Alguns analistas políticos têm comparado o cenário demonstrado pelas últimas pesquisas de intenção de voto com o cenário final da corrida eleitoral de 2014, quando Aécio Neves, do PSDB, começou a se aproximar de Dilma Rousseff, do PT, que disputava a reeleição.
De acordo com as pesquisas que foram divulgadas esta semana, Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, oscila entre 54% e 53% dos votos válidos, enquanto Jair Bolsonaro, do PL, que agora é quem tenta a reeleição, fica entre 46% e 47%. As pesquisas têm demonstrado uma tendência lenta de queda de Lula e uma tendência igualmente lenta de aproximação de Bolsonaro.
Em 2014, pesquisa Datafolha que foi divulgada no dia 25 de outubro daquele ano mostrava Dilma com 52% e Aécio com 48%. Agora, a pesquisa do dia 25 de outubro seria a pesquisa da semana que vem. Se continuar a tendência que se verifica de Lula caindo um ponto e Bolsonaro subindo um, a próxima Datafolha poderá dar algo em torno exatamente de 52% a 48%. Ao final daquela eleição, Dilma venceu com 51,64%, e Aécio Neves teve 48,36%.
Assim, há todo um cenário que pode indicar um final apertado, com todos os problemas de um final apertado. Em primeiro lugar, há algo que pode ser uma diferença importante. Em 2014, quem era a presidente que disputava a reeleição era Dilma. Agora, quem disputa a reeleição é quem está em segundo. Se isso pode ou não definir maior velocidade a essa recuperação, será preciso ver nos próximos dias. Mas, na cadeira do terceiro andar do Palácio do Planalto, é Bolsonaro quem tem ferramentas que Aécio em 2014 não tinha.
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Em 2014, a história total da eleição, é claro, foi totalmente outra. Após o acidente aéreo que vitimou Eduardo Campos, que era o candidato do PSB, o movimento que as pesquisas detectavam perto do final do primeiro turno indicava uma ascensão de Marina Silva, que era então a sua candidata a vice. Ocupando o lugar que era de Eduardo Campos, ela é quem parecia ir para o segundo turno com Dilma. Aécio ultrapassou Marina ao final do primeiro turno e foi aí construindo a sua ascensão. Agora, temos uma eleição que há mais de um ano mostra a disputa dividida somente entre Lula e Bolsonaro, com vantagem para Lula.
Mas, se a partir do ponto atual, sobre o qual os analistas têm visto semelhanças, o cenário se repetir, outras semelhanças poderão acontecer. A primeira é a diferença pequena. A segundo é Bolsonaro aparecer à frente de Lula em boa parte da apuração, como aconteceu com Aécio em relação a Dilma em 2014. E como já aconteceu no primeiro turno. Aécio, como agora Bolsonaro, tinham votação melhor no Sul e no Sudeste, onde a apuração costuma ser mais rápida. E Dilma, como Lula, tinha mais votos no Nordeste, onde a apuração costuma ser a última a ser finalizada.
Em 2014, essa situação foi o fermento que fez crescer o bolo da desconfiança com o sistema de votação brasileiro. Aécio fez um questionamento do resultado que é o início desse processo de dúvida sobre as urnas eletrônicas que Bolsonaro usa. E usa conforme a sua conveniência. Se o resultado do primeiro turno mostrou um desempenho dele melhor do que mostravam as pesquisas, se elegeu um Congresso que Bolsonaro elogia agora no seu programa eleitoral, transfira-se a desconfiança do sistema eleitoral para as pesquisas (sem, é claro, lembrar que o instituto que mais errou foi um que dizia que ele ia ganhar no primeiro turno e que continua agora sendo o único a colocá-lo na frente de Lula). Se, ao final, porém, forem as urnas a contrariar Bolsonaro, retoma-se o discurso anterior.
Afinal, Bolsonaro faz disputa política como se estivesse numa guerra. E, como diz aquela velha máxima, “na guerra a primeira vítima é a verdade”.