Um dos maiores paradoxos criados desde a universalização da urna eletrônica é o fato de que os votos para deputado federal e estadual são os primeiros que precisamos digitar no dia das eleições. No entanto, esses são justamente os candidatos escolhidos em último lugar pela maioria dos eleitores. A primeira variável dessa equação dificilmente será revertida no futuro. Mas creio poder facilitar um pouco a tarefa daqueles que sempre deixam para a última hora a escolha de seus candidatos a deputado.
Não há dúvidas de que a adoção da urna eletrônica foi um tremendo avanço no processo eleitoral brasileiro. O ato de votar se tornou muito mais simples do que era antes. O país também passou a ter uma das apurações mais rápidas e confiáveis conhecidas mundo afora. As denúncias de fraude eleitoral se reduziram significativamente.
A legislação eleitoral passou a determinar a própria ordem de votação para os diferentes cargos em disputa. Os votos dados em primeiro lugar são sempre para os cargos legislativos (deputados, senadores ou vereadores), enquanto que os votos para cargos executivos (governador, presidente ou prefeito) vêm sempre por último. Como a lei eleitoral foi redigida pelos próprios congressistas, era natural que eles dessem prioridade a si próprios.
Essa disposição – aparentemente tão simples – reduziu drasticamente as taxas de votos inválidos nas eleições legislativas. No caso da Câmara dos Deputados, por exemplo, os votos nulos e em branco caíram para menos da metade entre as eleições anteriores à universalização da urna eletrônica e as eleições subsequentes.
Por outro lado, os candidatos a cargos legislativos ainda são os últimos candidatos escolhidos pelos eleitores ao longo da campanha. Historicamente, escolhemos primeiro o candidato a prefeito do que o candidato a vereador. O candidato a governador antes do candidato a deputado estadual. E o candidato a presidente antes do candidato a deputado federal. Muitos de nós deixamos para a semana ou até para o dia da eleição a decisão de quem vai nos representar no Poder Legislativo.
Uma das razões desse fato é a grande multiplicidade de candidatos. O primeiro domicílio eleitoral em que me registrei foi o estado do Rio de Janeiro. Nestas eleições de 2010, há nada menos do que 928 candidatos a deputado federal disputando o voto dos eleitores fluminenses. A média é de 21 candidatos para cada vaga existente! No estado de São Paulo, que passou a ser o meu domicílio eleitoral nos últimos anos, a situação não é muito diferente. O total de postulantes a uma cadeira na Câmara dos Deputados é de 1.275, ou quase 20 candidatos por vaga!
Se todas as outras circunstâncias forem mantidas constantes, sempre é mais difícil decidir em quem votar quando há mais candidatos do que quando há menos. Nas eleições para cargos executivos, existe ao menos o atenuante de que cada partido (ou coligação) pode lançar apenas um candidato. Mas o processo é bem mais complicado nas eleições legislativas. As campanhas são realizadas e os votos são apurados em mega-circunscrições eleitorais (os próprios estados da federação). Além disso, cada partido (ou coligação) normalmente lança algumas dezenas de candidatos.
Mesmo assim, é perfeitamente possível não se perder nessa verdadeira floresta de candidatos a deputado. Na próxima coluna, procurarei relacionar diversos métodos coerentes e legítimos para que os eleitores possamos escolher os candidatos que poderão nos representar no Poder Legislativo, nacional e estadual. Por enquanto, nem peciso dizer que possuir “ficha limpa” deve ser um pré-requisito indispensável em qualquer caso.