No final da tarde de sexta-feira (27), o interventor na área de segurança do Distrito Federal, Ricardo Capelli, divulgou um relatório de 162 páginas no qual detalha a sequência de episódios que levaram à invasão dos três principais prédios da República – o Palácio do Planalto, o Congresso Nacional e a sede do Supremo Tribunal Federal (STF). Em meio a depredações de obras de arte e objetos históricos, a horda de invasores planejava um golpe de Estado para depor o presidente Lula. .
Capelli não faz acusações diretas em seu relatório. As responsabilidades ainda estão sendo apuradas. Mas o relatório mostra como a soma de alertas ignorados, de ordens descumpridas, de desconcertantes coincidências, pedidos de férias, folgas e licenças contribuíram para facilitar a ação dos golpistas no dia 8 de janeiro. Em anexo ao relatório, Capelli divulgou diversos vídeos que mostram em detalhes a sequência dos acontecimentos. São imagens captadas por câmeras de segurança dos prédios e das ruas e por drones das equipes de segurança.
O Congresso em Foco divulga a sequência de vídeos anexados ao relatório. Eles ajudam a compreender o que aconteceu no dia em que golpistas ameaçaram a democracia brasileira. Fica claro que não se tratava de um grupo imenso. Já houve diversas manifestações maiores na Esplanada dos Ministérios e maiores aglomerações de pessoas – inclusive no dia 1º de janeiro, na festa da posse do presidente Lula. A falta de planejamento das forças de segurança, a pequena presença de efetivo policial e a má estratégia de contenção dos manifestantes nas barreiras criadas transformou o ato no caos que visava a derrubada de Lula.
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Do QG à invasão
A primeira sequência de imagens começa com o deslocamento dos golpistas do Quartel General do Exército até a Esplanada dos Ministérios. As imagens iniciais mostram que eles ocupam somente uma das faixas da avenida e caminham pacificamente sem atrapalhar o trânsito de veículos.
Tudo segue assim, sem problemas, até os golpistas ultrapassarem a altura da Catedral, aproximando-se do início da Esplanada. Ali, está instalada uma barreira de contenção com apenas pouco mais de uma dezena de policiais. Os manifestantes rompem facilmente a barreira de contenção. Na verdade, nesse primeiro momento nem parece haver maior resistência dos policiais.
Na Avenida das Bandeiras, em frente ao gramado do Congresso, há nova barreira de contenção. E novamente ela é muito pequenas, com somente outra quantidade de pouco mais de uma dezena de policiais.
Novamente, a contenção, chamada no vídeo de “Linha N1”, é rompida com facilidade. Aqui, percebe-se alguma pequena reação, com uso de poucas bombas de gás. Os golpistas descem correndo o gramado do Congresso sem maior resistência.
Algum tempo depois, começam a subir a rampa rumo ao teto onde estão as cúpulas da Câmara e do Senado.
Veja abaixo a primeira sequência de vídeos:
Quebradeira
Na segunda sequência de vídeos, as câmeras de segurança do Congresso mostram a invasão dos golpistas pela Chapelaria e pelos vidros do andar principal. As imagens mostram que quem tenta conter a ação dos baderneiros é a Polícia Legislativa. Há, conforme as imagens, combate corporal dos policiais com os golpistas. Em muito maior número, porém, eles avançam.
Imagens captadas às 14h52 pelas câmeras de segurança mostram o Salão Verde da Câmara tomado pelos golpistas, que tiram fotos e comemoram a invasão.
Imagem colhida às 15h10 mostra que, da mesma forma, é muito pequeno o contingente policial à frente do Supremo Tribunal Federal, que também será alvo de invasão e depredação. Imagem também registrada às 15h10 mostra o início da invasão do Palácio do Planalto. Como tinham feito no Congresso, os vândalos sobem agora a rampa do Planalto.
Veja a segunda sequência de vídeos:
Retomada e prisões
De acordo com o relatório de Capelli, somente duas horas depois das invasões chegaram os reforços de tropas policiais. Já no final da tarde, o governador Ibaneis Rocha demitira o secretário de Segurança do Distrito Federal, Anderson Torres, e o presidente Lula decretara a intervenção federal na segurança do DF. O dia termina com a decisão do ministro do STF Alexandre de Moraes de afastar do cargo por 90 dias o governador Ibaneis Rocha.
As imagens deixam claro que as invasões foram consequência da falta de planejamento e de efetivo policial no tamanho que a situação recomendaria. Com um número maior de policiais, os prédios são recuperados e os golpistas começam a ser presos.
Imagens captadas por volta das 16h mostram primeiro os policiais tirando os golpistas do teto do Congresso.
Mais tarde, grandes barreiras policiais, com caminhões de choque, vão afastando os manifestantes para longe dos prédios invadidos até retirá-los da Esplanada dos Ministérios. As imagens que registram a polícia retomando o controle da situação e retirando os golpistas foram registradas já por volta das 17h. Por volta das 18h30, o grupo já foi afastado para depois do Ministério da Justiça.
A expulsão dos manifestantes da Esplanada dos Ministérios só se dá, no entanto, depois das 20h. Antes disso, porém, diversas prisões já haviam sido efetuadas, tanto na rua como dentro dos prédios invadidos.
As imagens finais mostram as prisões e o fim do acampamento no QG do Exército, que só ocorreram no dia 9 de janeiro porque o Exército impediu a entrada dos policiais na noite do dia 8 de janeiro. As imagens terminam com o deslocamento de diversos ônibus, que levaram os golpistas para a Academia Nacional da Polícia Federal, onde ficaram presos.
Veja a terceira sequência de vídeos: