O convite para este programa é entrar no imaginário das pessoas, para responder a seguinte pergunta: como será o futuro em que objetos irão substituir humanos em tarefas diversas ao redor do mundo? Poxa, você vai dizer: futuro? Eu respondo não! Essa é a realidade hoje. A automação tira o emprego de muita gente e já está presente não só no ambiente de trabalho, mas em nossas casas, nas ruas, em todos os lugares. Quando ouvi pela primeira vez que Londres iria tirar os condutores do metrô, que seriam orientados por máquina, pensei logo na loucura que isso seria, e como evitar um acidente.
O programa de hoje é para refletir sobre duas coisas: como evitar acidentes quando a tal IoT, sigla para Internet das Coisas, aquela que conecta milhares de coisas ao nosso redor, chegar de vez. A segunda questão é: como fica a sua privacidade quando a sua geladeira fizer parte de um acordo comercial entre a prestadora de telecomunicações ou a plataforma digital e aquela grande cadeia de mercado!
IoT e os acordos de mercado
Leia também
A Internet das Coisas vai permitir programar a geladeira para ordenar uma compra online. Vai permitir que todos os carros sejam guiados por sistema inteligentes, máquinas que aprendem sozinhas. Vai permitir que a agricultura e as plantações sejam 100% controladas por máquinas.
Não estamos falando do robozinho que varre a sua casa. É coisa grande, é um impacto brutal na economia. E pode representar uma enorme ameaça em nossas vidas, caso alguns cuidados não forem tomados desde já. O primeiro, a meu ver, é incluir a população que está fora da rede. Como essas pessoas irão manejar objetos que falam e funcionam com sensores se mal sabem usar um celular? Isso vai aumentar não apenas a exclusão, mas também os riscos às pessoas que não sabem como lidar com isso.
Eu perguntei ao consultor Guilherme Pereira, consultor de telecomunicações da Câmara, com enfrentar o dilema de conectar objetos quando há mais de 33 milhões de pessoas ainda não conectadas à rede de computadores:
“O governo tem esse duplo papel de ter programas sociais e políticas públicas que ampliem o acesso à banda larga, e ao mesmo tempo criando regras sistêmicas que protejam o suo da internet e dos equipamentos de IoT para que eles não se tornem uma espécie de Big Data e Big Analytics que vão invadir a vida das pessoas e a sua privacidade, determinando as suas, mas que elas sejam uma ferramenta auxiliar para que as pessoas possam fazer as suas escolhas”.
O segundo ponto que assusta a todos é aquele que trata da nossa privacidade. Afinal, essas propagandas que recebemos o tempo todo do Google mostram que nossos telefones ou computadores têm ouvidos, ou seja, somos vigiados o tempo todo, por meio de microfones ocultos em televisões ou sistemas de inteligência artificial que capturam toda a nossa navegação para alimentar sistemas automáticos que visam induzir, manipular ou influenciar comportamentos, preferencias, desejos e crenças em cada um de nós. É a isso que o consultor Guilherme se refere, entre outras questões, quando fala na Era do Big Data.
Guilherme é autor de estudo publicado no site da Câmara dos Deputados, no qual ele estima em 29 bilhões o número de equipamentos conectados à internet. E levanta questões éticas e de privacidade envolvendo o tema. E tudo tão complicado que a comissão de juristas que estudou o marco regulatório da inteligência artificial no Brasil, projeto que está em discussão no Senado Federal, apresentou um relatório com 900 páginas, após 240 dias de trabalho, prevendo, por exemplo, avaliação de riscos trazidos pelo sistema, como o de reproduzir o racismo estrutural presente na sociedade brasileira.
Big Brother Brasil
O IoT pode representar para nós um Big Brother Brasil, sendo que nós estamos na Casa e as plataformas digitais e seus parceiros estão nos observando, sem que a gente esteja alerta disso.
Por isso, o consultor Guilherme nos explica porque privacidade é um direito que, apesar de desgastado, não se deve abrir mão dele. Ele fala também da importância de aprovar e aplicar leis para que possamos controlar a forma como usam os nossos dados pessoais na rede:
“A privacidade não deixa de ser um direito fundamental. E proteção de dados não quer dizer os dados não irão circular, mas que haverá uma participação visceral do titular de dados na forma como eles serão circulados, como eles serão compartilhados e como eles poderão ser utilizados pelas empresas e pelo governo. Ou seja, isso será feito dentro de um ordenamento jurídico que não viole os direitos fundamentais das pessoas”
Bem, a realidade da comunicação máquina com máquina, sem a interferência humana, traz também desafios à segurança do homem e à vida, como já ficou demonstrado no caso dos veículos autônomos que atropelam e matam pessoas. Os dilemas relacionados ao custo benefício dessa sociedade em que teremos cirurgias remotas salvando vidas e o uso indiscriminado de táticas de reconhecimento facial confundindo pessoas inocentes com criminosos são imensos.
O nosso emprego vai depender que aceitemos sermos monitorados sobre como cuidamos da própria saúde e milhares de pessoas terão que dar satisfação a um “robô-chefe”.
Se o futuro já desperta dúvidas, a revolução da IoT, a Internet das Coisas, cria mais incertezas do que a utopia de uma revolução que libertará a todos e promoverá a justiça social e a igualdade entre pessoas e povos. Também se falava disso na internet, e olha o que ela virou.
O problema é quem estará mandando nas coisas, que mandarão nas pessoas, no caso, você e eu.
Quem falou em big techs, ou Gafam, ou seja, os aplicativos de busca e de mensagens e fabricantes de equipamentos e sistemas que todos nós usamos, acertou!
E a frase do dia é: Você não precisa acreditar em algo se este “algo” está olhando para você. Por isso, viva no presente.
Acompanhe o programa na página da Rádio Câmara
O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para redacao@congressoemfoco.com.br.