O documentário “A Câmara”, dirigido por Cristiane Bernardes e Tiago de Aragão, venceu no último sábado (7) o prêmio de melhor filme pelo júri popular da Mostra Brasília na 57ª edição do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. O longa-metragem foi realizado pela produtora brasiliense Sal e contou com apoio do Congresso em Foco durante a produção.
“Eu estou tão feliz com esse prêmio. Eu acabei de falar ali que o júri popular é um prêmio tão legal, porque significa que a produção conectou com as pessoas. Então, agradeço ao público de Brasília por ter reconhecido nosso filme. Tomara que a gente consiga mostrar ele [o filme] em vários outros lugares”, disse a diretora Cristiane Bernardes ao receber o Troféu Candango.
A obra acompanha deputadas federais de diferentes partidos políticos no último ano do governo Jair Bolsonaro, em 2022. Ao direcionar a câmera às mulheres que ocupam a Câmara dos Deputados, o longa reflete também a sub-representação delas no Congresso Nacional. Embora representem mais da metade da população brasileira, as mulheres ocupam apenas 18% das cadeiras do Legislativo. Esta é, ainda assim, a maior bancada feminina da história do Congresso Nacional.
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Em 19 de agosto, o longa estreou no Distrito Federal em sessão gratuita no Cine Brasília. A exibição foi seguida de debate com a equipe do filme. No último domingo (8), o documentário foi reexibido, juntamente com “Salomé”, vencedor do prêmio do júri na Mostra Competitiva Nacional.
“Sinceramente, eu nunca esperei ganhar um prêmio de júri popular no festival”, disse o diretor Tiago de Aragão. Em seguida, o documentarista celebrou o companheirismo no setor audiovisual. “Só quero agradecer a ‘companheirada’ parceira do cinema, a gente é uma rede de apoio. O cinema é lindo, mas não é um meio fácil, não é uma luta fácil, e cada um se ajuda”.
A diretora Cristiane Bernardes explica que a importância do projeto está em demonstrar a falta de representação feminina, que mesmo sendo mais de 50% da população brasileira ainda é uma minoria política. “O filme tem esse objetivo de mostrar um pouco o trabalho das mulheres, a diversidade das mulheres que ocupam essas posições e também a injustiça que é nós não ocuparmos proporcionalmente, com equidade, essas posições de poder”.
Ao longo dos 89 minutos do documentário essa diferença na representação no Congresso pode ser observada nas discussões sobre temas como direitos reprodutivos, Estado laico e polarização política sob um recorte das parlamentares. Com raízes na perspectiva documental do cinema observacional, “A Câmara” vai do público ao privado, dos discursos nas comissões e plenário às articulações e conversas nos corredores e gabinetes.
“Nossa aposta foi em um filme pautado no cotidiano e na observação dos pequenos detalhes. O filme tenta abarcar a complexidade do jogo performático e de relações que impera no Congresso”, diz o diretor Tiago de Aragão. “Foi desafiante porque a agenda do Congresso é bem instável, mesmo com planejamento junto aos gabinetes, a gente sabia que tudo poderia ir por água abaixo”.
Com rodagem em festivais, como o Festival DocLisboa, onde estreou mundialmente em outubro de 2023, a 27ª Mostra de Cinema de Tiradentes e o 5º PiriDoc. “A Câmara” também teve sessões na Inglaterra, França e em universidades brasileiras.
Além disso, o documentário também se relaciona com a pesquisa acadêmica na área. O longa é um dos resultados da pesquisa internacional “Etnografia Global Comparada de Parlamentos, Políticos e Cidadãos” (Global Comparative Ethnographies of Parliaments, Politicians and People), coordenada pela antropóloga Emma Crewe, da Universidade de Londres (SOAS). A pesquisa e também o filme foram financiados pelo Conselho Europeu de Pesquisa (European Research Council).