Em live transmitida pelo Congresso em Foco na manhã desta sexta-feira (30), os cientistas políticos Luciana Veiga, professora da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, e Ricardo de João Braga, coordenador de pesquisas do Congresso em Foco Análise, defenderam a necessidade de revisão das regras dos debates eleitorais. A participação de candidatos inexpressivos, a não aplicação de penalidades contra quem desrespeita as normas e a obrigação de chamar todos os candidatos de partidos com bancada no Congresso estão entre os pontos passíveis de mudança, segundo eles.
Para os dois, o debate iniciado pela TV Globo nessa quinta-feira (29) e encerrado nesta sexta (30) não produziu qualquer fato novo, apenas reforçou a imagem que cada candidato quer passar em vez de ajudar os indecisos a tomarem uma decisão. Na avaliação deles, muito mais que o debate, o grau de cansaço do eleitor com a campanha eleitoral pode ser determinante para o desfecho da eleição presidencial no próximo domingo (2).
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Assista à íntegra da live:
“O debate serviu muito bem para reforçar os eleitores do Bolsonaro, os eleitores do Lula e os eleitores da terceira via. A personalidade do indeciso não é de quem gosta muito de ataque. Ele [debate] serviu mais para fortalecer as pré-disposições anteriores do que para clarear dúvidas que os indecisos tinham, porque não trouxe novidade”, afirmou Luciana.
A professora criticou a presença do candidato do PTB à Presidência, Padre Kelmon, que não pontuou em qualquer pesquisa de intenção de voto e acabou tumultuando o debate, ao atuar como linha auxiliar de Bolsonaro. “Ele não trouxe nenhuma agenda, a não ser a questão de reforçar a agenda em debate do Bolsonaro, de conservadorismo, de influência da igreja”, ressaltou. “Talvez essa participação dele tenha ganhado centralidade e não tenha enriquecido o debate. Foram todos muito quem são”, acrescentou.
PublicidadeRicardo de João Braga observou que, atualmente, o que impacta o eleitorado não é a apresentação de um programa de governo detalhado, mas a comunicação por meio das redes de mídia. “É difícil a gente fugir de uma série de problemas que isso traz, como a personalização, o esvaziamento da discussão racional, o papel desses ataques, o meme que às vezes é engraçado, às vezes agressivo, às vezes falso”, explicou.
Para ele, faz-se necessária uma mudança na legislação sobre os debates eleitorais. “Nesse sentido, viria muito adequadamente se o Estado refletisse sobre isso. Ele pode ser esse elemento contra essa corrente”, defendeu. “A gente poderia reformular algumas coisas, imaginar certa prestação de contas. Essa questão de chamar candidatos que não têm menção de intenção de voto… o padre seguiu uma linha que não contribuiu, estava fazendo ponte para outros candidatos”, emendou.
Ricardo e Luciana avaliam que o fator cansaço pode ser decisivo para a definição da eleição no próximo domingo. Segundo a professora da UniRio, a vontade de se colocar um ponto-final na eleição será determinante para o desfecho, seja em primeiro, seja em segundo turno. Pesquisa Datafolha divulgada nessa quinta indica que o ex-presidente Lula tem 50% dos votos válidos. Para vencer no domingo, ele precisará alcançar 50% dos votos válidos mais um. Mas, como a margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos, ele pode estar abaixo da votação exigida.
“O quanto o eleitorado brasileiro está disposto a ir para o segundo turno? Essa é a pergunta que vai justificar mais ou menos flutuação de voto, que permita o final desta eleição em primeiro turno ou não. Você tem eleitores que estão indecisos, que querem votar nulo ou branco, que querem votar em candidato da terceira via. O quanto eles estão dispostos a manter seu voto e seguir para o segundo turno ou o quanto estão dispostos a abrir mão desse voto ou ir voto para finalizar a eleição já? A tolerância com mais 20 dias de eleição está central na cabeça das pessoas hoje. Essa sensação é o determinante neste momento. As pessoas não estão mais tanto pensando em quem vão votar, mas se querem o fim da eleição agora”, considera Luciana Veiga.
Ricardo de João Braga concorda que ainda é grande a incerteza se a eleição presidencial será decidida no próximo domingo. Quem acreditava que o quadro poderia ficar mais claro nesta sexta, em função do debate da Globo, frustrou-se, na avaliação do cientista político.
“Não há fato surgido na quinta à noite. O único fato que pode surgir até domingo é o eleitor lidar com a eleição de forma diferente. É uma eleição radicalizada, incômoda”, afirmou. O cientista político cita levantamento do instituto Quaest divulgado esta semana que aponta que 90% dos eleitores preferem que a eleição seja decidida no próximo domingo. O motivo, de acordo com o cientista político, não é uma “grande alegria cívica”, mas o desejo de terminar logo com o “mal-estar” provocado pela disputa eleitoral. “Hoje, sexta de manhã, acho que ainda não se criou essa onda, que não precisa ser gigante para que se migrem votos de indecisos do próprio Ciro para terminar no primeiro turno. A hora de se formar é hoje, amanhã e domingo de manhã”, ponderou.
A mediação da live foi feita pelo diretor de redação do Congresso em Foco, Edson Sardinha.