Não existe justificativa para o golpismo que vimos no último domingo. Ser oposição a Lula ou criticar as decisões de Alexandre de Moraes fazem parte do jogo democrático, já invadir, vandalizar e clamar por um golpe de Estado, não. Para além dos óbvios danos materiais, políticos e simbólicos, os atentados trazem um prejuízo a mais: interditam o debate público. A exemplo desta coluna: pretendia abordar um tema de política pública, mas a tentativa de golpe torna impossível falar de outro assunto.
Todo o foco tem sido a restauração da normalidade institucional e social. Instaurou-se uma intervenção no DF, golpistas estão sendo presos e/ou investigados e os três poderes estão corretamente trabalhando para garantir a volta da normalidade.
Devido às circunstâncias atuais, não houve qualquer avanço no debate sobre políticas públicas: educação, auxílios sociais, saúde, qualidade dos gastos públicos e outros temas fundamentais vão ficar para depois. Ou seja, por causa de golpistas que não aceitam a eleição de Lula, a oposição legítima e democrática fica impossibilitada de trabalhar para se contrapor à agenda do governo.
Leia também
Na prática, os danos vão além da política e segurança. Hoje, a inflação segue alta, não há clareza sobre qual será a regra fiscal adotada pelo novo governo e a tão esperada reforma tributária vai demorar a ser pautada. Com isso, a tendência é que os agentes econômicos posterguem contratações e investimentos, afinal, não se sabe o que o governo Lula pretende fazer. O mesmo vale para investidores estrangeiros: o ataque foi noticiado na primeira página de diversos jornais do mundo, deteriorando a confiança no Brasil.
Ainda no domingo, nutriu-se a expectativa de que a bolsa de valores iria cair e o valor do dólar iria subir. Analistas argumentam que essa reação negativa não aconteceu devido à rápida reação das instituições e sua demonstração de força, através da união dos atores dos três poderes. Desde então não houve grandes variações nesses indicadores, provavelmente refletindo a paralisação na tomada de decisões ligadas à compra e venda de ativos.
Assim, os mais preocupados com a economia e o desenvolvimento do país devem ser os mais interessados na qualidade das instituições e na força da democracia. Se a estabilidade política e social não for restaurada logo, os danos serão ainda maiores. Não existe economia de mercado funcional sem instituições sólidas e democráticas.
O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para redacao@congressoemfoco.com.br.