Duas décadas atrás, quando Marina Silva assumia sua primeira gestão como ministra do Meio Ambiente, a ideia por ela defendida da sustentabilidade ter caráter transversal nas políticas públicas do governo federal era tratado por seus pares como algo pouco entendido, sem sentido e que atrapalharia o desenvolvimento econômico do país. Alguns diziam, inclusive, que “transversalidade” e “sustentabilidade” eram palavras de difícil compreensão para a população.
20 anos se passaram e Marina reassume o ministério ouvindo o próprio presidente da República, de forma enfática, ressaltar que a sustentabilidade terá um papel transversal nesse governo. Na primeira reunião ministerial, quase a totalidade dos ministros reforçaram essa diretriz, destacando estruturas em suas pastas dedicadas à integração da sustentabilidade com suas agendas.
Nos últimos anos, o mundo avançou na direção do desenvolvimento sustentável e, em função das políticas equivocadas conduzidas pelos governos anteriores, em especial na gestão Bolsonaro, o Brasil deixou de ser protagonista e passou a ser um pária mundial. Com o aumento dos dados de desmatamento, emissão de CO2 e suspensão de políticas de redistribuição de renda, o país não fechou o acordo comercial União Europeia-Mercosul, viu crescer os considerados “desastres naturais”, com aumento da desigualdade social, e parte do investimento estrangeiro feitos em ESG deixou o país.
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Já em 2003 Marina alertava para a necessidade de movermos o transatlântico brasileiro rumo ao desenvolvimento sustentável. Não foi ouvida e sofremos hoje as consequências econômicas, sociais e ambientais. Agora, o modelo de desenvolvimento defendido por ela e a necessidade da sustentabilidade ter caráter transversal são urgentes para recuperarmos as políticas ambientais, ajustarmos a economia, e combatermos a desigualdade social. Não por acaso, a indicação dela para o ministério foi comemorada internacionalmente, surtiu reflexos positivos na Bolsa de Valores, sua posse foi acompanhada por público recorde no Palácio do Planalto e ministros de áreas estratégicas se tornaram parceiros de primeira hora.
Importante destacar que essa mudança de paradigmas não ocorreu de maneira automática. A militância socioambiental foi fundamental na frente de resistência da sociedade. No Congresso Nacional, parlamentares como Joenia Wapichana, Rodrigo Agostinho, Túlio Gadelha e Randolfe Rodrigues foram essenciais ao travar verdadeiras batalhas. E, na política institucional, não podemos deixar de mencionar a ação combativa da Rede Sustentabilidade, que se utilizou de suas prerrogativas constitucionais para impedir que os retrocessos fossem maiores.
O que nos encoraja a vislumbrar um Brasil que seja de fato sustentável, é perceber que, finalmente, a militância socioambiental, Marina, os parlamentares, a Rede Sustentabilidade e tantos outros não estão mais sozinhos. O que esses atores passaram anos defendendo, hoje é diretriz central das políticas de Estado e governo. Esse histórico de ações, a “Frente Ampla” e a reaproximação política entre Lula e Marina foram fundamentais para chegarmos aqui.
PublicidadeNesse ciclo que se inicia, depois de quatro anos isolado do resto do mundo, foi um alívio ouvir durante a COP 27 o povo gritar ‘o Brasil voltou!’ Esse é o sentimento que temos aqui também. O papel de todos será atuar para que o nosso país jamais recue ao isolamento e agora volte a liderar o mundo na agenda da sustentabilidade e nesse novo modelo de desenvolvimento.
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