O ex-ministro Ciro Gomes foi confirmado há pouco como candidato do PDT à Presidência da República. A decisão, formalizada por aclamação da executiva do partido, foi anunciada em convenção nacional em curso nesta sexta-feira (20) na sede do partido em Brasília. Ainda não há definição sobre os partidos da coligação ou o cargo de vice na chapa presidencial, mas uma das possibilidades é a também pré-candidata Manuela D´Ávila (PCdoB), também pretendida pelo PT.
No discurso à militância, como havia feito ao lançar sua pré-candidatura, em março, Ciro voltou a disparar críticas ao governo Michel Temer e ao que chamou de “baronato” – denominação que o pedetista escolheu para dar à elite financeira do país que, segundo ele, explora o trabalho do povo para manter suas riquezas.
“A classe média brasileira já paga dobrado para viver no nosso país, porque tem aspirações justas e o Estado não lhe devolve em serviços públicos de qualidade o tributo que ela paga. Então, ela não acreditando em escola pública, leva-se a pagar mensalidade escolar; não acreditando na saúde pública, paga crescentemente um caro plano de saúde particular; não acreditando na segurança pública, acaba sacrificada com o alto custo do condomínio, pagando segurança privada”, discursou, vez ou outra interrompido por aplausos e gritos cantados em sua homenagem (“Viva Brizola / viva Che / viva a juventude socialista PDT”, era um deles, em referência ao líder revolucionário argentino Che Guevara, morto em 1967).
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“Quem tem que pagar essa conta é o governo e o mundo mais rico”, completou Ciro, que fez referências a figuras históricas da vida brasileira, como o ex-governador Leonel Brizola, fundador do PDT e homenageado na convenção, o antropólogo e ex-senador Darcy Ribeiro e o artista e ativista dos direitos humanos Abdias do Nascimento.
“Estamos vivendo o fim de um ciclo histórico. E eu estou convencido de que para seguir adiante como nação, precisamos de um novo projeto nacional de desenvolvimento”, acrescentou o candidato, que também fez referência ao ex-presidente Lula (PT), preso desde 7 de abril em Curitiba (PR) em decorrência da Operação Lava Jato.
“Depois de tudo o que aconteceu com o presidente Lula, nossa responsabilidade cresceu muito”, afirmou, no trecho do discurso em que comentou o governo Temer e a situação do país.
O PDT aproveitou a abertura do prazo para formalização de candidaturas exigido pela Justiça Eleitoral, que vai desta sexta-feira (20) até 5 de agosto, para fazer o anúncio da candidatura. Para tanto, o partido montou uma grande estrutura em sua sede na capital, que fica a cerca de 300 metros da Câmara, com direito a dois palcos (um interno e outro externo, este com telão), stands para atender setores do partido e apresentações culturais. Bandas de pífano, forró e indígenas deram o tom de brasilidade ao evento.
Antes do anúncio da candidatura, o presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, disse ao Congresso em Foco que o apoio do centrão, bloco que reúne 164 deputados na atual legislatura (2015-2019), ao também presidenciável Geraldo Alckmin (PSDB) não fará falta ao presidenciável pedetista. “[O apoio do centrão] nunca foi nosso. Havia um movimento, da parte deles, podendo vir em nossa direção. Nós somos democratas e abrimos diálogo com todo mundo. Eles voltaram ao leito natural deles”, fustigou o dirigente.
Com atividades previstas para toda a sexta-feira, a convenção nacional reúne integrantes do Diretório Nacional e do Conselho Político do PDT, além de representantes de movimentos sociais ligados ao partido, delegados e presidentes de comissões provisórias. Senadores, deputados federais e estaduais, além de lideranças políticas estaduais e municipais também prestigiaram a oficialização de sua candidatura.
Por volta das 10h, outra figura que desponta no partido falou à reportagem (vídeo) sobre a candidatura de Ciro. Advogado pernambucano, Túlio Gadelha evitou dizer se disputará cargo eletivo neste ano, mas disse que Ciro “é um candidato que fala a verdade”. “Ele está construindo um projeto de país. Acreditamos que é o melhor candidato, o mais preparado”, disse Túlio, que namora a jornalista e apresentadora Fátima Bernardes (TV Globo).
Ciro chegou à sede do PDT rodeado de correligionários e simpatizantes, e parou para falar com a imprensa por alguns instantes antes do discurso. Questionado sobre declarações polêmicas que tem dado e sobre a fama de ter comportamento explosivo, ele reconheceu erros e disse ter herdado o estilo de sua família.
“Não sou superior, nem imune, nem vacinado contra erros. Tenho trabalhado praticamente dez horas por dia e a minha ferramenta de trabalho é a palavra. Evidentemente, posso errar aqui e ali, porque nunca tive a pretensão de ser um anjo”, declarou pedetista.
E foi justamente o temperamento de Ciro um dos motivos pelos quais o tucano Geraldo Alckmin foi escolhido pelo centrão, reunião de partidos que amparava as ações de Edurado Cunha (MDB-RJ), também condenado e preso na Lava Jato, como presidente da Câmara. Em entrevista à rádio CBN no começo da manhã, o líder do governo na Câmara, Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), um dos caciques do blocão, admitiu que o comportamento de Ciro era algo notório, mas sem fazer relação direta disso com a escolha por Alckmin.
Veja trecho do discurso de Ciro nesta sexta-feira:
Nesta semana, o pedetista chamou a promotora que pediu investigação contra ele de “filho da puta”. Alckmin é visto como mais ponderado. Semanas atrás, foi acusado de racismo pelo vereador paulistano Fernando Holiday (DEM), razão pela qual tornou-se alvo de pedido de investigação do Ministério Público
Além disso, o “centrão” também desconfia que a candidatura de Ciro está inflada por causa das incertezas em relação ao ex-presidente Lula, preso desde 7 de abril e, mesmo assim, pré-candidato do PT à Presidência da República. Se o petista nomear um substituto para a disputa, como é esperado, observadores da cena político-eleitoral preveem que eleitores de centro-esquerda passem a apoiar o candidato do PT.
Prognóstico
Com a provável saída de Lula da disputa presidencial devido a imposições da Lei da Ficha Limpa, o PDT espera herdar votos de petistas em alguma medida, independentemente do provável substituto do ex-presidente. Na cúpula do partido, a expectativa é que a corrida presidencial vitamine o PDT regionalmente.
Nesse sentido, os dirigentes projetar a eleição de uma bancada de 40 deputados federais, no mínimo. O partido tem 19 deputados federais e três senadores nesta legislatura (2015-2019).
São oito os nomes do partido lançados à disputa por governos estaduais: Acir Gurgacz (RO), Carlos Eduardo Alves (RN), Jairo Jorge (RS), Lígia Feliciano (PB), Odilon de Oliveira (MS), Osmar Dias (PR), Pedro Fernandes (RJ) e Waldez Góes (AP).