Um dos mais longevos e tradicionais festivais de cinema do país, o Festival de Brasília do Cinema Brasileiro anunciou nessa quarta-feira (6) as produções que participam da 57ª edição do evento. O documentário “A Câmara”, dirigido por Cristiane Bernardes e Tiago de Aragão, foi selecionado para competir na Mostra Brasília. O longa-metragem foi realizado pela produtora brasiliense Sal e contou com apoio do Congresso em Foco durante a produção.
A obra acompanha deputadas federais de diferentes partidos políticos no último ano do governo Jair Bolsonaro, em 2022. Ao direcionar a câmera às mulheres que ocupam a Câmara dos Deputados, o longa reflete também a sub-representação delas no Congresso Nacional. Embora representem mais da metade da população brasileira, as mulheres ocupam apenas 18% das cadeiras do Legislativo. Esta é, ainda assim, a maior bancada feminina da história do Congresso Nacional.
Em 19 de agosto, o longa estreou no Distrito Federal em sessão gratuita no Cine Brasília. A exibição foi seguida de debate com a equipe do longa, mediado pelo jornalista e fundador do Congresso em Foco, Sylvio Costa. A diretora do filme, Cristiane Bernardes, celebrou a seleção para o festival.
Leia também
“Nós ficamos muito felizes com a seleção do nosso documentário para a Mostra Brasília, do Festival de Brasília”, disse a diretora à reportagem. “Achamos que foi um reconhecimento do acerto da nossa produção de abordar um tema que é tão central para o desenvolvimento da democracia no nosso país e em todos os países nesse momento, que é a representação institucional das mulheres, a presença institucional das mulheres nos espaços de poder”.
No Festival de Brasília, o documentário “A Câmara” será exibido no dia 5 de dezembro na sala Vladimir Carvalho, no Cine Brasília. A alteração do nome da sala foi anunciada nessa quarta, em homenagem ao legado do documentarista e professor de Cinema na Universidade de Brasília (UnB), falecido no último mês, aos 89 anos.
Os quatro longa-metragens e oito curtas selecionados para a Mostra Brasília concorrem ao Troféu Câmara Legislativa. Com apoio da Casa, as produções vencedoras recebem prêmios em dinheiro. Neste ano, serão destinados R$ 240 mil em prêmios a fim de fortalecer o setor audiovisual do Distrito Federal.
PublicidadeAssista ao trailer:
Sobre o filme
A diretora Cristiane Bernardes explica que a importância do projeto está em demonstrar a falta de representação feminina, que mesmo sendo mais de 50% da população brasileira ainda é uma minoria política. “O filme tem esse objetivo de mostrar um pouco o trabalho das mulheres, a diversidade das mulheres que ocupam essas posições e também a injustiça que é nós não ocuparmos proporcionalmente, com equidade, essas posições de poder”.
Ao longo dos 89 minutos do documentário essa diferença na representação no Congresso pode ser observada nas discussões sobre temas como direitos reprodutivos, Estado laico e polarização política sob um recorte das parlamentares. Com raízes na perspectiva documental do cinema observacional, “A Câmara” vai do público ao privado, dos discursos nas comissões e plenário às articulações e conversas nos corredores e gabinetes.
“Nossa aposta foi em um filme pautado no cotidiano e na observação dos pequenos detalhes. O filme tenta abarcar a complexidade do jogo performático e de relações que impera no Congresso”, diz o diretor Tiago de Aragão. “Foi desafiante porque a agenda do Congresso é bem instável, mesmo com planejamento junto aos gabinetes, a gente sabia que tudo poderia ir por água abaixo”.
Com rodagem em festivais, como o Festival DocLisboa, onde estreou mundialmente em outubro de 2023, a 27ª Mostra de Cinema de Tiradentes e o 5º PiriDoc. “A Câmara” também teve sessões na Inglaterra, França e em universidades brasileiras.
Além disso, o documentário também se relaciona com a pesquisa acadêmica na área. O longa é um dos resultados da pesquisa internacional “Etnografia Global Comparada de Parlamentos, Políticos e Cidadãos” (Global Comparative Ethnographies of Parliaments, Politicians and People), coordenada pela antropóloga Emma Crewe, da Universidade de Londres (SOAS). A pesquisa e também o filme foram financiados pelo Conselho Europeu de Pesquisa (European Research Council).