Falecido na madrugada da última sexta-feira (5), o apresentador de TV, humorista, escritor e ator Jô Soares esteve por 16 anos à frente do Programa do Jô, na Rede Globo, e outros 11 anos apresentando o programa Jô Soares Onze e Meia, do SBT. Nos dois talk shows, recebeu figuras ilustres tanto do cenário cultural quanto empresarial e político brasileiro.
Em sua jornada nos talk shows começou ainda durante a ditadura militar, quando apresentou o programa “Viva o Gordo, Abaixo o Regime”. Em seus mais de 20 anos de carreira, entrevistou de agitadores políticos a presidentes, em encontros marcados pelo bom humor somado à profundidade das conversas. Relembre alguns desses momentos:
Em seus anos de apresentador no Jô Soares Onze e Meia, chegou a receber no programa o deputado Ulysses Guimarães: um dos principais opositores do regime militar, e presidente da Câmara dos Deputados responsável pela elaboração da Constituição de 1988. Sua participação se deu em 1992, momento em que articulava o processo de impeachment do ex-presidente Fernando Collor (PTB-AL).
Leia também
Ainda no SBT, recebeu Leonel Brizola, fundador do PDT (partido de Ciro Gomes) e ex-governador do Rio de Janeiro e do Rio Grande do Sul. A entrevista se tornou um momento marcante na carreira do líder político, que atribuiu à Globo parte da culpa pelo crescimento da violência na capital fluminense. “Não há maior escola de violência do que a rede de televisão Globo. Ela ensina droga, ensina o crime, ensina tudo que você quiser”, proferiu.
No lado oposto, já na Globo, Jô o agitador e ex-deputado Enéas Carneiro, fundador do Partido de Reedificação da Ordem Nacional, atualmente incorporado ao PL. Como se vê, passaram pelo sofá de Jô Soares tanto nomes de esquerda como Brizola ou o líder comunista Luís Carlos Prestes como de direita como Enéas, ídolo hoje de muitos que apoiam o atual presidente Jair Bolsonaro. Defensor de um projeto de poder ultranacionalista, Enéas foi três vezes candidato à presidência da República. Em todas as vezes, compareceu no programa. Em 2006, Jô Soares foi uma das últimas pessoas a entrevistar Enéas, desta vez eleito deputado federal, antes de sua morte.
Anos depois, recebeu em seu programa a ex-presidente Dilma Rousseff, pouco antes da abertura de seu processo de impeachment, em 2015. Defensor de sua gestão, Jô Soares passou a ser alvo de ameaças em decorrência da entrevista. Ao contrário dos demais convidados, recebidos nos estúdios da Globo, Dilma o recebeu no Palácio da Alvorada.
Em seu programa já participaram também os dois membros da atual chapa do PT nas eleições de 2022: o ex-presidente Lula, que compareceu em abril de 2002, ano em que foi eleito pela primeira vez, e Geraldo Alckmin, que deu entrevista em 2012, quando era governador de São Paulo.