Existe no ar uma sensação de melhora na economia. A taxa de desemprego vem caindo e retomando níveis pré-pandemia. A inflação medida pelo IPCA tem caído nas últimas semanas, assim como o preço dos combustíveis na bomba para motoristas de carros e veículos de carga. Apesar desse alívio, ainda há muito o que temer, independentemente do governo que estiver no Planalto em janeiro de 2023.
Nos últimos dois anos, foram aprovadas medidas que aumentam gastos públicos para atender a grupos de interesse e garantir a reeleição, cujos efeitos negativos serão sentidos a partir do próximo ano. Em artigo para o Brazil Journal, Marcos Lisboa e Marcos Mendes listaram pouco mais de 25 políticas que não geram crescimento e que saem caras aos cofres públicos. A melhor medida que ilustra a maneira displicente com que a política vem tratando o orçamento foi a aprovação da PEC Kamikaze (EC 123/22), que mascarou diversos benefícios por trás do aumento de R$ 200 no Auxilio Brasil para reduzir a pobreza, entre eles: auxílio para taxistas e caminhoneiros, transferências aos estados e municípios para subsidiar o transporte coletivo e desonerações para o setor de etanol. Na prática, poderia se ajudar quem mais precisa utilizando menos recursos do que foi aprovado na PEC.
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Para acomodar esses gastos, foram aprovadas diversas medidas que “flexibilizam” o teto de gastos, prejudicando o propósito que originou o teto, justamente o de dar previsibilidade no crescimento da dívida pública. Sem essa âncora fiscal, a sociedade tem menos segurança de que o Estado será capaz de honrar suas dívidas, o que consequentemente aumenta a pressão sobre a taxa de juros – tornando cada vez mais difícil o trabalho do Banco Central de controlar a inflação.
E falando em inflação: após o IPCA acumulado em 12 meses atingir o patamar mais alto desde outubro de 2003, temos tido redução no índice nos últimos meses e consequentemente redução na expectativa de inflação para o final deste ano e para 2023. Entretanto, como apontou André Braz para a revista Conjuntura Econômica da FGV, parte desse resultado se deve a medidas eleitoreiras a partir de desonerações que não são sustentáveis. Assim, com o aumento do Auxilio Brasil e outros programas e o petróleo voltando a ficar mais caro, é difícil que a tendência de queda nos preços se mantenha sem forte intervenção do Banco Central. Vale lembrar que os grupos de mais baixa renda sofrem mais com a alta inflação do que aqueles com renda maior.
Neste ano, tivemos a recuperação do emprego em vários setores da economia que são intensivos em mão de obra aos níveis do pré-Covid. Mas em 2019, o emprego ainda não havia se recuperado da crise da Nova Matriz Econômica (14-16), apresentando índices relevantes de subocupação, como apontou Fernando de Holanda Barbosa Filho, também da revista da FGV. Além disso, o desemprego de longa duração (dois anos ou mais de busca por trabalho) atingiu cerca de um terço do total de desempregados no final do primeiro semestre de 2022. Este tipo de desemprego é o mais difícil de superar, pois o trabalhador está há bastante tempo afastado do mercado de trabalho e, em geral, requer atualização de conhecimento e práticas. Logo, para a retomada do emprego é necessário que o próximo governo seja capaz de sanear as contas públicas e de promover reformas que aumentem a produtividade das empresas para que possam contratar mais pessoas, sem esquecer de políticas de requalificação da população para integrar a economia.
Ao fim deste panorama fica mais claro que o alívio econômico que se sentiu nas últimas semanas será passageiro e de certa forma foi ilusório. O Brasil possui uma classe política que nas vésperas das eleições abre a torneira sem pesar as consequências. O presidente que assumir em 2023, terá uma árdua tarefa se quiser fazer um bom governo: liderar um Congresso forte e voluntarioso a passar reformas e reduzir a dívida pública, para assim, conseguir entregar um crescimento consistente, emprego e melhorias nas condições de vida dos mais pobres.
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