Separados pela Rua da Consolação e distantes entre si apenas 2,7 quilômetros, movimentos de esquerda e direita fizeram de São Paulo, neste domingo, 1º de maio, palco de manifestações no Dia do Trabalhador. De um lado, na Praça Charles Miller, centrais sindicais realizam ato pela democracia e pelos trabalhadores com a presença do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, candidato do PT à Presidência. Na Avenida Paulista, aliados do presidente Jair Bolsonaro (PL), que tenta a reeleição, promoveram manifestação em defesa do deputado Daniel Silveira (PTB-RJ) e pela liberdade de expressão.
Diversas manifestações foram marcadas em várias cidades do país, de acordo com os organizadores de cada lado da disputa eleitoral (veja abaixo onde estão marcadas manifestações). Em Brasília, os grupos favoráveis ao presidente Jair Bolsonaro fizeram pela manhã uma motociata e depois uma manifestação na Esplanada dos Ministérios.
De um modo geral, porém, os atos tanto pró-g0verno como de oposição se mostraram menores que a expectativa inicial dos organizadores.
Após gafe, Lula se desculpa com policiais
Às 15h19, o ex-presidente e atual pré-candidato Luiz Inácio Lula da Silva deu início ao seus discurso pedindo desculpas aos policiais após falas contra a categoria na Vila Brasilândia, na zona Norte de São Paulo, no sábado (30).
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“Eu queria aproveitar esse ato de trabalhadores para começar fazendo uma coisa que neste país as pessoas não costumam dizer. Ontem eu fui na zona norte, na Brasilândia, fazer um ato com as mulheres para discutir o custo de vida. E, quando eu estava fazendo o discurso, eu queria dizer que o Bolsonaro só gosta de milícia, não gosta de gente, e eu falei que ele só gosta de polícia, não gosta de gente”, explicou Lula referindo-se à gafe do dia anterior. “E eu queria aproveitar e pedir desculpas aos policiais desse país, porque muitas vezes [a categoria] comete erros, mas muitas vezes salva muita gente do povo trabalhador, e nós temos que tratá-los como trabalhador desse país.”
O ex-presidente ignorou os desafios do presidente Jair Bolsonaro ao Judiciário, interpretados como cortinas de fumaça e mirou nas questões trabalhistas e na maior inflação dos últimos 27 anos que o Brasil vem enfrentando. Lula, cuja candidatura será formalizada no dia 7 de maio, fez questão de afirmar que ainda é apenas um pré-candidato à presidência da República.
PublicidadeBolsonaro participa de ato em Brasília
Por volta das 11h30, o presidente Jair Bolsonaro chegou ao ato organizado na Esplanada dos Ministérios. Ele caminhou entre os manifestantes, mas não discursou. Dez minutos depois, entrou no carro e seguiu em direção ao Palácio da Alvorada. O ato, porém, não reuniu muitas pessoas.
Em São Paulo, Bolsonaro apareceu no ato da Avenida Paulista num vídeo em um telão. Em rápido discurso, o presidente agradeceu a “lealdade” da sua militância. Falou ainda em “liberdade” Declarou-se um chefe de governo que acredita “em Deus” e que respeita “os militares, defende a família e deve lealdade ao povo”. E voltou a dar um tom maniqueísta à campanha eleitoral: “O bem vence o mal”.
Veja vídeos da concentração bolsonarista em Brasília:
E os grupos contrários, ligados às centrais sindicais e que apoiam Lula concentram-se no Eixão, na Asa Norte.
Veja vídeo da concentração oposicionista em Brasília:
Lula chega ao ato em São Paulo
De acordo com a jornalista Cátia Seabra, da Folha de São Paulo, Lula adiou sua presença no ato programado em São Paulo à espera de mais público. Em princípio, Lula deveria ter discursado às 13h, mas resolveu esperar por maior presença, contando com a chegada dos fãs da cantora Daniela Mercury. Lula chegou à manifestação às 15h39.
Antes de Lula, pela manhã, o ex-prefeito da capital e pré-candidato ao governo do estado pelo PT, Fernando Haddad, discursou pela manhã no ato das centrais sindicais na Praça Charles Müller no Pacaembu. E criticou o presidente Jair Bolsonaro.
“Ele é um presidente de meio período. Na metade do dia, destrói o país. Na outra metade, brinca de jet sky e de moto. Vamos conter esse homem”. Para Haddad, Bolsonaro pratica “ataque à democracia e à soberania nacional”.
“Todo ato daqui para a frente é importante em defesa da democracia e da soberania nacional. O projeto do Guedes [Paulo Guedes, ministro da Economia] é a destruição da soberania nacional para potências estrangeiras”.
Também em São Paulo, Guilherme Boulos, que disputará uma vaga de deputado federal pelo Psol, disse que as eleições deste ano serão uma disputa da civilização contra a barbárie. “Nas eleições deste ano, estará em jogo a civilização contra a barbárie. Os direitos dos trabalhadores contra a exploração desumana”, discursou. “Esse ato pode ser simbólico por ser um pontapé no processo de mobilização para a derrota de Bolsonaro e a eleição de Lula. Vamos trabalhar para que seja o último 1º de Maio com um miliciano como presidente”.
Em Niterói, ato tem Daniel Silveira
Alvo do desagravo das manifestações bolsonaristas, o deputado Daniel Silveira (PTB-RJ) participa da manifestação que acontece na manhã deste domingo em Niterói. Daniel Silveira foi condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a oito anos e nove meses de prisão, perda do mandato e inelegibilidade pelas suas falas e atos antidemocráticos que ameaçaram ministros do Supremo e defenderam o Ato Institucional 5, o mais forte instrumento autoritário da ditadura militar. Na sequência da decisão do STF, o presidente Jair Bolsonaro concedeu a Daniel Silveira uma “graça”, instrumento de indulto individual, perdoando-o. Os atos bolsonaristas marcados para este domingo têm, segundo os organizadores, o intuito de desagravar Daniel Silveira e defender o que consideram “liberdade de expressão”.
Em Niterói, Daniel Silveira disse poucas palavras e evitou fazer novos ataques ao STF. Ele chegou por volta das 10h15. Daniel Silveira disse que “ficou muito tempo calado” e que a reação às decisões do Judiciário já estavam “muito próximas de acontecer”.
“Se não fosse o presidente Bolsonaro, essa cor amarela e verde não estaria acontecendo, estaria vermelha”, discursou. “Falei por várias vezes no privado com Bolsonaro e garanto para vocês: não tem nada que preocupa mais o presidente do que livrar o Brasil do socialismo que vem avançando”.
Ao final, Daniel Silveira segurou uma placa de rua com o seu nome, semelhante à placa com o nome da ex-vereadora Marielle Franco, assassinada em 2018, que Daniel Silveira destruiu em uma manifestação quando era candidato a deputado pelo PSL