A deputada federal Benedita da Siva (PT-RJ) acusa o PSB e o deputado federal Alessandro Molon (PSB-RJ) de não cumprirem o acordo dos dois partidos no Rio de Janeiro. Em um áudio vazado pelo WhatsApp, a petista afirma que o ex-presidente Lula teria negociado a retirada da candidatura do deputado estadual André Ceciliano ao governo do Rio em troca do apoio do PSB ao seu nome para o Senado.
“Quem não está cumprindo acordo é o PSB. O presidente nacional do PSB [Carlos Siqueira] ouviu e conversou com Lula. E Lula disse: ‘Meu candidato é André Ceciliano no Rio de Janeiro’. Sabe por que? Não sei se o companheiro acompanhou, mas André Ceciliano no primeiro momento era candidato ao governo do estado”, disse Benedita, que também acusa Molon de minar o projeto eleitoral de Freixo.
De acordo com a deputada, Freixo não é o culpado pela ruptura do PT-RJ com sua campanha. “O Freixo por sua vez está sendo queimado, e não é pelo PT. O PT tá aqui para dar toda força ao Freixo. Mas pera aí meu amigo, que isso? O maior partido da América Latina, o maior partido de esquerda do RJ fica fora da chapa. (…) O partido dele está preferindo apoiar uma candidatura ao Senado do que o governo do estado, mesmo com o Freixo provando, ao menos pelas pesquisas, que pode ganhar o governo do estado. (…) Na hora de dizer o não, a gente vai dizer que o PT é o culpado?”.
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“Está na cara que Molon não é militante. Não foi no PT quando as coisas ficaram ruins. E não está sendo também agora. Nunca fez um discurso em favor de Dilma [Rousseff, ex-presidente que sofreu o impeachment em 2016]. É ele que quer minar a candidatura de Freixo. Por que ele não diz: ‘Eu vou ser o candidato a governador pelo PSB?’. Porque ele sabe que ele não vai ter esse apoio que ele está pensando ter para ser governador do estado”. Antes de se filiar ao PSB, Molon pertenceu ao PT do Rio, e saiu do partido durante a Operação Lava-Jato, alegando que o PT estava corrompido.
Apesar da divergência com o diretório do PT, Molon ainda conta com apoio de uma parcela de parte da esquerda fluminense, contrária à candidatura de Ceciliano. Isso inclui quadros do próprio PT, o que revoltou a parlamentar. “Eu estou mesmo indignada de ver um monte de petistas, que não estão acompanhando coisa nenhuma, que não tem vida partidária, que não acompanham absolutamente nada e dão umas opiniões que ao invés de fortalecer o partido, enfraquecem”, declarou.
Ouça o áudio da conversa de Benedita da Silva:
Desembarque
Nesta terça-feira (2), o PT do Rio de Janeiro aprovou uma resolução interna para que o partido desembarque da candidatura do deputado federal Marcelo Freixo (PSB-RJ) ao governo. O desentendimento dos partidos é causado pela manutenção de dois projetos ao Senado. Pelo PT, o candidato é André Ceciliano. Pelo PSB, o deputado federal Alessandro Molon também deseja a vaga na disputa.
Como solução, uma ala do partido no Rio defende que o partido apoie a candidatura do ex-prefeito de Niterói Rodrigo Neves (PDT) ao governo. A Executiva nacional do PT pode tomar uma decisão ainda nesta semana.
“Foi Lula quem pediu para que o PT do Rio de Janeiro abraçasse Marcelo Freixo porque era muito importante. Chamou Ceciliano, eu estava presente, para dizer a Ceciliano: ‘Você não será candidato a governador. Você vai ser candidato ao Senado e Freixo a governador’. O que nós acatamos. Agora, o PSB quer que fique Freixo e que fique também Molon [ao Senado]. Nem Lula está concordando com isso”, disse Benedita.
“Se [Lula] tivesse concordado com isso ele não tinha de novo, na semana passada, se reunido com o PSB, [e dizer] cumpra os acordos porque eu estou cumprindo”, relatou Benedita, ao falar de outra aliança celebrada pelo PT com o PSB no estado de Pernambuco.
“[Lá] Poderia estar no palanque de Marília Arraes [Solidariedade] em Pernambuco. Marília está mais bem posicionada, estava no PT, queria ser candidata ao governo do estado. Mas, no entanto, nós do PT dissemos não”. No estado, o PT apoia a candidatura do deputado federal Danilo Cabral (PSB-PE) ao governo de Pernambuco.
O Congresso em Foco consultou a assessoria de comunicação do presidente Carlos Siqueira sobre as declarações da deputada. Carlos Siqueira preferiu não de manifestar.