Seja qual for o presidente eleito pela maioria dos brasileiros no próximo domingo, uma coisa é certa: os desafios econômicos e sociais do país terão de ser enfrentados com parceria e criatividade, o que faz da negociação política, dentro do ambiente democrático, o único caminho possível.
Mais ainda: o novo mandatário só terá sucesso se entender sua responsabilidade de liderar um amplo processo de concertação nacional, ciente de que, sozinho, nem ele nem seu grupo político conseguirão dar ao país os rumos do desenvolvimento econômico e do bem-estar social.
Ciente de que, por mais verdadeira que seja sua crença no seu projeto político, e por mais legitimado que esteja pelo voto popular, nada sairá do papel sem um trabalho intenso de convencimento, sob o risco de tornar vazio todo o discurso de campanha.
E ciente de que, por mais polarizada e extremada que tenha sido campanha eleitoral, ele será o presidente de todos os brasileiros, ainda que parte deles esteja ferida por ver seu candidato derrotado, ou por ver eleito aquele que contraria seus princípios e suas opiniões.
E para que este movimento em direção ao diálogo tome forma, nada melhor do que ambos, Bolsonaro e Haddad, continuar fazendo o que já vêm fazendo: trabalhar intensamente com as redes sociais.
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Considerando que qualquer abuso deva ser tratado como crime, mas sem entrar no mérito da recente denúncia de manipulação por meio de aplicativos de mensagens pessoais, é possível considerar que esta eleição, mais do que em qualquer outra da história, inaugurou o mais direto canal de comunicação com o eleitor, e sem possibilidade de volta.
PublicidadeO processo de diálogo requer muita humildade, mas também serenidade, habilidade e paciência. A missão é converter divergências em consensos, formar maiorias em nome de um projeto de Nação, em nome de um mesmo propósito, e não por meio do “toma-lá, dá-cá” que, de tão antigo, abrangente e poderoso, apodreceu praticamente todas as instituições republicanas.
O objetivo é oferecer oportunidade para combater um desamparo social que continua sendo notícia e que estará bem debaixo do nariz de qualquer um dos eleitos. A meta é garantir um ambiente de negócios, no mercado financeiro ou no comércio, no atacado ou no varejo, em que a comunidade consumidora seja tratada com prioridade, sem privilégios, mas também sem achaques, de forma que não haja beneficiamento extremo ao empresário, mas por outro lado garantindo um terreno de confiança num sistema econômico com isonomia e, ao mesmo tempo, humanidade.
O próximo presidente brasileiro precisará ter em mente, desde o resultado do pleito, que o tão almejado poder não significa “mando”, mas sim “liderança”.
É o que acontece na iniciativa privada. Hoje em dia já não há espaço para aquele CEO apegado a receitas antigas de comando e controle. O sucesso de qualquer organização está cada vez mais associado a um novo conceito de liderança em que a ordem dá lugar ao diálogo, em que a vontade única dá lugar à criatividade coletiva, em que a verdade absoluta dá lugar ao aprendizado de todos – inclusive do líder –, em que a falha de um é compensada pelo esforço do outro – gerando um movimento permanente de ebulição mental capaz de superar qualquer contratempo, qualquer dificuldade, qualquer desafio, e de construir de forma conjunta e compartilhada soluções negociadas, articuladas e executadas com planejamento e esmero para que as metas e objetivos sejam plenamente atingidos ou, até mesmo, superados.
Parece impossível, mas não é. Basta boa vontade e perseverança. Está claro que a unanimidade está longe de ser alcançada, mas é igualmente nítida a necessidade de se colocar o país num grande divã conciliador. Nem tanto ao céu, nem tanto à terra. Nem sim, nem não, mas talvez. Nem para um lado, nem para o outro: o que o Brasil precisa é caminhar para frente, ir adiante, com altivez e soberania, mas também respeito e solidariedade.
Qualquer sinal em direção contrária ao diálogo franco, aberto e democrático poderá ser legitimamente considerada uma traição irreparável do eleito para com o eleitor. Afinal, se esta campanha eleitoral tem sido permeada de acusações mútuas de flerte ou até vínculo efetivo com regimes autoritários, pode-se concluir que nenhum dos lados admitiria a hipótese, de tanto que a condena.
O entendimento deve ser estimulado em nome de um amplo apoio político e social e em torno de sugestões para mitigar os dramas mais urgentes vividos pela população, reorganizar a combalida economia do país e avançar na garantia de direitos. É isso o que interessa a todo o eleitor com o mais elementar bom senso.
Cabe a todos nós nos reconhecermos pertencentes ao mesmo país e trabalharmos para que o futuro seja sempre melhor que o presente. A realidade está diante dos olhos de todos nós. E a história não perdoará o despreparo.