As pesquisas Genial/Quaest e Ipespe divulgadas nesta quarta-feira (31) reforçam a impressão que já vinha se sentindo: vão diminuindo as chances de que a eleição presidencial deste ano seja resolvida no primeiro turno.
Como no Brasil contam-se apenas os votos válidos – aqueles que efetivamente são dados a um candidato –, vence a eleição no primeiro turno aquele candidato que obtiver um percentual de voto maior que a soma dos votos de todos os demais. Na Genial/Quaest, o candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, tem 44% das intenções de voto. A soma dos demais é de 45%. No Ipespe, Lula tem 43%, e os demais somam 50%.
Veja o comentário em vídeo:
O que ambas as pesquisas mostram é algo que já falávamos por aqui com relação à evolução da corrida presidencial nos últimos dias. Dentro da margem de erro, Lula e Bolsonaro andam estacionados. Com Lula com uma vantagem grande sobre Bolsonaro. Mas os movimentos dos demais candidatos vão tornando menor a chance de que tudo possa vir a ser definido já no dia 2 de outubro. Especialmente a partir do desempenho do terceiro colocado, Ciro Gomes.
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Por isso Lula ter feito um aceno direto a Ciro no debate da Band no domingo (28). Um aceno não exatamente a Ciro, como explicam os coordenadores da sua campanha. Lula não esperava que Ciro a partir dali fizesse uma inflexão e passasse a apoiá-lo. Mas tentava fazer um gesto a eleitores de Ciro no sentido de mostrar que a sua escolha adia a definição da eleição e mantém Bolsonaro no jogo por mais 28 dias a partir do dia 2 de outubro. Ao mostrar respeito a Ciro e colocá-lo no mesmo patamar de consideração que ele diz reputar ao ex-governador de São Paulo Mário Covas e ao ex-governador do Paraná Roberto Requião, Lula, na verdade, tenta puxar para si os eleitores de Ciro. Ou, na pior das hipóteses, já deixar aberto um canal de diálogo com Ciro para o segundo turno.
Especialmente no caso da pesquisa da Quaest, o fator Ciro torna-se evidente. Com relação à rodada anterior da pesquisa, Ciro subiu dois pontos percentuais, de 6% para 8%. No caso do Ipespe, ele manteve um percentual que ali já aparecia mais alto, de 9%. No caso do Ipespe, aponta-se uma melhora de um ponto percentual de Simone Tebet, do MDB, de 4% para 5%, que também exerce influência.
No debate da Band, alguns notaram também a possibilidade de acenos para Simone Tebet. Ainda que ela tenha sido crítica também a Lula, ela foi claramente mais dura com Bolsonaro. É verdade, porém, que Bolsonaro ajudou muito nisso, com seus ataques misóginos à jornalista Vera Magalhães e à própria Simone. Depois de dizer que a candidata do MDB fazia “mimimi” e agia com “vitimismo”, ficava mesmo difícil ele esperar algum tipo de apoio dela.
E embora orbite num patamar mais baixo, é bom prestar atenção ao desempenho de Soraya Thronicke, do União Brasil. O espetáculo de misoginia de Bolsonaro no domingo acabou obrigando Soraya a também partir para cima dele, até por uma questão de sororidade. Algo que a turma bolsonarista mais radical nas redes sociais não vem perdoando.
O fato, porém, é que a eleição vai agora se movimentando de forma semelhante às placas tectônicas da Terra. Na superfície – ou nos percentuais dos dois líderes – pouco se move. No subsolo, porém, os pequenos movimentos precisam ser observados. E os sismólogos sabem que são eles que, no final, provocam ou não os terremotos.