A bomba com fezes jogada na quinta-feira (7) contra os que acompanhavam o ato em apoio à candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, talvez seja um bom demonstrativo quanto ao que determinados segmentos da nossa sociedade hoje se orgulham de entregar à sociedade. No final de junho, foi um drone com fezes e urina jogado em Belo Horizonte também contra aqueles que prestigiavam a presença de Lula. Os dois episódios já demonstram uma certa fixação que exija mesmo certa explicação freudiana. Segundo Freud, a fase anal costuma acontecer entre um e três anos de idade. Em indivíduos adultos, é sinal de grave distúrbio psicológico.
A repetição do mesmo tipo de escatologia é uma evidência de coisa planejada. Não parece haver dúvida de que os responsáveis pelos dois episódios discutiram isso em grupos de discussão. Traçaram ali suas estratégias. Tiveram dicas de como fazer. E executaram o ato.
As salas de discussão desse tipo de aberração são os ambientes .cham. Do tipo daquele que Lucas Neiva descobriu e que colocaram o Congresso em Foco no alvo dos sentimentos de ódio da extrema direita hidrofóbica brasileira. Nesses fóruns anônimos, esses grupos discutem essas ações.
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No mesmo dia em que a bomba com fezes foi atirada contra manifestantes no Rio de Janeiro, um tiro foi dado contra a redação do jornal Folha de São Paulo no centro da capital paulista. No caso da reportagem de Lucas Neiva, as reações contra o Congresso em Foco uniram ameaças de morte, de estupro e de bomba na redação. Estão sendo investigadas. E não vão ficar impunes.
A conexão entre todos esses atos é evidente. E preocupante. Deixa claro que talvez o maior legado da era Jair Bolsonaro no poder será o ódio. Como no título do famoso western de Sam Peckinpah, o ódio será a herança.
O ódio sempre foi uma das principais ferramentas utilizadas por Bolsonaro na sua retórica. Seus discursos sempre foram recheados de apologias a torturadores, como Brilhante Ustra, do desejo de morte de adversários (como em uma fala sobre o então presidente Fernando Henrique Cardoso), da ameaça de violência (como quando disse que não estupraria a deputada Maria do Rosário (PT-RS) porque ela, segundo ele, era muito feia). Fazer arminha com os dedos ou com objetos como muletas tornou-se rotina. Clubes de tiro se espalharam pelo país, onde um dos projetos que mais avança é o número maior de armas de posse da população. Nas discussões políticas, famílias se desunem, amigos deixam de se falar. O ódio nos adoece.
PublicidadeO ódio se espalha. Em 2018, o próprio Bolsonaro acabou vítima dele. Em um episódio que agravou sua saúde, mas que talvez tenha sido decisivo para a sua vitória: a facada dada por Adélio Bispo. Facada que parece só ter servido para agudizar tais sentimentos de ódio.
Agora, quando as pesquisas mostram Bolsonaro em desvantagem, é contra seus adversários que são lançadas bombas e fezes. E, como infelizmente sempre acontece, é contra a imprensa e os jornalistas que o ódio recai.
O historiador Sergio Buarque de Hollanda dizia que a cordialidade era uma marca do brasileiro. Afirmação controversa, porque ele talvez não estivesse falando de amabilidade, mas do fato de o brasileiro fazer tudo de forma emocionada, com o coração (cordialidade aí no sentido de cordis, do coração em latim).
Talvez a solução agora possa vir a partir do filho de Sérgio Buarque, o compositor, escritor e poeta Chico Buarque. Para espantar todo esse clima de ódio que se instalou no Brasil, Chico propõe uma excelente solução em uma música composta recentemente. “Que tal um samba?”. Vamos com Chico?
Eu sou Rudolfo Lago, diretor do Congresso em Foco Análise. Sempre honrado com sua audiência nesse comentário que é exclusivo para você!
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