Quando criou o Facebook, em 2004, Mark Zuckerberg, hoje um dos homens mais poderosos do mundo, justificou o seu invento: “procure colegas. Encontre amigos.”
Zuckerberg deixou claro inúmeras vezes que o seu negócio era conectar pessoas.
Quase vinte anos depois, o mundo inteiro sabe que o negócio do Facebook, e das redes associadas Instagran e WhatApps, é business. E a tese do jornalista Jonas Valente sobre plataformas digitais e poder demonstra bem esse fato[1].
Business é a palavra em inglês para negócios!
Nem Facebook, nem Youtube ou Tik Tok, servem para conectar pessoas. Isso virou secundário. O primordial para as empresas é maximizar o lucro dos seus acionistas, aumentando o tempo útil que a gente, eu, você, todo mundo, passa na rede.
É simples assim.
Para isso, essas redes usam duas ferramentas: 1) a primeira são estratégias de neuromarketing, para oferecer a você conteúdo que vão gerar sensações químicas que geram algum tipo de dependência no corpo; 2) elas usam de sistemas, que a gente chama de inteligência artificial, que agrupam conteúdos semelhantes aos que você acessa na sua navegação diária.
Assim, nos tornamos viciados na internet, e isso gera um cansaço e, sobretudo, a desconexão dos usuários com todo o resto.
Esse preâmbulo é para dizer que a internet como a temos hoje, para as gerações que mais utilizam as redes sociais, é extremamente tóxica.
A novidade é o remédio!!!
O remédio é sair de tudo que te faz mal, ou seja, sai da rede social, resgate a vida lá fora, vá para o mundo!!!
Na gíria das ruas, vai dar um rolê!
Dance, coma, encontre amigos, converse, olhe nos olhos, dê tapinhas nas costas.
Eu passei o final de semana num movimento de reconexão com o humano, o meu humano.
O convite é dançar e tocar as pessoas, com mãos e olhares, para reestabelecer com elas uma relação de confiança, proximidade e celebração.
A gente toma banho, entre aspas, de abraços, olhares, sorrisos, tudo isso são formas de “tocar” o outro, pelo menos dentro da proposta de trabalho que se chama de Biodanza[2].
Eu convidei a psicóloga Cláudia Monteiro, facilitadora de Biodanza, o sistema científico que visa fortalecer a construção da identidade a partir do encontro humano, a pensar comigo se existe uma forma de superar a distância virtual, quando a gente fala de redes sociais.
“Como a gente abraça as pessoas na internet, Cláudia? Pela qualidade das mensagens, pelos cuidados nas respostas, pela comunicação viva, por se importa com o que o outro está fazendo e trazer amorosidade nessa comunicação, fazer com que o outro se sinta qualificado, visto, que a gente possa sair do encapsulamento do nosso ego e se abra para o encontro com o outro, mesmo que virtualmente. ”’
Frances Haugen, ex-funcionária do Facebook que esteve na Câmara dos Deputados em julho de 2022 para denunciar a manipulação política da empresa[3], apresentou ao mundo provas de que a Meta, dona do Facebook, sabe que o conteúdo que circula hoje nas suas redes sociais como, Instagran e Facebook, é tóxico para crianças e adolescentes, mas não fez e não faz nada contra isso. No escândalo que ficou conhecido como “Facebook Papers”, vazaram documentos que demonstram que um dos projetos da empresa era fazer as jovens gerações passarem ainda mais tempo diante das telas.
O tempo digital, ao contrário dos encontros ao vivo, pessoa a pessoa, tem o dom de deprimir as nossas células e desorganizar o nosso metabolismo e sistemas vitais, abrindo caminho para a ansiedade, o sentimento de solidão e a depressão, problemas que os pais tentam resolver no consultório médico, quando, na verdade, o tratamento está em resgatar as relações presenciais, o tête a tête, como explica a psicóloga Cláudia.
“Eu acho que precisa é um equilíbrio, a gente precisa estar se nutrindo, encontrando, se fortalecendo presencialmente, precisamos manter a qualidade dos nossos vínculos, e ter o tempo de rede social, mas a gente sabe que a rede social é alienante, que ela vai nos envolvendo cada vez mais para roubar o nosso tempo, para nos tornar objetos de consumo e para vender muitos produtos e que a gente vai se distanciando da nossa presença, dos nossos encontros, do olhar.”
Para a biodanza, até mesmo o discurso do ódio e as fake news são alimentados pelo distanciamento físico típico do mundo digital, como explica Cláudia Monteiro.
“As redes sociais vão trazendo uma inflação do ego que eu não vou percebendo o impacto no outro, porque eu estou só no nível do ego. Enquanto o encontro tem um poder transformador incrível. O encontro me afeta, eu olho nos olhos, tem alguém que requer de mim atenção, eu preciso dialogar. Na rede social, não tem diálogo, tem um vômito de ações que eu não me responsabilizo. E vou achando isso normal, porque vou perdendo de vista a repercussão, mas quando eu estou presente, eu vou percebendo o outro, ele me responde, vai fazendo com que eu me retrate. Ele me olha e me mostra que aquilo não foi bom, e eu preciso repensar. ”
Na pesquisa do Google, ego apareceu como um aspecto da personalidade humana que, quando exacerbada, nos torna mais egoístas e mais intolerantes com quem é ou pensa diferente.
A pandemia da covid-19 deixou bem claro o que Cláudia Monteiro e outros terapeutas que buscam tratar os males do século 21 enfatizam, e às vezes o tratamento é o mais singelo e orgânico possível: um abraço, um toque, uma carícia, demonstrações afetivas que reorganizam, física, emocional e psicologicamente, o humano. “O encontro, o abraço, traz uma organização física, emocional, nos cola, e o amor é uma força organizadora”, diz Cláudia.
A política pública tem o dom de trazer para o SUS e para as escolas essas terapias integradoras, e a biodanza é só uma delas! Essa revolução é lenta, paulatina e silenciosa.
Às vezes nos esquecemos que ainda não somos avatares. E que a vida se realiza ali na esquina, porque somos seres tribais, e isso, nem a tecnologia vai mudar.
Por isso, o cafezinho com bate-papo são entidades nacionais! Não há lei que cure a ansiedade geral endêmica gerada pelas redes sociais, se a gente não promover a vida ao vivo e a cores.
É simples assim!
[1]https://repositorio.unb.br/bitstream/10482/36948/1/2019_JonasChagasL%c3%bacioValente.pdf
[2] https://www.biodanzarolandotoro.com/pt-pt/biodanza/
[3] https://edemocracia.camara.leg.br/audiencias/sala/2829/
O comentário no Papo de Futuro vai ao ar originalmente pela Rádio Câmara, às terças-feiras, às 8h, em 96,9 FM Brasília.
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