular diretamente na instrução da população para o desenvolvimento dessas atividades.
PublicidadeOutra característica que se encontra na essência da economia criativa é o baixo impacto ambiental de forma generalizada. Esse modelo contribui no desenvolvimento de um maior sistema protetivo das riquezas naturais da região. A valorização da sustentabilidade é fundamental para a ampliação dessas atividades, como ocorre, por exemplo, com o ecoturismo.
O resultado de todos esses pilares da economia criativa é a inclusão social. Passamos a ter mais pessoas produzindo, criando seus modelos de negócio, apostando em relações comerciais mais colaborativas nas suas comunidades, tornando a economia do DF mais cooperativa e gerando renda e lucros de forma descentralizada.
Para concretizar essa aposta econômica, o Estado precisa ir muito além do subsídios para alguns shows, corridas e instalação de luzes de Natal com dinheiro público. É necessário compreender, através de diagnósticos, quais são os setores criativos com maior potencial no cenário econômico distrital, identificando seus atores e projetos para assim apoiar iniciativas de economia criativa de forma estruturada.
Algumas das medidas necessárias, mesmo sem diagnósticos complexos, são constantemente demandadas por parte dos artistas e produtores culturais do DF, como a necessidade de ampliação do acesso de crédito e financiamento, capacitação técnica e empresarial. Esse anseio dos envolvidos com a economia criativa para serem apoiados representa o sonho de visibilidade e ampliação do mercado de consumidores, pois sem isso a economia criativa jamais será realmente significativa do ponto de vista econômico.
A falta de apoio histórico e de um plano de desenvolvimento para a economia criativa por parte do GDF, somada ao contexto pandêmico desencadeou um grande impacto nessa cadeia de trabalho, reduzindo drasticamente a renda dos trabalhadores. O cenário pandêmico trouxe uma grande instabilidade econômica aos artistas, fornecedores, profissionais de backstage (nos bastidores), pequenos empresários, agentes e promotores culturais. É urgente a criação de um plano de recuperação econômica a todos esses profissionais da economia criativa, com renda básica emergencial e apoio financeiro a projetos. Sem isso, é impossível garantir uma recuperação saudável e ampliação do setor.
Exemplo de medidas necessárias nesse plano de recuperação são as criações de linhas de crédito com flexibilização de garantias reais e limites, fundos garantidores e planos de negócio com prazos extensos de carência e amortização para dar autonomia a novos projetos e empreendimentos da economia criativa em nível local. O apoio só será efetivo se considerar a flexibilização necessária para que ele se recupere da atual crise. Isso exige então que o poder público determine, por exemplo, no caso do BRB, que suas prioridades são os pequenos produtores locais e não o Flamengo.
Outra política que também merece destaque é a capacitação. Para que os empreendimentos e investimentos na economia criativa no DF sejam sustentáveis, os profissionais precisam ter acesso a formação, seja contínua ou pontual, para desenvolver as devidas competências de gestão. Pois a consolidação do ambiente empreendedor passa pela solidez de gestão empresarial e capacidades técnicas relacionadas ao setor.
Por fim, a descentralização de equipamentos culturais pelas regiões administrativas, além de ser uma obrigação do Estado para garantir à população brasiliense seu direito social de acesso à cultura, é um caminho para ampliar a demanda por serviços culturais e atrair novos públicos e empreendedores na área.
Fica evidente que, para criar um ambiente favorável ao desenvolvimento de atividades artísticas, turísticas e culturais, são necessárias políticas públicas que ampliem a adesão do público, protejam os artistas e estimulem a criação de novos empreendimentos na área. Esses inúmeros estímulos fazem parte do conjunto de sonhos e estratégias que podem colaborar com a diminuição do desemprego, da pobreza, da desigualdade e da concentração de renda. Valorizar a diversidade cultural do DF é transformar nosso mosaico cultural em ferramenta para um futuro melhor.
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